Quarta-feira, 31 de agosto

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(Jimin)

Passei as duas últimas horas no quarto de Seokjin e de Pete. Conversamos na primeira hora, quando SeokJin sugeriu:

— Vamos jogar ferir de morte, transar ou firmar união civil.

Olho para Pete para ver se ele entendeu, mas ele está tão confuso quanto eu.

Mas, de repente, entendo.

— Cara, eu não vou jogar matar, trepar ou casar.

SeokJin parece atônito por eu ter dito “não” para ele.

— Soa tão ofensivo quando você fala assim. Por que não vai jogar? Eu reviro os olhos.

— Não brinco disso desde os quinze anos.

Peter ainda está confuso.

— O que é matar, tre… — Ele nem consegue dizer a palavra. Não há dúvida de que nunca brincou disso.

Agora estou sorrindo, porque a inocência de Pete é adorável.

— Seokjin. — Desvio o olhar para os olhos ansiosos dele. — John, nosso supervisor do alojamento, Hector, o cara que trabalha no refeitório, e Sugar, minha colega de quarto.

O sorriso dele some.

— Pelo amor de Deus, Jiminie, essas opções são horrendas.

Dou um sorriso e provoco.

— Foi você quem quis brincar. E Hector não é horrendo. É superlegal.

— Como você sabe que ele é legal?

— Falo com ele todas as noites quando levo os pratos sujos para a cozinha do refeitório.

— O que vocês fazem não é falar. É uma mistura triste de espanglês e mímica.

— Ele está me ensinando espanhol. Eu estou ensinando inglês para ele — digo

em minha defesa.

Ele dá um sorrisinho debochado.

— O que ele ensinou para você?

Dou uma gargalhada, porque sei que ele me pegou. O inglês de Hector é extremamente limitado, e o que fazemos é mais mímica do que uma conversa verbal, mas nós nos esforçamos. Estufo o peito.

— Eu sei “Mi nombre es Jimin” e “Como estas” e “gato”. E “A mi no me gustan las zanahorias”, o que quer dizer que cenoura tem gosto de merda.

Pete parece duvidar.

— Ele ensinou você a dizer “Cenoura tem gosto de… bosta”?

Balanço a mão,descartando o que ele disse.

— Deve ser “não gosto de cenoura”, mas prefiro “cenoura tem gosto de merda”. Porque tem mesmo. — Olho para Seokjin, que está se mexendo com desconforto. — Voltemos ao jogo, Jin: John, mi amigo Hector e Sugar. Manda ver.

Pete ainda não entendeu. SeokJin suspira.

— Ferir de morte tem que ser Sugar, porque não dá pra fazer nenhuma das duas outras coisas com ela. — Ele faz uma pausa. — Os outros dois estão me deixando enjoado.

— Decide, cara.

Ele cobre os olhos, e vejo Pete entender a brincadeira. Suas bochechas estão no tom exato de quem está morrendo de vergonha. Seokjin diz:

— Eu transo com John porque ele é cruel demais para eu ter que passar o resto da vida com ele, e a união civil é com Hector, apesar de eu não falar uma palavra de espanhol e da rede de cabelo, da calça jeans larga e desbotada e dos tênis brancos e grandalhões dele serem atrozes. — Ele não consegue falar as palavras rápido o bastante e cruza os braços sobre o peito em um gesto de mau humor. — Não quero mais brincar.

Eu bato palmas e gargalho diante da expressão de nojo no rosto dele.

— Essa foi clássica, Seokjin. — Pete não parece nem um pouco à vontade,como se tivesse medo de ser o próximo, então mudo a direção. — Tudo bem, outro jogo.

Invento um jogo novo em que uma pessoa faz uma pergunta e temos que contornar um círculo imaginário e responder. Descobri que Pete nasceu no Texas,mas passou a infância em Omaha, Nebraska. A comida favorita dele é bife mal passado com alho e cogumelos, o brinquedo favorito de infância era um microscópio (isso é brinquedo?) e ele prefere que cortem o dedinho do pé dele com uma tesoura de podar árvores a atravessar o campus pelado. E o livro favorito de Seokjin é O senhor dos anéis, e ele detesta cachorros, principalmente os pequenos.

Ele participava de competições de patinação artística quando criança (eu pagaria para ver isso) e não teria problema em andar pelado pelo campus para não perder um dedo do pé, desde que pudesse usar meias vermelhas sete oitavos e os coturnos pretos até os joelhos (tenho que admitir que é algo que eu gostaria de ver).

Depois que Pete foi dormir, uma hora atrás, Seokjin e eu fizemos o trabalho da faculdade, mas agora meus olhos não querem mais ficar abertos.Fecho o livro de história europeia e sussurro:

— Seokjin, você sabe fazer um garoto se divertir, mas acho que é melhor eu ir.Estou acabado.

— Tudo bem, querido. É melhor que eu durma meu sono da beleza também.

Jogo a bolsa no ombro.

— Boa noite, Seokjin.

— Boa noite, Jiminie. — Ele joga um beijo de onde está, sentado com as pernas cruzadas no chão.

Eu jogo um beijo e atravesso o corredor. Reparo na fita vermelha amarrada na maçaneta, mas infelizmente isso não desperta um alerta na minha cabeça sonolenta até ser tarde demais.

Tudo acontece tão rápido que só vejo um emaranhado de pernas e nádegas nuas.

Então, os gemidos são interrompidos por xingamentos agressivos.

— Que porra é essa? — grita Sugar. Ela está tentando gritar comigo, mas está sem fôlego, obviamente no meio de uma sessão aeróbica intensa. — Sai daqui, sua vaca!

A cena e a fita vermelha finalmente fazem sentido.

— Ah, merda. Desculpa, cara. Fecho a porta rapidamente. Meu coração está disparado. Estou bem desperto agora. Sigo pelo corredor e uso o banheiro, onde jogo água na cara e avalio minhas opções. Devo esperar do lado de fora ou devo dormir em outro lugar? Volto para o quarto de Seokjin e bato de leve. A adrenalina passou e estou com sono de novo. Ele abre a porta, já de pijama. É de seda vinho.

— Esqueceu alguma coisa, Jiminie?

— Não. Cara, primeiro de tudo, quando foi que você virou o Hugh Hefner?Esse pijama é fantástico.

Ele sorri e faz uma reverência — Obrigado.

Faço sinal com um polegar na direção da minha porta.

— Então, é que Sugar está transando com um cara e atrapalhei. Você se importa se eu ficar com vocês hoje?

Ele abre a porta.

— Claro que não, Jiminie. — Ele olha para a porta do meu quarto. — Você não viu a fita vermelha amarrada na porta?

Balanço a cabeça e sussurro porque não quero acordar Pete.

— Eu sei, eu sei. Acho que foi o cansaço. Eu não estava pensando. Além do mais, nunca discutimos o sinal não me interrompa, estou fazendo sexo animal.

Seokjin sobe na cama e puxa a coberta.

— Venha, Jiminie. Somos pequenos e tem bastante espaço.

— Ah, não, Seokjin. Vou dormir aqui no chão.

Ele faz sinal para mim.

— Besteira, venha. — Ele pisca. — Você é lindo, mas não faz meu tipo.

Dou um sorriso e me deito na cama.

— Obrigado, Seokjin. Você é demais. Boa noite.

Ele me dá um beijo na bochecha.

— Boa noite, Seokjin.

Sempre dividi a cama com alguém, quase a vida toda, e só percebi agora que estava com saudade.

Isso é bom.

Raio de Sol (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora