2. Eros não é binário

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[ aviso de conteúdo sensível: machismo ]

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Park Jimin estava ansioso.

O colar de pérolas parecia pesado ao colocá-lo, assim como o brinco em cada orelha, de mesma pedra.

De repente, usar aquela blusa de gola alta que cobria quase todo o seu pescoço pareceu uma péssima ideia.

Ver seu marido surgir atrás do espelho da penteadeira o fez desviar o foco da própria imagem para ver o homem vestido de roupa social.

— Não precisa fazer isso se não quiser.

Jimin sabia disso. Poderia ter recusado o convite de seus pais para o jantar de família anual, visto que foi praticamente enxotado de casa há cinco anos, ao se assumir.

— Eu não os vejo desde que voltamos à Coreia.

— Sabe como eles vão falar...

— Pois que suportem, fui a convite deles. — disse com mágoa evidente. — Sabem como é minha vida, basta pesquisar meu nome no Google e vão ver um compilado de coisas.

Taehyung não podia rebater aquilo, pois era verdade.

Contudo, isso o deixava mais intrigado ainda: se a família de Jimin era tão conservadora e seu filho era uma figura pública tão exposta, por que estavam convidando-o para um jantar?

O Park era filho adotivo de um casal de idosos muito devotos e tradicionais. Não sabia a respeito de sua família biológica e tampouco queria, pois nunca foi criado por eles: desde que se entendia por gente, viveu em um orfanato — até os Park o escolherem como uma promessa de família finalmente completa e feliz.

Não poderiam estar mais decepcionados.

Jimin se levantou e foi até o armário de sapatos: escolheu sua sandália favorita, off white e de um salto pequeno e largo para andar confortavelmente. Taehyung gostava dela, pois os deixavam na mesma altura.

— Vamos? — Jimin pegou a bolsa transversal brilhante e passou nos ombros, a única coisa em seu rosto era um brilho que deixava seus lábios mais cheios.

— Não posso ficar te beijando quando passa gloss... — Taehyung fez um bico e pegou as chaves do carro, penduradas em cima da cômoda. — Prefiro seus batons que não saem.

— Quer que eu vá ver meus pais com um batom vermelho berrante? — disse com os olhos estreitos e Taehyung se aproximou para beijá-lo no canto da boca, com um sorriso.

— Ficaria linda. — piscou e puxou o esposo pelo pulso para saírem do quarto.

A ida até a casa da família Park foi silenciosa.

Cada um deles estava em seu próprio mundo: enquanto Jimin controlava a ansiedade, Taehyung respirava várias vezes para se manter calmo e não discutir com os sogros.

Notou que Jimin balançava a perna sem parar e apertou sua coxa coberta pela calça preta apertada, deixando a outra mão firme no volante.

— Se eles falarem alguma coisa, nós vamos embora, ok?

— Certo. — Jimin apertou os dedos de Taehyung e jogou a cabeça contra o estofado. — Meu Deus, minha barriga vai revirar.

— Ainda dá tempo de desistir.

— Não! Não, nada disso. — protestou e tentou relaxar os ombros. — Eu sou uma pessoa empoderada... Dona de mim, igual as propagandas femininas norte-americanas falam.

O comentário aleatório fez Kim Taehyung gargalhar, e o clima no carro se amenizou.

Park Jimin usava os dois pronomes ao falar coreano, e quando iam aos Estados Unidos usava muito mais o neutro: o "they" cabia-lhe bem, e o "elu" que conheceu na viagem ao Brasil foi aconchegante para ele.

Volúpio | TaekookminOnde histórias criam vida. Descubra agora