Capítulo 2: a chegada do cavaleiro

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A longa viagem, quando feita com outro alguém, acaba por tornar aquela pessoa a única família que se tem, por isso, depois de passarem meses juntas, aquelas duas mulheres já se conheciam tanto que pareciam ser familiares com convivência de anos. Uma, usando um longo vestido azul, mexia no panelão de ferro, algo que deveria ser comestível, enquanto a outra, trajando roupas masculinas, pegava ervas no chão.

O tempo passava agradavelmente entre as duas, que de uma forma inusitada se davam tão bem quanto mãe e filha. Todavia, aquilo estava para mudar, não somente pelo fim da viagem, bem como pelo que estava por acontecer.

O acampamento com sua tenda montada, ficava próximo da encosta de um morro, logo após uma pequena vila que perceberam a grande influência de oficiais dragões e por isso resolveram se afastar.

Mesmo que a floresta tivesse mosquitos, percevejos, aranhas, cobras e seres não humanos, como sátiros que de hora em hora tentavam passar cantadas nelas, preferiram ficar ali, pois não queria levantar suspeitas dos dragões. As novas leis imperiais dracônicas eram demasiadas firmes com andarilhos.

A que arrancava as ervas medicinais do solo, fazia com tanta precisão que até surpreendia a outra. No entanto, em um estranho movimento, ela parou. Virou sua cabeça loira na direção da colega e colocou o indicador sob a boca pedindo silêncio.

Como resposta, a que mexia na refeição sendo cozida, correu para o varal improvisado e começou a recolher as roupas, deixando a jovem loira irritada.

— O que você tá fazendo? — Gritou em forma de sussurro a loira.

— Guardando a roupa. — Respondeu também em um sussurro só com o movimento dos lábios.

— Deixa isso! Deixa!

No entanto, ela não parou. A mulher ruiva, que tinha problema de memória e em alguns dias não conseguia nem se lembrar quem era ou onde estava, pensava ser certo recolher as roupas em uma situação de perigo. Por isso, a colega teve que se aproximar e intervir.

Pegou as roupas da mão da outra e as jogou no chão.

— Lise, vai se esconder! Para de recolher roupa! — Falou cochichando.

— Mas Aurora, o que a gente vai fazer se ficarmos sem roupa? Se roubarem nossas roupas?

— Deixa disso, ninguém vai querer essas coisas feias que a gente usa.

Com um aceno de cabeça, Lise finalmente parecia entender o que era para fazer, e foi para a tenda, ficando lá. A outra, pegou sua adaga e agachou-se em posição de ataque, olhando na direção que o suspeito som vinha.

A sombra de alguém aparecia levemente entre as folhagens, e ela logo percebeu, pelo som e vibração do andar, que se tratava de alguém treinado, provavelmente um cavaleiro. Fincou a adaga na terra dizendo:

— Sem, venha.

Uma negra fuligem saiu do chão e a envolveu. Em seu corpo, formou-se uma armadura completamente negra onde nenhuma luz consegue penetrar. O corpo e braço, eram cobertos por espinhos, que apesar de pequenos como os de uma rosa, podiam emaranhar na pele e rasgar no caso de ataque. Na cabeça, um elmo fechado com espaço somente para a abertura dos olhos. Este possuía dois chifres semelhantes ao de um carneiro.

Com a armadura completa, se levantou, e sua presença fez todos se calarem. O homem que espreitava o acampamento, sentiu um calafrio percorrer sua espinha, vindo do pé até o último cabelo da cabeça. Mesmo assim não recuou, pelo contrário, a posição de ataque foi um convite para sua entrada.

Tudo ocorreu antes que uma folha de cajueiro atingisse o solo. Ele saiu das sombras com um largo passo, vindo com sua espada empunhada. A lâmina vermelha chocou-se na braçadeira da armadura negra, fazendo sair faísca. A jovem caiu no chão assustada pela tamanha força.

A princesa e o dragão - A última guerra - Terceiro LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora