Raio de Sol (Jikook)

Quinta-feira, 10 de novembro

(Jimin)

Evitei ir ao Grounds essa semana porque sabia que ver Jungkook me deixaria arrasado. Decidi que colocar um pouco de distância entre nós era a melhor opção.Depois da viagem a Chicago e do beijo, não consigo mais negar os sentimentos que tenho por ele. Mas o fato de que ele pode sentir a mesma coisa? Isso me preocupa por muitos motivos.

Número um: não sou uma pessoa egoísta. Nunca fui e não quero começar a ser.Ficar com ele seria totalmente egoísta.

Número dois: culpa. A culpa seria um resultado direto do número um. E culpa é algo muito próximo de arrependimento. Não quero arrependimento nenhum.

Isso leva ao número três: confiança. Jungkook  acertou na mosca. Ele foi certeiro.Confiança e meu coração estão ligados. Se eu confiar em alguém, isso quer dizer que deixei a pessoa entrar no meu coração. O pináculo da confiança, a confiança que nunca dei a ninguém, é a mais assustadora: amor verdadeiro. Tem a ver com toda aquela história de contos de fadas. E cada vez que eu me permito escorregar e imaginar meu próprio conto de fadas, sempre envolve confiar meu coração a Jungkook.

E ultimamente isso parece certo, caloroso e reconfortante. O que leva minha mente a voltar na mesma hora ao número um. Eu não sou egoísta. Esse é o ciclo que me afasta da busca por qualquer coisa além de amizade com Jungkook, mas a amizade é o motivo de não poder cortá-lo da minha vida completamente. Quero a amizade dele. Faz com que eu me sinta feliz, até eufórico.É como uma droga. E tudo em mim fica melhor com ela. É por isso que decido ir até o Grounds. Além disso, estou morrendo de vontade de tomar um bom café.Meu corpo pode acabar falhando completamente sem café.E meu corpo, isso é outra coisa...

Ele está muito infeliz comigo ultimamente. Seu mero funcionamento normal se tornou uma luta. A dor ficou tão intensa que doses de ibuprofeno não fazem mais efeito nenhum. É uma dor impiedosa e constante. Ela me esmaga, como se estivesse me comprimindo de dentro para fora. Faz com que eu fique acordado  à noite. Até conseguiu um jeito de alterar minha aparência. Perdi alguns quilos.Consigo perceber porque minhas calças jeans estão mais frouxas do que o habitual.Também dá para perceber no meu rosto. Minha pele está pálida e tenho olheiras escuras. Eu sabia que chegaria a esse ponto, então, contrariado, marquei uma consulta para amanhã à tarde com o dr. Connell. Não vou lá desde minha primeira consulta no final de agosto. Tenho certeza de que ele não está feliz, pois queria me ver todos os meses. Ligam do consultório em intervalos de semanas. Eu ignoro as ligações. Sei que é imaturidade, mas é meu jeito de lidar com isso e ando me saindo muito bem com ibuprofeno e sono a mais quando consigo.

Quando chego ao Grounds, Jungkook está atrás do balcão. O cumprimento não é o simpático e tranquilo, ao qual estou acostumado.

— Oi. — Isso é tudo que recebo. Eu entendo. Entendo perfeitamente.Tento sorrir, mas é difícil demais. Não sei fingir muito bem; ao menos, é o que yoon diz. Minto muito mal. Sou bom em omitir informações, mas mentir na cara de pau? Sou péssimo.

— Oi — respondo.

Ele me serve um café grande e entrega para mim em silêncio. Entrego meu valepresente de aniversário como pagamento. Ele completa a transação sem dizer nada.Ainda não me olhou nos olhos.

Não tem mais ninguém, mas sussurro mesmo assim.

— Escute, me desculpe. Não queria magoar você.

— Tarde demais. — O tom dele é ríspido. Um segundo depois, ele balança a cabeça baixa. — Eu fui grosso. Me desculpe. — É nessa hora que ele olha nos meus olhos. A mágoa desaparece no susto e se transforma em preocupação.

— O que houve? Você está doente, Jimin?

Jungkook não me viu durante a semana, então deve estar mais óbvio para ele do que para alguém que me vê todos os dias.

— Estou. — Parte de mim quer deixar tudo às claras. — Tenho consulta com meu médico amanhã à tarde.

A postura dele está rígida. Ele parece não saber o que fazer. Eu adoraria um abraço agora, mas não faz parte da minha natureza pedir consolo ou apoio, então eu levanto o copo.

— Tenha uma boa quinta, cara. Diga para Stella que mandei um oi para ela e para a Miss Higgins.

Ele assente.

— Pode deixar. — Ele parece preocupado. — Depois me conte como foi a consulta.