Perseu acordou atordoado. Sentiu uma dor em seu peito como se tivesse acabado de perder algo importante. Parecia que seu coração era esfaqueado, e ele teve que se sentar e ficar em silêncio, tentando respirar normalmente. Mas ainda assim o desconforto permaneceu, e ele resolveu sair da tenda em que estava para caminhar um pouco.
Esticou as pernas e se preparou para ir onde elas quisessem. Era noite ainda, e fazia 5 dias que estavam acampando ali, perto da floresta dos elfos. Aurora tinha cedido um pouco a Ellonis, que mentiu dizendo que precisava ver sua esposa, e por isso estavam perto daquele estranho reino verde que Dáfne havia construído. Mal sabia ela que o elfo nem casado era.
Pelo menos o ar ali era mais limpo e tranquilo. Perseu podia ouvir o canto de ninfas que gostavam de rir e contar mentiras para as crianças dos vilarejos próximos. Já tinha se decidido por dar um mergulho no riacho próximo quando notou alguém sentado sobre uma pedra mais à frente. Se aproximou da figura. Era Aurora.
— Também não consegue dormir?
— Não... eu senti uma coisa estranha. Aqui.— Disse enquanto apontava para o meio do seu peito.
— Eu também senti isso... — Perseu sentou-se ao lado dela.
A ideia da caminhada tinha ficado para segundo plano no instante em que a viu ali.
— Como tá o lance das vozes?
— Tá melhor... eu ainda escuto a maioria dos seres que eram conectados com Dáfine, mas agora eu consigo deixar eles mais em silêncio, se eu tento prestar atenção em algo.
— Entendi... parece difícil.
— Não muito... e você, como tá se sentindo?
— Eu to normal.
— Será que o elixir era só uma mentira?
— Não sei. — Perseu respondeu sincero, mas depois de ver o desânimo no rosto da garota, mudou de ideia e continuou falando. — Na verdade eu acho que me sinto melhor. Até agora não senti nenhuma crise, e eu to dormindo muito bem!
Aurora o encarou por alguns instantes e depois soltou um longo suspiro.
— Não precisa fingir... eu sei que aquilo que você tomou pode nem ser o elixir...mas sei lá, eu queria acreditar que aquilo era real.
— Calma, calma, não precisa ficar assim. Talvez seja algo que faz efeito com o tempo.
O dragão tentou ficar tranquilo ao lado dela, mas via em sua expressão que algo estava errado. Na verdade, ela estava estranha desde que tinham saído daquela igreja. Parecia estar pensando o tempo todo em algo. De início, Perseu e Lise suspeitaram que fosse devido à partida de Sem, mas com o tempo, perceberam ter algo mais.
Contudo devia ser algum assunto delicado, porque Aurora tinha costume de contar tudo aos quatro ventos, fosse algo bom ou ruim. Aquilo de ficar carrancuda e calada era algo novo. Por isso, antes de perguntar qualquer coisa, o rapaz pensou nas palavras certas, não naquelas que tinha costume de usar, e que às vezes o traíram, fazendo-o parecer irritado. Pensou nas palavras que poderiam responder aquele mistério.
— Então, o que tem de errado contigo? Porque tá sempre emburrada, de uns tempos pra cá? — Parece que mesmo se esforçando, ainda assim sua língua o traía a todo tempo.
— Como assim? Não tem nada de errado comigo.
— Mas desde a igreja eu te vejo mais desanimada.
Aurora se encolheu segurando seus joelhos contra o corpo.
— O que você diria se eu fosse uma bruxa?
A frase caiu entre os dois como uma bomba, e Perseu deixou tudo transparece em seu rosto, que em uma reação involuntária, se contorceu em desgosto.
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A princesa e o dragão - A última guerra - Terceiro Livro
Historical FictionApós ter encontrado e resgatado sua mãe, Aurora, agora buscando o remédio capaz de ajudar Perseu, descobre desafios criados pelo novo governo draconiano. Agora ela vai descobrir que para unir sua família, ela precisará não só encontrar paz, como tam...