Numa pequena cidade do interior, onde nada acontecia de interessante, onde as pessoas embora se conhecem viviam cada uma no seu mundinho.
A vida limitava-se a trabalho, casa e família. Viviam todos desconfiados uns dos outros. Raras eram as famílias que conviviam. Enfim, é o velho "não se passa nada"
Juliette, moça linda, pele clara, cabelos escuros era a luz no meio daquele nevoeiro. Tinha terminado o ensino secundário e pretendia frequentar a Universidade de Arquitectura na cidade vizinha que distava mais ou menos 1,30 h.
Mas o destino tinha-lhe preparado algo diferente.
Filha única, sua mãe era costureira e seu pai sem profissão.
Desde muito cedo ela aprendeu com a mãe a lida da casa e alguma coisa de costura.
O pai, passava a maior parte do tempo no boteco gastando o que a família não tinha.Os dias iam passando e Ju como carinhosamente a mãe lhe chamava sonhava com a sua entrada na faculdade. Durante vários anos juntou dinheiro realizando os mais diversos trabalhos. Tudo o que aparecia a Ju estava lá. Praticamente desde os 13 anos ela já trabalhava e estudava.
A mãe nunca quis gastar um tostão do dinheiro da filha. A formação dela vinha em primeiro lugar.
A assistência médica na cidade era quase inexistente. As pessoas só consultavam o médico quando aparecia algo doloroso.
Foi numa destas consultas que a mãe da Ju, dona Elsa, descobriu um tumor maligno em avançado estado.
As duas choraram muito mas Ju, olhou a mãe, limpou as lágrimas e disse:
- Vamos vencer. - Vais ficar boa.
Imediatamente dona Elsa começou a medicação mas o médico não lhe deu grande esperança.
Os dias foram passando e as coisas piorando. Ju tomou a seu cargo os trabalhos de costura da mãe e desdobrava-se para não lhe faltar nada.
Por vezes eram as suas economias a salvação já que algumas clientes da mãe se afastaram.O pai, esse, ao saber da doença da esposa e enrabichado por uma serigaita que conheceu lá no boteco, resolveu partir com ela para outra cidade.
As duas já eram sózinhas. Pelo menos agora tinham menos uma boca para alimentar e ainda gastar em pinga.
O estado de saúde de dona Elsa piorava de dia para dia. Ju mostrava-se forte. Nunca chorava em frente à mãe, mas, à noite na sua cama desabava num choro compulsivo.
No dia seguinte, lá estava ela, sorridente, como se a vida fosse um mar de rosas. Era necessário dar coragem à mãe.
O dia amanheceu cinzento. Dona Elsa chamou a filha.
- Filha, eu sinto que a minha jornada está prestes a terminar. - promete-me que quando eu partir vais atrás dos teus sonhos. - Não te prendas a esta cidade. - Aqui não há futuro para ti. - Promete.
- Mãezinha, Prometo sim, mas ainda teremos muito tempo juntas. - Toma o teu café, os teus medicamentos e descansa.
Dei um beijo na minha mãe. Ela abracou-me e ficámos algum tempo naquele abraço.
Ao final da tarde ela se foi. Calma, serena. Estava a dormir. Ela sabia que aquele era o nosso último abraço em vida.
Chorei, ai como chorei. Zanguei-me com Deus. Não era justo. A minha mãe não merecia partir tão jovem.
Terminados os trâmites de funeral onde só eu e meia dúzia de vizinhos comparecemos era hora de dar um rumo à vida. Desistir jamais.
Nada mais me prendia àquela cidade.
Há cerca de 1 ano iniciei um namoro com um rapaz de minha idade mas depressa descobri que ele só queria cama. Eu até estava a começar a gostar dele mas como não teve o que queria partir para outra.
Vai com Deus estrupício pensei eu quando o vi atrelado a uma ruiva.
Era hora de partir. Procurar outros ares, tentar a minha sorte na cidade grande.
Vendi as poucas coisas que tinha, outras dei aos vizinhos, entreguei a casa que era de aluguer e parti para S. Paulo onde diziam estar as oportunidades.
Parti sem olhar para trás.
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