Tempestade e Onda

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Sarah sentou-se à mesa, o silêncio se instalando como um cobertor pesado depois que as portas se fecharam atrás do Alto Comando. Os passos deles ecoaram pela sala fria e estéril, deixando-a sozinha com seus pensamentos. Minutos se passaram, mas o peso da conversa deles ainda pressionava seus ombros. A vigilância estava oficialmente em Silver agora, caçando qualquer coisa que pudesse ligá-lo à Camarilla.

Se ele fosse Camarilla… Sarah não conseguia acreditar. Ela queria, mas algo dentro dela resistia.

O vice-presidente dos Estados Unidos, um homem em quem ela confiava — até mesmo lutava por — estava ativamente tentando desmantelar as bruxas. Ela pressionou os dedos nas têmporas, massageando a tensão que vinha crescendo desde o briefing. Depois de tudo que ela havia sacrificado por elas, depois de séculos de bruxas morrendo nas sombras, derramando sangue em guerras que elas não começaram, lutando batalhas das quais elas não se beneficiaram — era assim que terminava?

Traição, vinda do mais alto cargo.

Seus dedos deslizaram até seu pulso, onde ela ainda podia sentir o peso fantasmagórico das algemas. Estava tudo em sua cabeça, ela sabia, mas a sensação era tão real que lhe causou um arrepio na espinha. Os Acordos — aquelas malditas palavras que ela havia assinado para proteger seu povo. A magia que a acorrentou e a todas as bruxas ao governo dos EUA por quase 300 anos, prendendo-as em serviço. Aquele feitiço de amarração há muito tempo havia afundado profundamente em seus ossos, tornando-se parte dela.

Mas agora... pela primeira vez, parecia que estava rangendo, como se o ferro estivesse enferrujando, enfraquecendo sob a pressão.

Ela deveria estar furiosa. A raiva deveria estar borbulhando dentro dela, ameaçando estourar pelas rachaduras em seu exterior calmo. Mas não veio. Em vez disso, tudo o que ela sentiu foi uma calma estranha e inquietante, e por baixo disso, algo mais perigoso.

Ter esperança.

Sarah suspirou, fechando os olhos enquanto se recostava na cadeira.

A esperança sempre foi a mais perigosa das emoções, uma espada de dois gumes afiada o suficiente para cortar até as correntes mais grossas, mas capaz de ferir tão profundamente quanto. Ela havia aprendido isso há muito tempo. Foi a esperança que a levou a confiar no governo em primeiro lugar, a acreditar que os Acordos ofereceriam proteção em vez de escravidão. E agora, séculos depois, a esperança estava rastejando de volta em seu coração, sem ser convidada e indesejada.

Seus dedos distraidamente traçaram as algemas invisíveis em seu pulso novamente. Ela não tinha certeza se esse era o começo do fim delas, mas se a traição de Silver significava uma coisa, era que as rachaduras já estavam lá. E se as algemas quebrassem — se as bruxas estivessem finalmente livres...

De repente, outro conjunto de dedos roçou seu pulso, familiar e terno. O toque a assustou a princípio, embora ela tenha reconhecido o peso, a pressão, a sensação instantaneamente. Aqueles dedos — ela os conhecia tão bem quanto os seus, a maneira como dançavam sobre sua pele com uma graça e segurança que a aterravam. Eles traçaram ao longo de seu pulso, espelhando sua própria mão, como duas figuras entrelaçadas em uma valsa eterna.

Mais esperança surgiu dentro dela, mas dessa vez, não era apenas o tipo afiado e perigoso que ameaçava desvendar tudo. Não, essa esperança era diferente. Era mais suave, mais profunda, envolta em um amor tão poderoso que parecia vir da medula dos seus ossos, da sua própria alma.

Craven.

Seu coração inchou ao pensar nela, preenchendo os espaços vazios deixados pela dúvida e pelo cansaço. Esperança para si mesma — para que as bruxas se libertassem dos Acordos — era uma coisa. Sarah queria que seu povo fosse livre, que trilhasse seu próprio caminho, que estivesse a salvo das correntes que os prendiam por tanto tempo. Mas mais do que tudo, mais do que qualquer desejo ou sonho pessoal que ela ousou nutrir, ela queria isso para Tally.

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