Quinta-feira, 1 de setembro

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(Jimin)

Qual é o segredo do café? É a bebida perfeita. Me aquece o corpo e a alma. E me deixa insanamente feliz. Nem o sino barulhento me aborrece nessa manhã.Decidi fazer as pazes com ele, pois sei que não pode ser evitado nem há possibilidade de diálogo. Tentei um empurrão médio na porta só para ter certeza.Ainda soou alto pra caramba.É cedo e Romero me cumprimenta como sempre.

— Bom dia, Jimin — diz ele enquanto entro no final da fila curta.

Enquanto estou esperando, o cara que estava trabalhando na terça sai da sala dos fundos. E continua impressionante de se olhar. Ele ainda não me viu, mas observo-o enquanto passa o avental pela cabeça e amarra-o desajeitado, nas costas.

Ele parece mais velho do que eu, mas acho que também é aluno, considerando que trabalha aqui. É de altura mediana, magro e esguio, mas parece forte à beça, dá para ver os contornos dos músculos no tríceps e nos ombros, além de despretensiosamente confiante. É uma confiança que suponho ter raízes profundas,mas que o deixa na mão com regularidade. Eu também apostaria que ninguém repara quando oscila, porque ele é muito bom em encobrir essa vulnerabilidade com uma personalidade simpática. E não é simpática de forma exagerada, na cara.É sutil. O tipo de simpatia que atrai você e, antes que você perceba, já comprou a passagem, entrou no ônibus e percorreu quilômetros de uma viagem agradável antes de questionar aonde estava indo mesmo.

Por sorte, essa viagem vem com uma vista espetacular. O cabelo dele é desgrenhado, como se ele tivesse acabado de sair da cama, e castanho tão escuro que é quase preto, assim como a barba por fazer. E, ah, meu Deus, o rosto. É um rosto de bebê que você sabe que o safaria até de um assassinato. Não que seja inocente, é só um rosto que tenho certeza que torna impossível que alguém diga não para ele. Deixando tudo isso de lado, o mais impressionante são os olhos. São azul-claros, quase como água-marinha, o fato de serem emoldurados por cílios grossos, longos e pretos que os fazem parecer tão intensos e profundos que você sente que seria capaz de cair dentro deles. De um modo geral, ele é ridiculamente lindo.

Ele cumprimenta Romero com um “bom dia, Rome” grave e simpático e se vira para atender a pessoa seguinte da fila, que, por mera culpa do acaso, sou eu.

Silenciosamente, solto um “obrigado, Deus”, o homem de pé na minha frente é um exemplar estonteante. Excelente trabalho”. E encaro aqueles olhos tão azuis.Um lado da boca dele sobe em um sorriso torto.

— Ah, o expatriada retorna. — De perto, os olhos são ainda mais brilhantes do que me lembro e cintilam. Ele poderia ser um problema e tanto para mim. Que bom que só estou olhando.

Sorrio em resposta porque não consigo evitar.

— Expatriada?

— É, você não é daqui, sem dúvida nenhuma.

Romero olha para nós enquanto prepara espuma de leite na máquina de expresso.

— Jimin é da Califórnia. — O nome sai como se fossem cinco sílabas separadas de novo: CA LI FÓR NI A.

— Ah, da Califórnia. Eu estava certo, você não é daqui. — O Deus do Café olha de mim para Romero e para mim de novo antes de voltar a olhar para ele. — Jimin? Vocês já estão íntimos assim? Me dá uma ajuda aqui, Rome, que tal me apresentar,cara?

Romero ri, e seus ombros balançam.

— Jeon Jungkook, esse é Park Jimin. Park Jimin, esse é Jeon Jungkook. —Ele olha para Jungkook. — E ele gosta de café preto.

Jeon sorri.

— Eu me lembro disso, Rome. Ele é do clube. — Ele volta a atenção para mim e estica a mão. — É um prazer conhecer você oficialmente, Jimin.

Eu aperto a mão dele. É quente e as pontas dos dedos são calejadas onde tocam as costas da minha mão. O aperto é forte, mas estranhamente gentil, convidativo,até. Não quero soltar, mas solto.

— É um prazer conhecer você também, Jungkook. E é só Jimin.

Ele dá seu sorriso torto e assente.

— Grande, marca da casa, preto?

— É. Hoje não é dia de quebrar tradições… — Minha mente divaga para o mocha macchiato indutor de êxtase de SeokJin. — … nem de testar teorias. — Já estou com calor só de ficar ali, olhando para Jeon Jungkook.

As sobrancelhas dele se erguem em uma pergunta enquanto ele coloca a tampa no meu copo de café e o entrega para mim.

— Testar teorias?

Balanço a cabeça e entrego o dinheiro.

— Não é nada. — Mordo o lábio inferior para tentar segurar o sorriso que quer tanto surgir.

O sorriso torto volta ao rosto dele, como se pudesse ler meus pensamentos.

— Me avise se eu puder ajudar com os testes de alguma teoria. — Ele coloca os cotovelos no balcão e se inclina, olhando nos meus olhos, e baixa a voz.

— Posso ser extremamente prestativo.— Ele empurra meu troco pelo balcão. Meus batimentos aumentam até virarem uma batucada louca no peito. Espero não demostrar quando coloco as moedas no pote das gorjetas. Deus, parece que ele sabe que há uma espécie de referência sexual escondida, mas talvez flerte assim com todos os garotos e garotas. Eu levanto meu copo para ele e dou um sorriso.

— Aposto que pode, Jeon Jungkook. Aposto que pode. Tenha um dia incrível.

Ele não tira os olhos de mim. Nem pisca.

— Incrível mesmo. Você também, Jimin.

Minhas entranhas ainda estão vibrando quando saio. Puta merda, é ruim entrar inocentemente numa loja para comprar um copo de café e sair imaginando o cara atrás do balcão pelado? E como é na cama? Eu respiro fundo. Até deixei que me chamasse de Jimin.

Caramba.

Raio de Sol (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora