Egoísmo em comum.

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Capítulo 4: Annabeth.

Percy se acomodou na poltrona à minha frente, colocando o cotovelo no apoio e encostando a bochecha no punho fechado. Sua expressão era puramente curiosa, me analisando com aqueles olhos verdes profundos, mas ele não me intimidava. Eu nunca me intimidava por ninguém.

Mas eu devia admitir que havia algo de curioso nele. Sempre há algo a mais nos voluntários. Alguma motivação, sede de sangue. No caso de Percy, uma garota. Uma garota pela qual ele estava disposto a morrer.

A única pessoa pela qual eu entraria nos Jogos era o meu irmão, se fosse possível. Porque eu o amava, e não conseguia me ver vivendo sem ele.

Mas Malcolm conseguiria continuar vivendo sem mim?

Por isso penso que a decisão de Percy em relação a garota foi egoísta, mas não posso julgá-lo por ser impulsivo num momento tão curto quanto a Colheita. Ele é corajoso por ter pensado em se voluntariar, tão corajoso que chega a ser estúpido.

E por isso ele é interessante. Não é qualquer pessoa que resolve dar a vida por uma causa ou motivação. Não é qualquer pessoa que entra num jogo sabendo que, para que as coisas saiam da forma que deseja no final, é preciso morrer.

Talvez Percy Jackson e eu tenhamos o egoísmo em comum.

Apoiei o tablet no joelho, me inclinando um pouco para frente de modo que as costas não tocassem o estofado da poltrona.

—Porque eu deveria te chamar de Percy? —sou direta, e a pergunta parece surpreendê-lo.

Suas sobrancelhas se unem ao mesmo tempo que um sorriso ameaça surgir. Isso nele me desagrada logo de cara, porque me faz pensar que Percy não dá a mínima para quem eu sou ou o real motivo de estarmos ali. Apesar de termos a mesma idade, não sou uma das garotas da escola com quem ele pode flertar.

Porque o sorriso do Jackson e as palavras que diz em seguida me fazem pensar que é exatamente isso que ele está fazendo.

—Garotas bonitas me chamando pelo nome me deixam nervoso.

Desviei o olhar ao rolar os olhos para o teto.

—Sério? —meu tom era puro sarcasmo. —Eu deveria me desculpar?

Percy ainda está sorrindo quando volto a encará-lo, os olhos verdes agora brilhando com diversão. Ele não parecia tão solto assim mais cedo no Edifício da Justiça, na verdade, parecia mais enigmático. Agora ele só demonstra ser um garoto comum e irritante como qualquer outro. Sem complexidade e sem camadas.

—Eu não gosto de Perseu. —deu de ombros.

—Algum motivo específico?

—Nada que eu esteja com vontade de falar.

—Porque?

—Você é insistente demais, Chase.

Não gostei da forma como ele disse meu nome, mas preferi ignorar para não acabar mais irritada do que eu já estava. Sem contar que discutindo coisas inúteis estaríamos desperdiçando o pouco tempo que eu tinha para cumprir o meu objetivo naquele Jogos Vorazes. Eu deveria orientar Percy Jackson para que ele obtivesse sucesso na arena, não brigar com ele por se recusar a responder minhas perguntas.

—Tudo bem, não precisa responder. —me encostei novamente na poltrona. —Porque escolheu os Jogos Vorazes? —experimentei essa nova pergunta, vendo qualquer resquício de sorriso sumir do rosto dele. —Qual a sua causa?

Percy finalmente desviou o olhar, respirando fundo e também se permitindo afundar na cadeira.

—Rachel e eu não somos namorados, como você já deve ter pensado. —a informação não me surpreendeu tanto, por mais que eu e Luke estivéssemos bem convictos de que os dois fossem um casal. O fato de Percy aparentemente ter tentado flertar comigo deve ter contribuído para isso. —A gente cresceu junto, ela é como uma irmã pra mim. Eu não ia deixar ela sozinha nessa, por mais que agora ela esteja me odiando por ter feito isso.

Sacrifice Games - (percabeth)Onde histórias criam vida. Descubra agora