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Jeongin costuma separar muito bem o trabalho de todo o resto de sua vida. Não responde e-mail nos finais de semana ou fora do horário estabelecido para estar na empresa, não passa seu número para nenhum cliente, e seu chefe sabe que, se precisar dele para alguma emergência, é melhor lhe dizer que seu esforço vai contar como hora extra e não como gratidão. Não ganha mal, mas ainda não é o suficiente para se matar, talvez nunca seja.
Em compensação, agora está sentado à mesa de um pub, em um canto discreto, porque, no escuro do local, todos são. Ele dá um gole na caneca de chope pela metade enquanto observa Chan se aproximar com o paletó pendurado em um dos braços. Não se incomoda por ter esperado, vale a pena assistir Chan levantar a mão livre para pedir um chope também antes de se virar com um sorriso bonito no rosto livre de seus cabelos, presos para trás com muito gel ou laquê, Jeongin não poderia saber.

— Desculpa a demora.

— Não demorou — Jeongin diz porque é verdade. Ele está sentado há quase quinze minutos enquanto tenta remoer a culpa que não lhe causa nenhum arrependimento.

— Não gosto de me atrasar.

Jeongin assente como se entendesse. O atraso quase nunca é uma questão de escolha, mas não vai dizer em voz alta. A intenção não é discutir, não é questionar, é levá-lo para cama antes de lhe dar chance de consultar a consciência, a própria ou a do outro, tanto faz.

— Veio direto do trabalho?

Chan assente com seu cabelo sem um fio fora do lugar desde o momento em que o conheceu, naquela manhã. O cheiro do perfume também chega ao seu lado da mesa, um tom cítrico que lhe dá a vontade de perguntar a marca, mas não faria nenhuma diferença, porque usa a mesma colônia amadeirada suave desde os tempos da faculdade.

Mais cedo, tinha reparado em como a camisa social de Chan é justa a ponto de poder distinguir os músculos de seu corpo, principalmente do peitoral. Agora, sem o paletó, consegue ver os braços bem torneados de quem poderia levantá-lo no colo sem problemas mesmo com a diferença de altura. É um corpo bem cuidado, percebe-se de longe. Não se surpreenderia nem se descobrisse que Chan pinta o cabelo para cobrir os brancos advindos com a idade.

— Achei que podia passar em casa antes pra pelo menos tomar um banho e trocar de roupa pra não vir assim.

— Assim como?

— Com essa roupa.

— O que tem de errado com ela?

— Formal demais, eu me sinto meio estranho entrando assim em um lugar com todo mundo de calça jeans.

— Justo — Jeongin responde, mas acha uma besteira. De qualquer forma, cada um com suas manias. — Mas acho engraçado que é a primeira empresa de jogos com quem eu trabalho e não achei que as pessoas fossem vestidas assim, bem engomadinhas.

— Tá me chamando de engomadinho? — Chan ergue uma das sobrancelhas, mas ri ao vê-lo sacudir os ombros em resposta. — E esse é um estereótipo e tanto.

— Bom... Verdade...

— Na real, eu não me importo que as pessoas trabalhem do jeito que quiserem, mas sinto que sou mais respeitado se seguir uma formalidade... Tenho que fazer esse jogo mesmo quando não tô a fim.

Talvez seja verdade, por mais que Jeongin ache que Chan pareça ser o tipo de pessoa amante de ternos em qualquer situação.

— Mas isso sou eu. Meus dois sócios nem sempre tão a fim e ok também.

— Eu nunca uso. Fiquei até me perguntando se deixei passar alguma informação sobre código de vestimenta quando entrei na sala e te vi.

Não. Na verdade, ele ficou se perguntando se Chan era solteiro, se era hétero, se levaria um cara como ele para cama — evidentemente mais novo, com quem possui uma relação de trabalho —; checou se havia aliança de casamento no dedo e, depois disso, percebeu que estava de jeans e camiseta para uma reunião de trabalho em que havia uma pessoa de terno.

Amigo é meu pau | jeongchanOnde histórias criam vida. Descubra agora