Capítulo XIV - O martelo e a bigorna

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322 d.C.

A Goela se projetava há algumas milhas de distância, o balanço do mar e a penosa chuva dificultavam a visibilidade. Vez ou outra, trovões cruzavam o céu, iluminando ao longe a pedregosa barreira que os impedia de avançar, rumo a Baia da Água Negra.

Sob o convés, Arya permanecia em pé, suas ordens entrecortadas pelo cair da chuva, pelo abalo dos raios acima da tripulação. A Stark estava dando tudo de si pra guiá-los em meio às rochas, ciente que qualquer movimento inesperado significaria atingir a costa em pedaços. Isto, ela havia aprendido da pior maneira possível, com o Orgulho da Rainha afundado nas tumultuosas águas do Mar de Jade.

Seus gritos se tornavam mais altos e eloquentes conforme avançavam, a chuva se apequenando ao passo que a aurora rompia dourada contra o horizonte. Tudo o que lhes restara eramvestes molhadas e uma densa e gélida neblina. Ao longe Arya conseguia vê-las; altas, astorres esguias da fortaleza erguiam-se pálidas, seu vermelho, acinzentado pelo nevoeiro.

A Stark respirou profundamente, apoiando-se com firmeza contra o parapeito. Vou ficar bem, ficaremos todos bem. Seus ferimentos da última batalha latejavam, como se a única coisa mantendo sua clavícula no lugar fosse a apertada bandagem que a envolvia do busto até o pescoço. Seu tornozelo esquerdo estava inchado: E por que não estaria? A maldita bengala ficou apoiando a soleira da porta, pensou tentando em vão ignorar a dor pulsante que irradiava sobre ela, a medida que seus ossos tremiam de frio.

– Ancoraremos aqui. – Anunciou com uma voz rouca, mas não menos autoritária. Seu primeiro intendente, o tyroshi Jasper Wyden assentiu antes de gritar um comando em baixo valiriano para os marinheiros na popa do Doce Despedida. Ele até tentou oferecer-lhe o braço, mas Arya quase que imediatamente o negou. Seu orgulho ainda era a maior do que a dor que a arrebatava.

Depois uma meia dúzia de passos solitários e dolorosos ela enfim alcançara sua cabine.
Os aposentos eram estreitos, e de certa forma, aconchegantes. Sob a parede ao lado da cama, haviam mapas e mais mapas dos lugares por onde Arya havia passado. Em uma bandeja, cristais e outras bugigangas se projetavam, algumas simplesmente compradas, outras conquistadas com o preço de sangue.

Enquanto se despia ela conseguiu ter uma visão completa de sua deplorável situação, suas bandagens estavam molhadas e com pequenos sinais de sangramento, seu corpo, repleto de hematomas que fariam o próprio Guerreiro estremecer. Ver a si mesma não fez muito, se não piorar a sensação latente de fraqueza que ameaçava dominá-la. Antes que pudesse pensar em trocar qualquer curativo, a Stark sentiu seu corpo ceder numa queda repentina e irresistível.

– Mãe... – Sussurrou uma voz familiar, próxima o suficiente para que Arya conseguisse sentir sua respiração. – Você está bem?– Indagou-lhe ansiosamente, enquanto seus dedos suados buscavam os ombros da mãe.

– Sete infernos! – Esbravejou a Stark diante do abrupto toque. Ela estava tão dolorida quanto jamais estivera. Mortificado, o garoto de cabelos negros se afastou dela, seus olhos azuis a encaram com espanto. Pobrezinho, estava tão pálido, como se tivesse sido encurralado pelo mais selvagem dos animais. – O que pensou que estava fazendo, garoto? – Questionou a morena enquanto se apoiava sob os cotovelos para enfim se levantar.

– Wyden queria entrar aqui, a marinha da cidade... E a senhora... – Enumerou ofegante, enquanto atropelava as palavras... E o sentido delas.

– Me ajude a levantar. – Disse tentando impor calma ao garoto, ela bem sabia como era ter treze anos, e não possuir clareza alguma do que poderia acontecer. Arya se apoiou no menino ao colocar suas botas.

– Seus curativos...

– Ficarei bem. – Assegurou a Stark firme e ao mesmo tempo calorosa. Uma batida na porta a fez vestir um longo sobretudo de couro apressadamente. – Vá até Sandor. –Indicou sem sequer hesitar –Fique com ele até eu chamar. – Disse antes de sair da cabine, ignorando os protestos abafados do filho. Ed era um bom menino, a obedeceria, Arya estava certa disso.

thought we built a dynasty (forever couldn't break up)Onde histórias criam vida. Descubra agora