O sol da manhã lançou um brilho laranja radiante no quarto de Sarah, iluminando o ambiente. Ela estava acordada há quase uma hora, testemunhando a transformação gradual do quarto antes escuro em um reino de luz. Os tons suaves de laranja lembraram Sarah de sua missão anterior no México, onde ela e sua equipe procuraram refúgio sob uma cabana improvisada na praia. No entanto, Sarah sentiu-se atraída pela visão encantadora do oceano emergindo sob os brilhantes raios dourados, passando pouco tempo dentro do abrigo.
Enquanto sua mente vagava, as ondas rítmicas que chegavam à praia ressoavam dentro dela, sincronizando-se com a batida calma de seu coração. Sarah inalou profundamente o frescor do novo dia. A luz da manhã e o sono reparador da noite anterior permearam seu ser, acalmando seus músculos cansados e revitalizando seu espírito.
Naquele momento, Sarah se sentiu mais viva do que nunca, seu olhar mudando do quarto para a pessoa que lhe trazia tanta serenidade. Tally estava deitada ao lado dela, aconchegada no travesseiro com um braço e uma perna sobre Sarah. Os dois permaneceram nus depois de tomarem banho, e a exaustão emocional e física das últimas 48 horas os levou a desabar na cama de Sarah. Enquanto o sono tomava conta de suas mentes, Sarah abraçou Tally.
Observando a chegada do amanhecer, a atenção de Sarah se concentrou no rosto de Tally, imóvel e tranquilo à luz da manhã, lembrando uma bela fotografia antiga impregnada de nostalgia. Isso contrastava fortemente com a série de emoções que Tally havia demonstrado na noite anterior: medo, dor, adoração, determinação, admiração, hesitação e amor. O semblante de Tally lembrava um caleidoscópio, cativando Sarah e deixando-a sem fôlego a cada nova expressão.
Com ternura hesitante, Sarah passou a ponta dos dedos pela cicatriz rosada na bochecha de Tally. A cicatriz evocou duas emoções intensas dentro dela. Um deles era o orgulho: um sentimento de admiração pela força e capacidade de Tally de se defender contra seus inimigos, e pela lealdade inabalável de Tally, mesmo diante da destruição iminente. A outra emoção que tomou conta de Sarah foi o medo — um medo nascido de suas próprias experiências pessoais. Foi o medo da perda, a dor agonizante que isso trouxe.
Esse medo lembrou Sarah de sua infância antes de ingressar no exército. Ela amava todas as bruxas sob seu comando, valorizando sua devoção, sacrifícios e poder como um mentor ou uma mãe observando seus filhos crescerem. No entanto, o amor que sentia por Tally Craven era diferente. Foi um amor que ela nunca pensou que experimentaria novamente – um amor que lhe foi impiedosamente arrancado no passado.
As lembranças de mergulhar em um rio para libertar o corpo sem vida de seu pai dos pesos amarrados por caçadores de bruxas, descobrir sua mãe e sua irmã acorrentadas, seus corpos queimados irreconhecíveis, e retornar para encontrar seu clã, sua família, queimados na pira... tudo isso ressurgiu. Sarah amava sua família e seu clã de todo o coração e, ao colocá-los para descansar, enterrou sua capacidade de amar verdadeiramente ao lado deles. Ela jurou a si mesma que nunca mais se exporia a uma dor tão insuportável.
Por mais de 300 anos, ela manteve essa promessa. Então, uma bruxa de 20 anos, cheia de juventude e vitalidade, se sacrificou por Sarah. Isso pegou Sarah completamente desprevenida. Após o sacrifício de Tally, uma conexão, um vínculo se formou entre eles, entrelaçando sua magia tão intimamente que Sarah não conseguia mais distinguir onde ela começava e Tally terminava. Eles eram inseparáveis, inteiros.
Esse amor – o mesmo amor que ela enterrou com sua família e clã – retornou com uma força avassaladora que deixou o coração e a alma de Sarah de joelhos. Sarah Alder, a bruxa que desafiou a rendição, que se recusou a se curvar aos homens mortais, encontrou-se ajoelhada no altar de Tally Craven, amando-a com uma devoção semelhante à oração – uma oração que carecia de palavras, mas era sentida profundamente dentro de Sarah. Criou raízes em seu coração, espalhando-se por todo o seu ser até que cada canto de sua alma foi iluminado pela luz divina de Tally Craven. A simples ideia de perder essa luz, de perder a própria Tally, era insuportável para Sarah. Ela duvidava que sobreviveria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Soulbound
FanfictionNo segundo em que Sarah Alder fez de Tally Craven uma biddie, algo muito além da conexão padrão de biddie se manifestou.