BLOODLINES: LIVRO UM.

Welcome To The Party

Estava no banco de trás do carro, totalmente entorpecida com tudo que tinha acontecido. Nunca em meus dezessete anos de vida eu pensei que veria ele me protegendo com tanto fervor, como se sua vida dependesse disso. Um corar persistente marcava minhas bochechas quentes em tons que lembravam um vinho tinto, decidimos espairecer e tudo que acontecera naquele canto afastado ficou apenas entre mim, Dom e Leah. Nem mesmo Max estava sabendo e por enquanto queria que continuasse assim.

Logan assumia o volante de seu carro, um Bugatti La Voiture Noire, em uma cor preta como a noite, o design tinha linhas bem definidas, vincos profundamente marcantes e curvas acentuadas, mais que isso, o La Voiture Noire havia a expressividade da combinação de agressividade e sofisticação, capturava muito bem a dualidade do proprietário.

Trevor estava ao lado dele, descansando a cabeça no vidro fumê, as garotas próximas a mim no banco de trás. E eu... bem, não sobraram lugares e a tarefa de ir no colo, como sempre, foi minha. Mas não em um colo qualquer.

Estávamos nos afastando da área menos industrializada da cidade, onde normalmente acontecem esses tipos de festivais, o crepúsculo vespertino tomava conta do céu noturno, as nuvens antes pesadas, estavam se dissipando levemente agora. O corpo quente de Dominic estava bem ali, pressionado contra o meu, ainda sentia meus olhos um pouco inchados pelo choro. Me matava saber que eu estava me sentindo tão vulnerável, como se qualquer coisa pudesse me derrubar.

Eu ganhei uma amostra do que qualquer garota já deve ter experimentado na vida, e nada, nem meus privilégios ou nome me protegeram do perigo que é ser uma mulher, por simplesmente existir, isso usando roupas curtas ou uma burca, era um pânico avassalador correndo solto por mim pensar que algo assim podia acontecer de novo. E se acontecesse? Dominic não estaria o tempo todo do meu lado. Sem ele eu me sentia fraca, um alvo fácil, e isso facilmente era um dos fatos que mais me aterrorizou na vida.

Aceitei esse convite para o after movida pelo simples querer de manter minha aparência inabalável, eu não poderia fraquejar, o que as pessoas pensariam de mim por isso? Por estragar uma comemoração tão importante pros três?

Mas aquela sensação persistia, o peso em meus ombros, os espinhos no meu coração, as marcas das mãos invasivas de Cameron que me fizeram sentir como uma boneca suja e descartável. Eu não soltei sequer um som depois que saímos, manter a máscara exigia todas as forças que eu não tinha.

"Dramática, estraga prazeres, fraca, exagerada."

Essas palavras circulavam minha cabeça sem descanso, meus lábios vacilaram, fechei as pálpebras cruzando as sobrancelhas. Por que era tão difícil segurar o choro? Engula isso, caralho.

Ninguém quer saber do meu sofrimento particular, e disso eu sabia muito bem, poupando eles do meu inferno era o mesmo que cuidar do meu próprio ego, o deixando distante, sem poder ser alcançado.

Só percebi que minha mão estava tremendo quando, discretamente, Dom entrelaçou seus dedos nos meus em um aperto firme, que fez meu coração disparar. Os outros presentes conversavam entre si, mas só conseguia ficar extremamente consciente da afirmação dele, de que ele estava lá comigo.

Merda...

Eu acho que nunca me senti tão protegida antes, era um sentimento estranho de pertencimento... mesmo que fosse um completo idiota presunçoso, às vezes me fazia sentir leve como uma pena, ao mesmo tempo que irritada, perturbada, eletrizada. Eu não sabia se eu sempre tinha sido essa bagunça ou se ele me tornou tudo isso, uma mistura caótica que encontrava paz no tormento, do tipo que só ele podia proporcionar.

Um porto seguro, eu quis me manter ali até que toda a merda recaindo sobre mim fosse embora, suspirei fundo, buscando um ar que continuava escapando dos meus pulmões. Relaxei ligeiramente e consegui fazer o caminho todo sem desmoronar. Me concentrei em qualquer outra coisa. O barulho do carro, as vozes distintas, os comentários sobre o show, o cheiro familiar de perfume denso e suave ao mesmo tempo que marcava a jaqueta de couro em meus braços, me abrigando em um abraço. A forma que Logan dirigia como um desgovernado, mas principalmente...