XIV

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Ao invés de esperar o dono da casa fechar a porta, Jeongin a empurra com um chute antes de envolver a cintura alheia com um dos braço e puxá-lo para perto, o corpo colado ao seu, a boca a um beijo de distância. Ele acha que não precisa de apoio quando se inclina para juntar os lábios aos do outro, mas percebe seu engano. Por conta de um empurrão de quinta categoria, muito leve, quase cai para trás, sem uma parede para ajudá-lo a recuperar o equilíbrio. Por sorte, seus pés são rápidos o suficiente, pelo menos naquele momento, para mantê-lo em pé.

— Tá doido?

— Eu que pergunto — Hyunjin diz com uma careta no rosto. — Eu, hein, bateu com a cabeça, homem? Vindo me beijar assim.

— Como se nunca tivesse acontecido antes.

— Sim, antes de você se tornar um gay comprometido.

— Desde quando isso é problema?

— Você perguntou pro seu marido se é um problema?

Jeongin franze o cenho. De onde vem aquele tipo de pergunta ridícula?

— Ele não é meu marido, nem meu namorado, nem nada meu.

Hyunjin ergue uma das sobrancelhas como se não acreditasse, há até um sorriso no canto de seu rosto como se lhe dissesse que é velho demais para cair naquele tipo de trapaça. Não faz ideia de que é um péssimo momento pra se fazer de difícil.

Jeongin foi inocente ao cogitar que Seungmin poderia ter contado a situação, o fracasso do pedido de namoro nunca proferido. Seria mais fácil de certa forma, pouparia-o do constrangimento de repassar a história para mais uma pessoa, independentemente de quem seja.

Não sabe nem como começar. Chega a abrir a boca, mas a certeza de Hyunjin o faz vacilar. Pode ver nos olhos dele, na expressão confiante, na mão na cintura feito uma mãe prestes a dar bronca em uma criança pela desobediência diante do óbvio.

Jeongin suspira e desvia o olhar com a desculpa de passar a mão nos cabelos. Quando volta a encarar Hyunjin, a mudança é perceptível: o cenho franzido, os lábios em linha reta, os olhos atentos na sua figura.

— O que houve? As coisas não tavam indo bem?

— Estavam até não estarem mais.

Hyunjin balança a cabeça e continua encarando-o à espera de mais respostas. No seu lugar, Jeongin provavelmente o pressionaria da mesma forma. Talvez pior. Não é por isso que Jeongin conta, conta porque confia em Hyunjin, porque Hyunjin é seu melhor amigo e também não vai julgá-lo, independentemente do que for.

Ele conta porque, como agora, sabe que Hyunjin vai segurar uma das suas mãos nas dele e olhá-lo com toda a atenção do mundo, não como se tivesse pena, mas como se pudesse sentir o que Jeongin sente naquele momento. Pelo menos naquele momento.

— Você precisa ir atrás desse homem — ele diz ao final da história. — Não dá pra ficar parado sem fazer nada.

— Eu mandei mensagem, mas ele não me responde direito. Ou ele não me responde ou diz que ainda não se sente bem pra me ver.

— E você vai deixar, é isso? Por que você não vai na casa dele de surpresa e, sei lá, amarra um laço no piru pra dar de presente pra ele? Qualquer coisa.

— Vontade não falta, mas eu tô dando pra ele o tempo que ele precisa.

Hyunjin bufa como se fosse um animal, os olhos chegam a rolar em órbita, muito pouco satisfeito com aquela resposta. Apesar de tudo, não deixa de ser engraçado como ele toma as dores do amigo tão facilmente.

— É ridículo se vocês terminarem assim, sério.

— Terminar não, porque nem começou.

— Começou, sim — Hyunjin diz. — Vocês podem não ter definido as coisas, mas era um relacionamento mesmo assim. Se não fosse, você não estaria tão frustrado.

Amigo é meu pau | jeongchanOnde histórias criam vida. Descubra agora