Nocaute

Não Me Deixe Só

Não me deixe só by Vanessa da Mata

—

Rosamaria POV

"Caralho, mas não faz sentido nenhum ele escalar a Júlia ao invés de você!" Eu exclamei.

Tínhamos acabado de voltar de uma reunião de vídeo onde Zé compartilhou sua lista de titulares pra semifinal, Carol não tinha sido nem escalada, mesmo depois de uma atuação impecável nas quartas. Não a culpo de estar chateada e segurando o choro na minha frente. Roberta também estava no quarto e observava calada, talvez o maior motivo que Carol não queria chorar.

"Não sei o que ele tá planejando." Ela deixou um soluço sair e enxugou o canto do olho. Eu me sentei na cama ao seu lado e ela tombou em cima de mim. Eu olhei pra Roberta que se levantou na hora.

"Vou ali pegar um doce, alguém quer?" Ela nem esperou por uma resposta e já saiu do quarto.

"Eu nunca devia ter insistido por essa olimpíada, dá pra ver que ele me chamou por pena." Sua voz foi afinando até o fim da frase, dando início ao seu choro.

"Para de falar isso, Carol, você merece sua vaga, você jogou demais essa temporada e jogou muito aqui quando teve oportunidade." Acariciei seu cabelo solto. "Eu entendo que você tá insegura, mas você já passou por coisa pior." Afastei seu rosto pra que eu pudesse olhá-la. "Você tá aqui! Você conseguiu chegar até aqui!"

"Eu tô aqui pra quê? Se eu não posso nem ficar no banco." Ela fungou. "Ele me escalou pra dois jogos, Rosamaria! Dois! Qual o sentido da Júlia, que foi a última convocada, ser titular no meu lugar?"

"Isso é problema pro Zé. Você tem que lembrar que você se machucou, não é só sobre uma disputa entre você e Júlia."

"Eu já estava boa quando chegamos na vila." Me olhou como se eu estivesse inventando assunto.

"Ok, Carol, mas pra você se machucar de novo é rapidinho, ainda mais você que tem os ombros todos fudidos. Se coloca no lugar dele, tenta pensar em como ele pensou." Mexi minha mão no ar tentando racionalizar a decisão do treinador.

"Você acabou de dizer que não faz sentido nenhum a Júlia entrar no meu lugar."

"E realmente não faz, pelo jogo ótimo que você fez ontem e porque é semifinal de Olimpíadas, ter experiência é sempre uma vantagem." Cocei a cabeça quando percebi que me contradisse. Ela suspirou e voltou a deitar a cabeça no meu ombro. Ficamos algum tempo sem silêncio enquanto eu acariciava seus cabelos.

"Se a gente perder esse jogo sem eu nem poder ajudar... eu vou ficar tão puta!" Ela exclamou levantando a cabeça e saindo de triste pra raivosa em segundos.

"Não vai acontecer." Sequei sua lágrimas delicadamente. "Olha pra mim." Ela o fez. "Não fica assim, meu bem, você sempre soube que isso era uma possibilidade de acontecer. Você tá fazendo tudo certo, deixa ele fazer a parte dele." Ela assentiu de novo tombando pra cima do meu corpo pedindo abraço. "Odeio te ver mal assim, Carol, te ver chorar me parte o coração." Confessei a abraçando apertado enquanto ela ainda fungava no meu pescoço. Acho que minha frase fez ela se emocionar mais, seu corpo tremeu quando seu choro aumentou e ela começou a derramar lágrimas no meu uniforme. Comecei a acariciar suas costas pra cima e pra baixo, pra tentar acalmar. Ela envolveu seus braços na minha cintura e me apertou firme, mais firme que o normal.

"Desculpa." Pediu em um sussurro, eu neguei com a cabeça, ela não precisava me pedir desculpas. "Eu não sei o que eu vou fazer sem você." Eu gelei. Não respondi, apenas continuei acariciando suas costas e dando beijos em seus cabelos.

Me assustava também sequer pensar em ficar longe dela, nós tínhamos reconstruído nossa amizade e nossa parceria de uma maneira tão linda dessa vez. Eu precisava dela o tanto quanto ela precisava de mim, era incrível como vibrávamos na mesma sintonia. Quando eu estava mal, mesmo que inconsistente, eu tendia a me apoiar nela por conforto, mesmo que eu sempre repetisse que não gostava que ela me visse frágil, era ela que eu queria ao meu lado nos piores momentos. Da mesma forma que ela, com todas suas dificuldades, escolheu se abrir pra mim. Não conseguia nos imaginar separadas nunca mais.