Capítulo 14: caminhos incertos

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O céu era um misto de cores quando abriu os olhos. Manchas azuis, vermelhas em uma bruma acima de sua cabeça, eram enfeites que transmitiam uma mensagem obscura. Seu corpo se movia lentamente no ritmo contínuo de uma andar calmo, acompanhado pelo som de cascos batendo nas pedras. A paisagem quase não mudava ao seu redor, mas o céu indicava que algo estava mudando.

Olhou para cima e viu algo preto voando pouco acima de sua cabeça. Era fino como papel, e flutuava em diferentes direções com um sinuoso trajeto. Depois, mais alguns pontos pretos surgiram no céu e, assim como o primeiro que vira, flutuavam sem direção alguma, às vezes sendo levados por uma brisa mais forte.

Sentou-se no feno que pinicava o corpo todo, e tentou compreender o que via.

- Senhor! Meu senhor! O que é isso que caí do céu? - Perguntou o rapaz sentado no feno.

O velho de barba grisalha e costas curvas olhou de relance o rapaz sem soltar a guia do cavalo. Não queria perder o controle da carroça que acabara de comprar, e por isso se concentrava na estrada pedregosa pela qual passavam. Mas ao ver aquele arredondados olhos implorantes, do menino que encontrou semi morto na beira da estrada, não pode não responder:

- É fuligem. Viaja pelos céus. - Disse rapidamente voltando a atenção para a estrada.

- Fuligem? Mas não vejo fogueira nenhuma por perto.

Soltou um pigarro no chão e preparou a voz, para que essa alcançasse o menino mesmo com o som da carroça nos pedregulhos.

- Sim, mas a fuligem viaja pelo vento. E quando tem bastante, como vemos agora, é porque é coisa maior, coisa muito maior. Uma fogueira só não faz toda essa fuligem.

O menino ouviu o senhor e deitou-se novamente no feno que era transportado pela carroça. Não sabia exatamente o que aquelas palavras significavam, mas sentiu um aperto no peito ao ver o céu se enchendo cada vez mais daquela escuridão que vinha voando. Parecia que a noite estava engolindo o dia.

Suas suspeitas se confirmaram quando alcançaram um vilarejo próximo, onde o som do terror se instalou. Ergueu-se de súbito, e sem avisar o senhor da carroça, saltou carregando consigo sua mochila improvisada com panos. Correu na direção da fumaça sem hesitar segundo algum.

- Calebeeee! - Gritou o velho preocupado com a criança.

Mas ele não olhou para trás e seguiu, indo diretamente onde o caos se instalava, viu logo a causa de tudo. Pessoas gritavam e corriam, casas em chamas, homens açoitando mulheres e roubando crianças. Levou um susto ao ver aquele quadro que parecia uma representação do inferno, e deixou seus pertences caírem no chão chamuscado.

No entanto, um grito de socorro o acordou, e Calebe, que fora desde de sua mais tenra infância criado para ser um guerreiro e governante, moveu-se para o som daquela voz. Desembainhou sua adaga, cortou um pedaço de sua blusa amarrando em sua face. Entrou correndo na casa em chamas de onde o grito vinha, e viu uma mãe tentando chamar uma criança que se escondia debaixo da mesa.

A criança estava paralisada de medo, enquanto seu lar ruia acima de sua cabeça. O calor queimava seus pulmões, e sua mãe gritava para que ela viesse, enquanto ainda segurava seu outro filho, ainda muito bebê e já desacordado. Calebe, era tão criança quanto a menina paralisada, mas assim que a mãe o viu, agarrou-se nele como sua última esperança:

- Minha filha! Minha filha! Ela não me ouve! Salve ela! - As mãos tremiam e se agarravam com força em suas roupas.

- Espera lá fora, aqui está muita fumaça!

A mulher não saiu, e Calebe foi até a menina. A julgar pelo tamanho, ela tinha a mesma idade que ele, mas em sua atitude, ele era muito mais velho. Assim que a alcançou, ela desmaiou, e ele a carregou no colo. Quando alcançou a mãe, esta abraçou a menina, e logo os três foram em direção à saída da casa. contornando o fogo que se alastrava mais e mais.

A princesa e o dragão - A última guerra - Terceiro LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora