Capítulo IX - A longa noite

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310 d.C.

Daenerys havia acordado cedo, mais cedo do que gostaria.

O céu ainda estava escuro quando ela o ouviu sobre sua porta, a pequena voz que a despertou quase que imediatamente, não poderia passar despercebida, nem em um milhão de anos. Mas Dany estava tão cansada... Ainda não conseguia acreditar que tivesse de fato conseguido dormir, não quando cada parte do seu corpo se encontrava dolorida e nenhuma posição parecia capaz de agradar suas costas e quadris ao mesmo tempo. A Targaryen se moveu preguiçosamente buscando, dentre as muitas peles, os braços quentes de Jon. Sua voz alcançou-o suave, ele também estava cansado. Com Daenerys passando metade do seu tempo entre sonecas e banhos quentes, o Pequeno Conselho exigia mais e mais dele. Seu nobre marido nortenho...

Seus olhos acinzentados encontraram os dela em meio a penumbra, sem sequer pensar duas vezes ele assentiu, se levantando prontamente. Antes que abrisse a porta, a Targaryen ouviu o tilintar de Garralonga sendo desembainhada. O sono voltava a dominar seus sentidos, enquanto os sussurros sobre a porta se tornavam cada vez mais distantes.

– Vamos. – O som da espada sendo posta ao lado da cama a despertou mais uma vez. A luz de uma vela iluminou o quarto ao mesmo tempo em o lilás de seus pequenos olhos encontraram o violeta dos dela. – Ele teve um sonho ruim. – Informou Jon enquanto servia de um pouco de água.

Maekar. – Sussurrou a Rainha Dragão limpando as volumosas lágrimas que escorriam pelo rosto do pequeno príncipe. Ele não era de chorar, a mera visão fora o suficiente para que a Targaryen sentisse uma pontada em seu coração. – O que aconteceu byka mēre?

Mu-ña. – Maekar conseguiu dizer em meio a soluços, seus olhos a observavam com dor e apreensão.

– Ei, está tudo bem, aqui. – Disse Jon levando o copo aos lábios do menino enquanto acariciava suas costas de modo reconfortante – O que quer que tenha visto, não pode te fazer mal agora. – Assegurou o Stark, sua voz firme ainda que sonolenta.

– Você nunca me machucaria, não é muña? – Indagou Maekar afastando a taça de seus lábios. Daenerys não hesitou em tomar as mãos do pequeno entre as suas, tal suposição bastara para que as lágrimas lhe viessem com facilidade.

– Eu nunca faria mal a você byka mēre.– Afirmou Dany calorosa e irredutível, suas palavras pesadas como a verdade. O Reino queimaria antes que ela neglicenciasse sua família. Mas feri-los diretamente? Essa era uma das poucas coisas que Daenerys Targaryen se via incapaz de fazer.

– Viu? Não tem motivo para temer. – Disse Jon tomando o menino em seus braços com afeto, como se pudesse protegê-lo de tudo, até mesmo de seus próprios sonhos. – Por que não dormimos todos juntos hoje, hm?

– Como lobos? – Perguntou-lhe Maekar subitamente esperançoso, o lilás de seus olhos mais vivo. Daenerys conseguiu ver Jon sorrir largamente antes de finalmente respondê-lo, sua voz embargada pelo orgulho.

– Sim, meu filho, assim como os lobos.

Quando a Rainha Dragão despertou novamente, era com o peso de Jaehaerys contra si.

Aquela foi primeira vez que seus meninos dormiram em sua cama. Mesmo pesada e dolorida, a Targaryen se encontrava incapaz de ressentir-se, esse era um tipo de memória que ela gostaria que ambos tivessem. Um momento de afeto, uma doce memória de infância cercada de amor e significado. Dany queria que se lembrassem dela, ainda que estivesse inchada e não parecesse tanto consigo mesma.

Ela se sentia cheia o tempo inteiro, a dor em suas costas irradiava pelo resto do corpo sem aviso, e sem alívio. Seus seios estavam tão doloridos quanto seus pés, e seu paladar oscilante como o de uma criança. Vez ou outra a Targaryen conseguia senti-lo chutar repetidamente, como se fosse abri-la de dentro para fora e alçar voo rumo aos céus. A gravidez de Jaehaerys havia sido fácil se comparada ao tormento em que Dany se encontrava submersa.

thought we built a dynasty (forever couldn't break up)Onde histórias criam vida. Descubra agora