Capítulo X - Dois dragões.

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310 d.C.

Jon havia desmaiado sobre os berçários enquanto os recém-nascidos se alimentavam.

Aparentemente nem todos os bebês nascem com a plena capacidade de se alimentar. Isso, segundo as amas de leite, era algo que deveria ser aprendido. Para alguns, a habilidade era dada, o instinto suficiente, como se já nascesse sabendo... Algo que Maekar e Aemon haviam rapidamente dominado. A pequena Lyanna deveria aperfeiçoar se não quisesse encontrar o mesmo destino de sua finada irmã. Só de pensar, Jon sentia sua visão estreitar e ar escapar de seus pulmões, o horror paralisante, como se peso de um cavalo fosse posto sobre seu peito. Como se o Estranho estivesse decidindo quem levaria primeiro: o pai ou a filha.

Sua segunda vigília havia sido curta, seu corpo o havia traído no instante em que se permitira sentar sobre uma das camas do berçário. Logo precisariam expandi-lo se pretendessem acomodar os pequenos. Era bom tê-los por perto, por vezes, o Stark acordava tarde da noite, a ausência de Rainha marcada pelo rastro gélido dos lençóis. Ela sempre estava no mesmo lugar, velando os sonhos de seus pequenos, como se som de suas respirações fosse sua mais preciosa melodia.

E talvez fosse. Jon havia visto muitas coisas ao longo de sua breve vida, mas de longe, a mais perturbadora fora a imagem de Rhaella, sua linda menina, bem formada, como todos os dedos dos pés e da mãos, perfeita para todos os efeitos... Gelada e sem vida. As vezes, Jon silenciosamente agradecia aos Deuses por terem poupado Daenerys de tal visão, ele ainda não sabia o que o havia prevenido de enlouquecer. Não há razão que possa explicar, ou sentimento que se traduza em palavras. Jon sabia que aquela imagem o acompanharia até o fim de seus dias, assim como sua pequena menina, destinada a nunca ser.

O choro de Lyanna o acordara no que parecia ser o início da tarde, a julgar pelo ângulo do sol contra as janelas. Gyda a ninava com cuidado, tentando aplacar seus prantos enquanto voltava a atar o seio de volta em seu vestido. Ela era uma mulher baixa e gorda, de cabelos negros levemente grisalhos. Seus olhos escuros e estranhamente dóceis, analisavam a pequena como se a procura de qualquer sinal de desconforto.

Meu príncipe. – Disse a pobre ama curvando-se desajeitadamente ao perceber o súbito despertar do nortenho.

– Ela está bem? – Perguntou Jon quase que no mesmo instante, seus olhos fitavam-na apreensivos, enquanto sua mão esquerda dispensava reverência. – Conseguiu se alimentar?

– Um pouco, ainda está aprendendo. – Respondeu Gyda prontamente, acalmando-a pouco a pouco, até fosse possível colocá-la sobre o largo berço próximo a janela onde Aemon repousava profundamente. – Ela prefere o calor do irmão aos braços que qualquer uma de nós. – Explicou a ama com um pequeno sorriso antes de se sentar ao lado deles, seu pé balançando a base do berço num ritmo calmo e ponderado.

– Dividiram o mesmo útero, não seria justo privá-los da companhia um do outro. – Concedeu Jon observando-os com carinho. Enquanto Aemon dormia pesadamente, a pequena irmã se aninhava contra ele, por vezes buscando-o com suas pequenas mãos. – Onde estão Jaehaerys e Maekar?

– Partiram logo cedo, convocados pela Rainha. – Disse Gyda sem hesitar. Jon preferiu não saber quanto a Aemon e Lyanna, Valarr havia deixado claro que Daenerys precisaria de algum tempo antes que pudesse vê-los. Ela precisava se recuperar, antes de mais nada, repouso, caldos quentes e gordurosos, longas sonecas...

– Gostaria de ser atualizado quanto a alimentação da princesa, se ela apresentar qualquer sinal de fraqueza não hesite em chamar Meistre Valarr, ele saberá o que fazer. – Disse Jon ainda sem desviar seus olhos acinzentados dos pequeninos.

– Ele os visitou mais cedo, o Grande Meistre. – Disse Gyda abruptamente ao mesmo tempo em que seus ombros se projetavam tensionados. – Colocou duas pedras quentes sobre o berço, eu os ouvi dizendo que eram ovos, alteza... – Aquilo bastou para prender a atenção de Jon sobre a ama, seu rosto se contorcendo numa expressão dividida. O Stark já tinha ouvido falar da tradição firmada no reinado do primeiro Jaehaerys, ovos de dragão para herdeiros do sangue... Mas não sabia se apreciava o gesto, especialmente, sem ter sido consultado antes. – Lorde Tyrion o autorizou. – Defendeu-se rapidamente, sua expressão temerosa enquanto seus olhos se recusavam a encontrar a tempestade cinzenta e perfurante do Stark.

thought we built a dynasty (forever couldn't break up)Onde histórias criam vida. Descubra agora