Capítulo XI - Que seja pelo medo

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315 d.C.

A viagem até Porto Real havia sido marcada por noites quentes a beira da estrada, pelo solavanco da liteira, e pelas diversas memórias que surgiam conforme a comitiva avançava... Sansa se lembrava dos raros sorrisos que a postura extravagante de Robert Baratheon conseguia arrancar de seu pai. Se lembrava de Arya e de Jeyne Poole, dos pelos macios de Lady sobre seus dedos e como ela corria confortavelmente por aquelas mesmas planícies.

A pequena Catelyn a lembrava de si mesma, seus olhos castanhos fitavam o mundo com o mesmo deslumbramento e doçura que um dia Sansa conhecera. Ela havia nascido num dia frio de inverno, sua chegada uma grata surpresa... A filha que precisava, a filha cuja vida havia tão imprudentemente barganhado. Os Deuses não haviam sido tão generosos com Sansa, Catelyn era sua única menina, sucedida pelo nascimento tempestuoso de Karlon, o herdeiro que Harrion tanto queria.

Sansa gostava de pensar que seu pai o aprovaria, mesmo diante das circunstâncias de sua abrupta união. A Stark ainda se lembrava do apertado vestido de casamento, das promessas apressadas diante da Árvore Coração, e das frias cartas que voaram para todos os Sete Reinos. A quebra do acordo com Buckler era um preço justo pela legitimidade de um filho. No fim, Karlon havia nascido dentro dos laços do casamento e Sansa havia garantido um bom marido.

Harrion conseguia equilibrar muito bem, suas qualidades e defeitos. Seus anos como refém nas Terras Fluviais haviam o endurecido, era desconfiado e muito, muito protetor. Como muitos nortenhos, tinha suas reservas quanto ao povo livre. Sempre que Sansa se reunia com Tormund, ele se mantinha a direita da esposa, guardando-a prontamente. Seu olhar feroz não vacilava nem por um instante.

A Stark engoliu em seco ousando pela primeira vez fitar além das finas cortinas da liteira. Seus olhos haviam evitado a vista da cidade por tempo demais. Estava farta de fantasmas, e para o seu completo desamparo, Porto Real estava cheia deles. Se Harrion bem soubesse, teria mais a temer do que homens para lá da muralha... O perigo reside nos lugares mais inesperados. Isso Sansa havia aprendido como ninguém.

Ela sabia que a Targaryen havia se negado a entregar o menino.

Jon havia lhe escrito para informar, e ainda assim, nada havia sido dito sobre a permanência de Karlon em Winterfell... Seu único menino. Ele era uma criança difícil, naturalmente agressivo e teimoso. Sob certas luzes Sansa o encontrava parecido com Rickon, e as vezes, se permitia ver um pouco de si mesma. Como mãe tentava o seu melhor, educando-o com firmeza e compaixão, e por vezes encontrava sucesso, rompendo com a raiva de suas impensadas ações. Um abraço quente conseguia em alguns momentos aplacá-lo, atenuando o duro semblante, o tom grave de sua voz. A verdade era que seu primogênito precisava dela, mais que a pequena Cat jamais precisou... Harrion e os outros careciam de tato, de paciência. Seu primeiro instinto era responder violência com violência. Sansa não imaginava como Karlon poderia crescer em Karhold, sua educação dividida entre o marido de Alys, Sigorn, e o velho e ressentido Cregan... O menino se tornaria mais um objeto de disputa. Sansa se perguntava se restaria algo dele no fim das contas, já que Karhold já definhava diante dos incontáveis conflitos.

A Stark mantinha seus esforços centrados em Winterfell, na boa convivência com o povo livre, na manutenção da Vila de Inverno, no diálogo com as pequenas e grandes casas. Houve um tempo em que Sansa se ressentira de Jon... Um dragão trajado como um lobo. Era o manto cinza que ele arrastava orgulhosamente sobre a terra enquanto acatava aos caprichos do dragão. Sua consideração se estendia ao Norte por meio da redução de impostos, e pontuais cartas que ousava endereçar a irmã. Sansa, as respondia com amargor... A boca que ditava reconciliação e palavras de boas sorte, era a mesma, que outrora, proferia mentiras e difamação. Sansa jamais se esqueceria o olhar que ele lhe desferira anos antes, estreito e perigoso... Mesmo sobre o brilho das lareiras, não foi o fogo dos dragões que Sansa viu, mas sim o ferver do sangue do lobo que corria forte pelas veias de Jon. Maekar é meu filho, supor qualquer outra coisa é traição.

thought we built a dynasty (forever couldn't break up)Onde histórias criam vida. Descubra agora