Capítulo 3

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JIMIN


A merda de uma gangue era uma quebra de negócio.

Eu estabeleci essa regra pessoal quando era adolescente. Quando eu era garoto, assistia aos caras do clube serem martelados e pegando mulheres apenas para jogá-las fora como lixo no dia seguinte. A maneira como eles falavam sobre suas conquistas e histórias me enojava. E vi como meu pai tratava mamãe. Clubes de motocicletas eram venenosos — clubes transformavam você em volátil e perigoso.

E eu já conhecia a violência o suficiente.

A nomeação de Jeon para a presidência da Ankhor causou uma conversa séria entre o Ninho da Víbora. Ele deveria ser um sargento de armas inexperiente, violento e feliz no gatilho, pronto para o abate. Não esse homem alto, de cabelos escuros, curvando os ombros largos para dentro um pouco, como se quisesse me proteger do resto do mundo.

Mas você não era presidente de um clube de motociclistas sem violar algumas leis, pernas e corações.

O Ninho da Víbora era rival direto da Ankhor do Inferno há alguns anos. O presidente anterior, Joon, recusou-se a trabalhar com meu pai. Manteve o clube em padrões mais altos. Mas desde que ele foi morto, em um acidente no ano passado, papai começou a aumentar a aposta, empurrando as fronteiras e tentando expulsar a Ankhor do Inferno de Elkin Lake. Quem controlava Elkin Lake controlava um ponto importante de tráfico entre São Francisco, Los Angeles e Las Vegas. Papai estava espumando pela boca para ganhar esse poder.

Quando Jeon me soltou, a sala parecia mais fria.

Seus olhos escuros brilhavam.

— Oh. — Murmurei.

Certo. Era para ser uma interação totalmente normal. Jeon tinha me dado seu nome. Era esperado que eu desse o meu.

Mas, independentemente do calor que ondulava em meu interior sob seu olhar, ele era um maldito presidente de clube. Se Ankhor do Inferno soubesse quem eu era, acabaria no fundo gelado do lago homônimo da cidade, com certeza.

Daria a ele uma meia-verdade.

— Eu sou Jimin.

— Jimin. — Jeon repetiu. Seu sorriso enrugou os cantos dos olhos. Meu estômago revirou. — Eu nunca te vi por aqui antes. Vamos, sente-se.

O som do meu nome em sua voz estridente fez a parte de trás do meu pescoço formigar. Não correria o risco de dar a Jeon meu primeiro nome, Patrick. Jimin era meu nome do meio, o qual minha mãe havia escolhido para mim, e eu o mantinha perto do meu coração. Não usava na presença de Vipers. Mantive esse nome trancado. Era uma promessa para mim mesmo, de que um dia eu seria essa pessoa, livre da sombra do meu pai e longe do Ninho da Víbora. Eu seria a pessoa que mamãe acreditava que eu poderia ser.

Quando Jeon disse meu nome, algo dentro de mim se encaixou. Algo que eu não havia notado que estava faltando.

Ninguém me chamava de Jimin desde que mamãe morreu quinze anos atrás, quando eu tinha dez anos.

Deprimente. Porém eu deixaria esse homem me chamar de Jimin se isso garantisse que nenhum dos caras da Ankhor do Inferno me reconheceria como filho de Konno, e o calor que provocou no meu estômago quando ouvi meu nome em sua voz baixa não tinha nada a ver com isso.

— Obrigado. — Agradeci e logo acrescentei: — Mas tenho que voltar à estrada. Este é apenas um pit stop rápido.

— Tropeçando na estrada, hein? — Jeon perguntou como quem não quer nada.

A exaustão me pesou como se eu tivesse acabado de trabalhar em um turno de dezesseis horas. Se ficasse aqui por mais tempo e deixasse Jeon me cutucar gentilmente para obter informações, eu racharia. A sugestão de sua bondade era como uma chance de água no deserto, provavelmente uma miragem.

Durante meu período no Ninho da Víbora, aprendi algumas coisas sobre como o mundo funciona. A única pessoa responsável pelo meu bem-estar era eu mesmo. Eu não podia depender de mais ninguém. As pessoas só fingem se importar contigo quando precisam de algo de você. Sempre havia alguma motivação subjacente — ninguém agia desinteressadamente. Eu já vi isso acontecer várias vezes, e estava cansado disso. Estava cansado de ser enganado a pensar que alguém se importava comigo, que algo mudaria ou melhoraria, apenas para explodir na minha cara mais tarde. Eu tinha acabado de me machucar. Estava farto de ser a vítima.

Mamãe confiou em Konno para protegê-la, mas tudo o que conseguiu foi uma vida de abuso e uma morte prematura. Confiei no meu irmão, e ele escolheu o clube ao invés do sangue. Eu não confiaria em outro cara de clube novamente, principalmente um membro da Ankhor do Inferno, nem mesmo um com lindos olhos escuros e um aperto forte e firme.

— Desculpe. — Desviei para contorná-lo.

— Ei, espere. — Jeon estendeu a mão e agarrou meu pulso enquanto eu passava. Era o meu braço ruim, o braço que provavelmente estava torcido de onde meu pai o trancou nas minhas costas. Seu aperto empurrou a lesão, e a sensação explodiu na articulação como uma ferida de faca, tão nítida e surpreendente que minha visão ficou preta nas bordas.

Um latido curto de dor me escapou, e cerrei meus dentes.

Jeon me soltou imediatamente.

Quão estúpido eu era? Até pensei que um presidente de clube seria diferente de todos os caras do Ninho da Víbora. É claro que ele tentaria me controlar quando não agisse da maneira que queria. Eu estava acostumado a isso. Deveria estar acostumado a isso. Os caras do clube eram todos iguais.

O bar ficou quieto.

Quente de vergonha do meu grito patético, tentei me virar e deixar o bar completamente. Não era assim que hoje deveria ser. Eu deveria estar no meu carro amado bem longe daqui.

Dois caras se materializaram atrás de mim, bloqueando meu caminho para a saída. Virei para encará-los, e eles estavam ombro a ombro em jaquetas de couro quase iguais. Embora parecessem diferentes — um loiro de cabelos curtos com uma tatuagem grande no pescoço e o outro com uma barba longa e vermelha com o rosto estreito e apertado —, eles usavam expressões iguais e mantinham os braços cruzados. Se esses eram membros da Ankhor, não eram como os caras cheirando a álcool e cheios de esteroides como os do Ninho.

— Com licença. — Pedi. — Se vocês não se importam.

Os dois homens me ignoraram, ao mesmo tempo olhando diretamente sobre minha cabeça, onde Jeon estava atrás de mim.

Eles não se mexeram, as respirações lentas e profundas.

Frustração e medo me inundaram.

Era possível que um deles me reconhecesse? Ou eu fui exposto sobre um novo plano de Konno, sem saber?

Eu tinha que sair dali rápido.

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