Os tecidos coloridos com diversas formas geométricas, brilhavam sob luz transmitida pelo móbile improvisado com pedaços de vidro. Olhos atentos e sagazes, procuravam o movimento repetido daquele objeto translúcido pendurado no teto. O silêncio quase absoluto, era cortado pelos pequenos insetos que apareciam aqui e ali para picar a pele e torná-la vermelha causando incômodo.
Tudo era pacífico.
Até que ouviu-se um estrondoso som vindo do céu. O movimento rápido de pessoas alvoroçadas com suas roupas de tecido leve esvoaçante, encheu a visão antes cansada pela monotonia. O menino que estava deitado na tenda olhando o móbile, levantou-se num salto apressado indo em direção ao movimento das pessoas.
Seus cabelos ruivos combinavam com sua roupa vermelha e olhos castanhos, em uma imagem uniforme e bela que era boa de se olhar. Suas pernas finas passaram rapidamente entre a multidão chegando ao centro onde o som que vinha dos céus era ainda mais alto. Empurrou o pequeno corpo, amassando-se entre os outros, até sem querer esbarrar em um senhor que trajava uma veste longa e branca com um turbante na cabeça.
Os olhos cansados do senhor, eram encobertos pela sua barba que por horas, devido a súbita ventania, batia em seu rosto como um chicote. Mesmo assim, ele não perdia sua elegância. Os lábios enrugados em forma de sorriso, se abriram ao ver a criança, e abraçá-la trazendo-a para perto de si.
— Calebe, ele voltou.
A voz rouca e cansada, alegou aquilo com firme certeza, e foi acompanhada de sua cabeça sendo voltada para cima, para onde vinha o som do céu. Todos olhavam para cima. As tendas daquela tribo nômade, quase se desfazia com as rajadas de vento que desciam, mas mesmo assim todos estavam ali, olhando para cima.
Calebe também olhou e viu exatamente o que esperava.
Suas pequenas mãos agarraram com forma na bainha de sua calça, deixando os dedos vermelhos de tanta força. A mão idosa sob o seu ombro, em um gesto amigo, segurava o leve corpo preso ao chão, impedindo que caísse ao sentir a força se esvaindo.
A enorme figura nos céus, descia vagarosamente mais e mais se aproximando do solo. Seu bater de asas levantou a poeira do chão, desmontou penteados, arrancou varais e vegetação. A multidão ajoelhou-se procurando manter-se no lugar frente a força do vento. Exceto o senhor e o menino cuja postura mantiveram firme.
Quando a figura pousou, a poeira levantada não permitia ninguém ver nada. Alguns taparam os olhos procurando não se ferirem com as pedras que voaram com a ventania, e por isso, a primeira coisa que anunciou aquela chegada foi um alto grito de águia.
Todos ficaram imóveis tentando olhar o animal. Soltando-se das mãos amigas de seu avô, o menino foi para o centro. Os curtos passos permeados da nervosa respiração, atravessaram a poeira.
— Calebe?
A voz conhecida disse em tom de dúvida, e gerou uma certeza na criança, que correu para a sombra encontrando ali seu pai. O homem descia do grande animal de montaria, e assim que viu o filho, pegou-o no colo em um longo abraço.
— Estéffano meu filho, você voltou. — Disse o senhor se aproximando.
De face cansada e olheiras, o homem estendeu a mão ao pai em forma de cumprimento, enquanto no outro braço segurava o filho, que agarrava-se ao pescoço. O senhor pegou a mão estendida, porém a puxou trazendo-o para outro abraço, onde os três homens restantes daquela linhagem se reuniram.
As três gerações se encontravam ali. No entanto, rápido e sagaz como era, o senhor logo abriu os olhos acinzentados vendo que outras duas pessoas desciam de seu fiel amigo Hipogrifo. Duas mulheres.
![](https://img.wattpad.com/cover/352381363-288-k866088.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
A princesa e o dragão - A última guerra - Terceiro Livro
Historical FictionApós ter encontrado e resgatado sua mãe, Aurora, agora buscando o remédio capaz de ajudar Perseu, descobre desafios criados pelo novo governo draconiano. Agora ela vai descobrir que para unir sua família, ela precisará não só encontrar paz, como tam...