Capítulo Vinte e Dois

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JUNGKOOK

DEZ ANOS ATRÁS

Outro prato quebrado. Mais um grito emitido pelo meu pai.

Estou no corredor da minha casa enquanto ele discute com a esposa pela milésima vez no dia. Jane já deve ter esgotado o número de utensílios quebrados da prataria. Todo dia é um diferente.

Curiosamente, agora, apesar de todo o escândalo, o assunto é outro. De manhã, acordei com Glen gritando por eu ter arranhado seu carro, sendo que foi ele quem fez isso, embora nunca seja o responsável. Velho arrogante.

Depois, comecou a gritar com a minha mãe, e eu pedi para ele parar. O resultado foram os dois gritando comigo por eu me intrometer em assuntos que não me desrespeitam.

Neste momento, meu pai está surtando porque eu disse que a carreira no futebol não é mais o meu plano A. Desde a minha conversa com Rose na festa do Taehyung, futebol não tem sido a minha primeira opção. Isso sempre foi coisa do homem que está no cômodo ao lado, gritando ao invés de ter uma conversa civilizada.

— Ele precisa tomar um rumo na vida!

— É o que ele está fazendo, Glen. Você preparou esse garoto para fazer o que você não pôde quando era jovem e agora está revoltado porque ele finalmente está decidido a andar com as próprias pernas. Acho que você precisa de tratamento, porque nunca conheci alguém tão bipolar!

Eu poderia imaginar o rosto vermelho do meu pai depois do que escutou. Além disso, era possível ver a fumaça de raiva passando pelos ares.

— Você não tem o direito de falar nada sobre ele e essa decisão ridícula!

— Ele é meu filho, também!

— Não, não é! Aquele moleque é filho de uma mulher qualquer, de uma noite qualquer que eu sempre vou me arrepender de ter vivido.

Dito essas doces e agradáveis palavras, saiu da cozinha e caminhou até a porta da frente da nossa casa. Quando abriu, me notou encostado na divisória do corredor. Olhou para mim por um tempo, respirando fundo e tentando se acalmar.

Parecia que queria dizer alguma coisa que, surpreendentemente, não viria em formato de explosão. No entanto, ele só suspirou, abriu a porta e saiu.

Jane estava ajoelhada pegando os cacos do prato quebrado quando adentrei a cozinha. Fui até ela para ajudá-la, mas ela levantou a mão, pedindo que eu me afastasse.

— Estou tentando ajudar.

— Ajudaria se você não o irritasse de propósito. – Ela fungou e sussurrou: — Que merda eu fiz na minha vida passada para vir experimentar um inferno na terra?

É injusto meu pai descontar toda sua frustração na esposa, principalmente quando me envolve, mas estou surpreso por ela ter tomado um partido nessa discussão. Geralmente, ela não se importa.

Não se importa comigo, com as minhas decisões ou futuro. Jane é a típica madrasta que não se interessa pela vida do enteado e não há como culpá-la por isso. Eu não sou sua responsabilidade. Nunca fui.

Acho que é por isso que, apesar de brigarem constantemente, ela e meu pai ainda estão juntos – eles se completam. Um se importa em um nível excessivo e a outra não se preocupa com nada demasiadamente.

Já eu, bem, só quero sair daqui. Não para ir a festa, mas sair desta casa, desta cidade, desta vida. Vivo bem, não posso reclamar, nunca me faltou nada. Mas eu preciso viver para mim a partir de agora. Formar a minha estabilidade financeira e voltar a cada dez anos, para honrar a maneira como meus pais gritam e discutem a cada dez minutos.

BoyFriend | RosekookOnde histórias criam vida. Descubra agora