Sábado, 19 de novembro

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(Jungkook)

O jeito como eles estão me olhando faz com que eu me sinta pequeno e inconsequente. Parece que a decepção comigo chegou a um ápice, e eu ainda nem abri a boca. Na última vez que pedi um tempo assim com eles foi quando contei que Lily estava grávida. Acho que abri um precedente para dar o que eles consideram más notícias e é isso que estão esperando receber agora.

Eu olho para a palma da minha mão, onde vejo a caligrafia de Jimin: Você é corajoso. Ele escreveu com caneta hidrográfica pela manhã, antes de levar Stella ao parque. Eu repito o mantra na minha cabeça. Você é corajoso. Limpo a garganta.

— Eu decidi mudar meu curso e me formar em outra coisa.

Minha mãe fica de pé. Rápido assim. Uma frase e ela já está protestando como se estivesse no tribunal. Que comece a crucificação.

— Você não vai fazer isso. Não vai jogar fora anos de estudo.

Meu pai apoia a mão no antebraço dela. Ele está pedindo que se sente sem falar diretamente com ela. Ele sempre foi o passivo yin para o yang agressivo dela. Mais uma vez, eles estão sentados do outro lado da mesa, na minha frente, como um front unido. Emocionalmente distantes, mas unidos. Algumas coisas nunca mudam.

Meu pai preenche o silêncio.

— Quais são seus planos, Jungkook?

Não quero ver a decepção, mas olho para ele mesmo assim.

— Quero dar aulas de inglês no ensino médio.

Minha mãe está de pé de novo, andando para longe da mesa. Os saltos estalando no piso de madeira são um equivalente de unhas sendo arrastadas em um quadro negro.

— Ah, pelo amor de Deus, Jungkook, como você pode sequer pensar em sustentar Stella com um salário de professor? — Ela consegue fazer a palavra professor parecer um palavrão.

— As pessoas fazem isso. O objetivo não é ficar rico. Stella e eu vamos ficar bem.

Ela descarta o que eu falei com irritação e se vira momentaneamente antes de falar de novo.

— Isso não é um jogo, Jungkook. Você tem uma filha para criar. Achei que você quisesse estudar para ser advogado…

Eu a interrompo.

— Você queria que eu estudasse para seguir seus passos. Nunca foi por minha causa, por causa do que eu quero.

Ela balança a cabeça.

— Depois de tudo que fizemos por você, é assim que você nos retribui?Inacreditável.

— E eu, mãe? Quero uma carreira que eu ame, uma coisa pela qual seja apaixonado. Quero voltar do trabalho para casa e sentir que fiz diferença na vida de alguém.

Ela aponta um dedo acusatório com a unha bem-feita e pintada para mim.

— Você acha que eu não faço diferença, Jungkook?

Nunca vou vencer com essa mulher.

— Jesus, não é uma competição. — Suspiro. — Seu emprego não é mais importante do que o meu, mais importante do que o dele. — Eu aponto na direção do meu pai. Ele está muito quieto. — A questão aqui é o que me faz feliz. A mim. Seu filho.

— Você vai perder sua bolsa. — Ela parece ter certeza, e me pergunto quantas cordinhas puxou no passado para conseguir a que eu tenho agora.

Eu nem pisco. Não posso demonstrar medo. Eu olho para a palma da mão. Você é corajoso.

— É uma possibilidade.

Ela bufa com arrogância.

— Possibilidade? Possibilidade? É uma certeza, Jungkook.

— Vou me candidatar a empréstimos estudantis.

Ela dá uma gargalhada fria, como se um empréstimo estivesse abaixo da família Jeon.

Meu pai finalmente fala.

— E Stella, Jungkook? Você já considerou como essa decisão vai afetar o futuro dela?

Corajoso, corajoso, corajoso.

— Vou levar Stella para Grant comigo. Assim que as provas finais acabarem…

Minha mãe dá um pulo na direção da mesa.

— O quê?! Stella não sai desta casa enquanto você não tiver terminado seus estudos.

Eu respondo com um pulo também e nós nos encaramos por cima da mesa.

— Ela é minha filha.

— Melanie não vai se mudar para Grant e cuidar de Stella. — Ela acha que me pegou.

— Vou conversar com Melanie e avisar que os serviços dela não vão ser mais necessários depois de dezenove de dezembro. Estou planejando buscar Stella e os pertences dela depois das provas finais. É quando Namjoon vai sair do nosso apartamento para morar com a namorada.

Ela está fumegando de raiva.

— Como é que você poderia cuidar de uma criança? Visitar a cada dois finais de semana é bem diferente de 24 horas por dia, sete dias por semana.

— Eu vou dar um jeito.

Minha mãe olha para meu pai e balança a cabeça de forma desafiadora.

— Você ouviu isso? Ele vai dar um jeito. — Ela levanta as mãos no ar. —Maravilhoso. Ele vai dar um jeito.

Meu pai está me olhando, e, pela primeira vez na vida, vejo solidariedade nos olhos dele. Por um segundo, penso que vai ficar do meu lado. Que pela primeira vez vai enfrentar minha mãe.

Mas, conforme o silêncio se estende, minha esperança morre.Não posso mais ficar aqui. Sinto-me encurralado, como se não conseguisse respirar. Sei que minha mãe vai ver minha retirada como uma derrota admitida. Vai ver como vitória.

Mas não desta vez. Desta vez, eu vou vencer.

Raio de Sol (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora