15 | conflitos

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Não sei exatamente como vim parar num hospital depois da festa, mas sei que estamos todos metidos em problemas

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Não sei exatamente como vim parar num hospital depois da festa, mas sei que estamos todos metidos em problemas. Escuto a sirene da polícia lá fora e os gritos dos meus amigos e do grupinho de Stella misturando-se aqui dentro, na sala de espera, e tento organizar meus pensamentos e os últimos acontecimentos antes de chegarmos a esse ponto. A única coisa que eu sei é que foi tudo culpa minha.

Transei com Stella, causei um surto psicopático em Raquel e agora todos estão em conflito.

Observo as amigas de Stella defenderem ela e atacarem Raquel com palavras grosseiras e os piores xingamentos já inventados, enquanto o irmão de Marta e Liam se metem entre elas e tentam separa-las. Nicoli e Helena também debatem com Raquel, dizendo que não tinha necessidade de empurrar a garota da escada. Minha namorada e Marta só tentam se defender, ambas argumentando que não planejaram que chegasse aquele ponto.

Sou a única que está sentada, porque não sei se consigo me levantar sem cair. Sinto que estou num pesadelo. Minha cabeça gira e o chão não parece real. O álcool ainda circula no meu sangue e parece que vai demorar muito para me abandonar.

Mas, verdadeiramente, só consigo pensar em Stella.

A ambulância não demorou muito para chegar, mas ela permaneceu desacordada até os médicos a levarem para uma sala de exames, e aí nós a perdemos de vista. Acho que faz uma hora. Uma enfermeira veio aqui há dez minutos, dizendo que ela Stella só está desmaiada pela batida forte na cabeça, mas que não houveram danos graves que comprometam sua vida. O único problema é o seu pé, que provavelmente está quebrado. Os médicos precisam esperar ela acordar para mexer nele — ou algum de seus responsáveis chegarem, porque as gêmeas já ligaram para a mãe dela.

— Onde a minha filha está? — falando na mãe dela...

— Você é a mãe dela? — um médico que saiu do além pergunta. Estou muito bêbada para conseguir acompanhar.

— Sim, eu sou.

— Me acompanhe.

A mãe de Stella passa direto por nós, não se importando em perguntar nada. Não sei se ela sabe que a filha foi empurrada.

Penso na minha mãe e na polícia que está do lado de fora. Em pouco tempo ela vai chegar aqui, porque já foi acionada. Ela está na noite de folga, e eu estraguei seu descaso. Também não sei o que vai ser de mim e dos meus amigos, porque a polícia já está ciente que o que houve com Stella foi proposital, e os vizinhos de Liam foram rápidos em aciona-los quando perceberam que tinha muita gente caindo fora da casa dele ao mesmo tempo, formando um tumulto pequeno.

Liam provavelmente é o mais ferrado, deduzo.

— Ai, droga. Sua mãe chegou, Summer — é a voz de Helena que preenche o ambiente, se sobressaindo aos gritos. De repente, todos ficam em silêncio, com uma tensão paupável no ar.

Raquel deixou o medo transparecer em seu olhar pela primeira vez na noite, me observando por debaixo dos óculos.

— Que cheiro de álcool terrível, Summer — minha mãe diz, se aproximando com uma postura inabalável. Ela está fardada e armada, intimidando todos que estão presentes. — Bom, nós precisamos esperar a Stella acordar e a mãe dela nos procurar. Não saiam da Austrália.

Foi só o que ela disse antes de me puxar pelo braço. Se não fosse pela força física dela e da minha, eu tenho certeza que cairia, ainda afetada pelo álcool.

Minha mãe me arrastou sem muita paciência até a sua viatura, mas o grito de Raquel chamando pelo meu nome me impediu de entrar nela.

— Ei, espera — ela pediu, se aproximando de mim. Minha mãe suspirou e disse que esperaria dentro da viatura.

— O que você quer, Raquel?

Não sei o que estou sentindo por Raquel nesse momento. Não sei se estou com raiva, decepcionada ou se devo considerar justo seu surto de raiva. Minutos antes eu estava a traindo, afinal.

— Quero que você olhe no fundo dos meus olhos e me diga que não me traiu, e que eu empurrei Stella atoa. Quero que me diga que não faria isso comigo. — pediu, limpando uma lágrima solitária que escapou.

Senti meu coração se apertando e o ar demorando demais a alcançar meus pulmões. Eu sei que amanhã, quando acordar e não estiver mais de ressaca, vou me arrepender amargamente das minhas atitudes de hoje.

O mais sensato é contar a verdade. Raquel merece isso, e eu não mereço ela. Mas não consigo quebrar o coração dela assim, tão de perto.

— Raquel...— suspirei, de repente sentindo vontade de socar alguma coisa. As coisas só tomaram esse rumo por minha causa hoje, eu tenho certeza. — Eu não te trai, e nem se tivesse traído você deveria ter empurrado ela. A única merecedora da sua fúria seria eu.

— Eu vou me desculpar com a Stella.

Jesus, não.

— Mas isso não é o suficiente — falei rápido demais, me sentindo terrivelmente mais culpada. Porque sou eu quem está ditando as regras? — Precisamos ter mais confiança nesse relacionamento, acima de qualquer outra coisa.

Ela suspirou, passando as mãos pelo cabelo de forma impaciente.

— Eu nunca pensei que ficaria tão insegura em um relacionamento, Summer. O seu passado desperta o pior de mim.

Dessa vez, sou eu quem suspira. Sinceramente, depois dessa noite eu estou exausta de tantas mentiras e de precisar sustenta-las. Raquel é a única pessoa que não merece estar no meio do meu caos com Stella.

— Vai pra casa, Raquel. Quando eu acordar a gente conversa melhor. — respondi, porque não há mais nada a ser feito por ora. Preciso de notícia sobre o estado de Stella primeiro, afinal, a polícia está envolvida e eu ainda preciso conversar com a minha mãe.

Raquel assentiu e se afastou em passos lentos, mas não observei ela por muito tempo antes de entrar na viatura e encarar os olhos furiosos da minha mãe.

A Garota DelaWhere stories live. Discover now