Capítulo 23

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JIMIN


Na escuridão fria do armazém, eu me afastei.

Quanto tempo se passou? Minutos? Horas?

Memórias vieram em trechos e cenas: rostos, vozes, momentos. As coisas nas quais eu não tinha me deixado pensar, vieram borbulhando à superfície como sangue de uma ferida velha e infectada. Todos os momentos finais da minha vida, todas as vezes que uma porta se fechava atrás de mim, sem que eu percebesse: a última vez que Jihyun me ajudou na lição de matemática. A última vez que mamãe me levou ao cinema. O último dia no meu trabalho. A última vez que dirigi o Sundance, senti-o acelerar tão suavemente na estrada de Elkin Lake.

A última vez que beijei Jeon.

Ele seguiria em frente, certamente. Talvez não imediatamente, mas eventualmente. O pensamento me confortou quando o frio da cadeira de metal penetrou nos meus ossos. Jeon tinha a força de sua família atrás dele — Taehyung, Hoseok, Seokjin e os outros. Jeon sentiria minha falta. Ou talvez ele descobrisse quem eu era, e eu não estaria lá para pedir desculpas e explicar a verdade, então ele me odiaria. Eu nunca teria a chance de o dizer que nunca iria traí-lo. Mas Jeon não estaria sozinho. Ele passaria firme por isso e emergiria mais forte do que nunca, e não deixaria o Ninho da Víbora desrespeitar seu território assim.

Isso era o suficiente. Tinha que ser o suficiente.

As portas do armazém se abriram.

— Ankhors do caralho! — Konno gritou. Seu rosto esfarrapado estava vermelho de raiva e uma garrafa de cerveja pendia de seus dedos. Jihyun seguiu atrás dele, as mãos cruzadas atrás das costas. — Aqueles desgraçados! — Jogou a garrafa de cerveja na parede do armazém atrás da minha cabeça. O estalo agudo ecoou pelo espaço vazio. — Você acha que eles vão se safar com isso? Você acha que vai sair por cima?

Então Jeon estava vivo, ou Konno não estaria ficando louco assim. Qualquer outro resultado foi impossível em minha mente, e não pude evitar o alívio.

Estrondo.

Atordoado, olhei para o meu pai. Eu o vi duas vezes.

— Não fique tão aliviado. Eles vão pagar por isso. — Papai pegou minha cabeça pelos cabelos e a puxou para trás. — Eu deveria cortar sua garganta agora. Jogar seu corpo no bar deles. Ver se eles estão ansiosos para foder conosco então. — Agarrou minha garganta com força.

O medo me paralisou. Não tinha medo dele naquele momento — não queria morrer, mas também não tinha medo da morte. Porém a mão dele na minha garganta despertou algo em mim. Eu era criança de novo, cinco, dez e quinze anos ao mesmo tempo, encolhido pela raiva do meu pai. Todo o trabalho que eu tinha feito para escapar dele, toda a força que tinha acumulado para lutar contra ele, quebrou quando seu aperto em volta do meu pescoço cortou lentamente minha respiração.

Enquanto eu chiava e cuspia, sangue escorria da minha boca e minha visão escureceu nas bordas. Como um pesadelo terrível, tudo que eu podia ver era o rosto dele enquanto me sufocava.

Quando viu que eu oscilava à beira da inconsciência, Konno me soltou. Então ele se foi, tropeçando para fora do armazém.

Inspirei ofegante, respirando profundamente em meus pulmões, seguido por tosses sufocantes enquanto cuspia sangue e saliva no chão. A corrida de oxigênio para o meu cérebro trouxe consigo delírio, medo e alívio.

Um soluço quebrado rasgou minha garganta.

Jihyun se ajoelhou atrás de mim. Com um clique, sua faca se abriu e as amarras com zíper caíram dos meus pulsos.

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