Terça-feira, 1 de novembro e Quartafeira, 2 de novembro

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(Jimin)

Estou tomando ibuprofeno regularmente nos últimos dias. Estou quase no fim do frasco, então paro no mercado em frente ao Grounds a caminho de casa depois de sair da floricultura.

Quando eu o vejo, ele está tão pálido e encolhido que quase não o reconheço.Paro no meio do caminho, em guerra comigo mesmo. Não vejo Jungkook  desde sábado à noite, e esse encontro casual não é como eu planejava vê-lo. Não sou um estrategista quando o assunto é interação. Costumo improvisar, mas queria dar a ele mais do que uns poucos dias para esfriar a cabeça. Por dois segundos, meu lado egoísta e preservador grita: “Dê meia-volta e vá embora antes que ele veja você!” Mas meu lado compassivo sufoca isso com um contra-argumento calmo: “Mas ele parece péssimo.” Isso vem seguido de um pedido: “Ajude-o.” A compaixão sempre vence a autopreservação.

—Jungkook. Ei, está precisando de ajuda?

Se eu dei um susto nele, ele não demonstra. Virar a cabeça na minha direção exige mais esforço do que deveria. Os olhos estão vermelhos e com manchas de um tom roxo perturbador. O cabelo está úmido nas raízes e grudado na cabeça. Ele parece não ver um chuveiro há semanas, mas sei que só tem alguns dias, no máximo. Ele está doente.Ele olha para mim com uma expressão vazia. Não sei se falar exigiria muita energia ou se ele não quer.Toco na testa dele com as costas da mão. Ele se encosta na minha mão. A testa está quente e molhada de suor. Febres sempre me assustaram. Quando Hyuna tinha febre, eu não conseguia dormir. Ficava sentado na cama ao lado dela. Ela sempre queria que eu segurasse a mão dela.

Tento mascarar meu medo e sussurro:

— Jungkook, por que você não está na cama? Você está ardendo.

Ele está mais do que exausto. Estou me perguntando como encontrou forças para atravessar a rua.

Olho as prateleiras na frente dele.

— Do que você precisa, querido?

Ele dá de ombros. Está delirante de febre.Eu ofereço a mão, e ele passa o braço pelo meu ombro. Ele está pesado,desamparado. Levo-o até o banco no final do corredor, ao lado da janela do farmacêutico, onde o coloco encostado na parede. Falo com o farmacêutico e pego o que ele recomenda, junto com meu ibuprofeno, duas latas de canja de galinha, uma lata de sopa de tomate e uma garrafa de suco de laranja.Depois que pago, volto até Jungkook e atravessamos a rua com dificuldade até o apartamento dele. Ele não faz nada quando chegamos à porta, então reviro os bolsos dele em busca de uma chave.Ele cai no colchão com um peso perturbador. Depois de dar os remédios a ele, o passo seguinte é esfriá-lo. Permito-me dez segundos para avaliar as opções. No final, decido fazer o que sempre deu certo com Hyuna. Ele está tão distante que a vergonha é a última coisa com que me preocupo, então nem hesito em tirar toda a roupa dele até deixá-lo de cueca.Uma doença assim me deixa nervoso. O tipo de nervosismo que faz você desejar se afastar da situação, mas não pode. Não pode. Não porque se sentiria culpado, mas porque às vezes as pessoas simplesmente precisam de você.Consigo me espremer ao lado dele na cama de solteiro. Não tem cabeceira,então me sento encostado na parede. Seguro a mão dele porque me faz sentir melhor e acaricio o cabelo molhado para longe da testa. E cantarolo baixinho. É um hábito nervoso que me mantém acordado. Quando a pele dele esfria, eu relaxo. Antes de perceber, eu adormeço.

Acordo e demoro alguns segundos para me ajustar à escuridão. O relógio na cômoda de jungkook diz 0h17. Meu pescoço está doendo. Eu adormeci sentado. A cabeça dele está apoiada nas minhas coxas e um braço está por cima das minhas pernas, me segurando. Prendo a respiração e faço um apelo para o homem lá de cima enquanto verifico delicadamente a testa dele com o toque mais leve do mundo.A pele está seca e fria. Sopro o ar e olho para o teto. “Valeu, cara.”Minha bexiga está gritando. Minha barriga está roncando. Meu corpo está me matando.

Raio de Sol (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora