Capítulo 28

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Pv. Anastácia

Após desligar a ligação de Christian, percebo alguns olhares trocados por Dona Iara e Sr. Theo, decido não falar nada, não demora e Kate passa pela porta muito animada.

— Boa tarde meus amores. — Diz dando um beijo em cada um de nós, estranho essa atitude, apesar de todos eles serem muito carinhosos, preciso me lembrar disso. — Como estão?

— Bem minha filha, e você?

— Ótima, mas hoje eu vim aqui sequestrar a Ana um pouco.

— Eu?

— Sim senhorita, você vai passar o restante do dia comigo.

— Mas porquê?

— Porque sim. — Diz sorrindo.

— Eu não posso deixar... — Antes que eu termine de falar a mãe de Christian passa pela porta.

— Eu vou ficar com eles. — Diz dando uma piscadinha para Kate. — Como estão? — Pergunta e repete o gesto de Kate, beijando também o topo da minha cabeça.

Continuo em silêncio, sem entender o que está havendo, tudo bem, já entendi que eles são carinhosos, mas é muito estranho toda essa demonstração de afeto.

— Vai menina, vai fazer bem a você. — Dona Iara diz, me tirando do meu pequeno momento de choque.

— Ela vai sim, não é Ana? — Sr. Theo diz quase me expulsando da casa, só consigo confirmar com um movimento de cabeça.

— Oba, vamos nos divertir. — Kate diz muito animada.

Após nos despedirmos de todos, vou no carro com Kate.

— Onde vai me levar? — Só agora consigo formular uma pergunta coerente.

— Bom, primeiro vamos ao salão para darmos uma repaginada, talvez cortar um pouco as pontas do cabelo, fazer uma hidratação, unha essas coisas normais.

— Primeiro? — Pergunto e ela confirma, em seguida vamos ao shopping comprar algumas coisas para você, roupas, sapatos coisas normais de mulher Ana.

Sinto meu corpo travar e meus olhos embaçam pelas lágrimas que querem cair, tento disfarçar meu medo, mas está difícil não acredito que tudo vai se repetir, como me deixei enganar outra vez.

— O houve? Por que está chorando? — Minha cabeça roda tanto que não percebi que Kate havia parado o carro.

— Por favor, não faça isso. — Peço em suplica, minha vontade era de ajoelhar aos pés de Kate, mas a falta de espaço me impede.

— Fazer o que Ana? Não estou entendendo. — Ela me pergunta e vejo apreensão em seus olhos.

— Kate... — Não consigo terminar a frase e solto um soluço.

— Ana, não vamos fazer nada que você não queira, eu te trouxe para um dia de meninas, para aproveitarmos o dia e nos cuidarmos um pouco, conversar e jogar conversa fora, mas se não quiser tudo bem, podemos voltar.

— Porque? — Pergunto realmente sem entender e tentando controlar meu coração que parece que vai saltar do peito a qualquer momento.

— Bom, até onde sei todas as suas coisas ficaram na sua antiga casa, e o que você tem são algumas poucas coisas que eu comprei para você, provisoriamente tentando acertar o que você gosta, segundo, que dar uma mudada no visual faz parte da natureza feminina e não faz mal a ninguém.

Procuro em seu rosto qualquer traço de que possa estar me enganando, por mais que eu acredite nela, o meu medo ainda é muito grande.

— No final do dia não vou ser obrigada a me casar com ninguém?

— Ana. — Diz meu nome e coloca a mão na cabeça. — Não que eu gostaria de te lembrar deste fato, mas você ainda é legalmente casada com aquele traste, infelizmente, e não ninguém quer manipular sua vida, como eu disse você só vai fazer o que quiser.

Respiro aliviada e sorrio tentando amenizar o meu nervosismo.

— Tudo bem! — Digo soltando uma longa respiração para me acalmar.

Após a situação embaraçosa do carro ter passado, Kate me leva até um salão, onde me surpreende o fato de ter horário marcado para nós duas, sento em uma cadeira e uma moça muito simpática me mostra alguns modelos de cortes de cabelo, gostei de alguns e ela diz que o corte que escolhi vai ficar ótimo em mim, não quero voltar ao tempo em que eu não podia escolher, mas é quase impossível, e são nesses pequenos detalhes que percebo como é bom, poder tomar decisões, mesmo que simples como um corte de cabelo e cor do esmalte que vou passar.

A moça que descobri chamar Raissa disse que vai me surpreender, Kate é só sorrisos para mim o que me tranquiliza e muito, em determinado momento elas me viram de costas para o espelho, Raissa ficou por minha conta e Juliana por conta de cuidar de Kate, elas conversam de forma descontraída assim como as outras mulheres que estão no salão, a voz de Christian volta na minha cabeça.

"Agora você tem direito de querer qualquer coisa Ana"

Será? Até quando essa liberdade de escolha, ou até onde essa liberdade pode me levar à perdição.

— Ana? — Escuto Kate me chamar, me tirando do caminho que meus pensamentos me levaram, a encaro por um momento. — Não vá por esse caminho, você merece o mundo, só consigo confirmar com a cabeça.

Passado o momento estranho ao qual parece que Kate podia ler meus pensamentos, Raissa resolve fazer uma maquiagem em mim, não sei se gosto da ideia, mas não questionei, ao me virar para ver minha imagem, mal me reconheço.

— Meu Deus! — Digo com as mãos na boca.

— Anastácia, você já era linda, mas meu Deus Ana, você está perfeita, não é meninas? — Katherine diz, me fazendo ficar muito vermelha, e sou obrigada a concordar com ela, eu gostei muito do que vi uma maquiagem simples destacando apenas meus olhos na boca um rosa clarinho combinando com a cor do esmalte o cabelo em um corte moderno com uma franja lateral e na altura do meio das costas levemente ondulado. — Agora vamos às compras. — Diz muito empolgada.

A hora em que Kate foi pagar me senti desconfortável, me esqueci completamente desta parte, me permiti curtir o momento e esqueci que teria que pagar, ela briga comigo quando questiono e fico calada.

— Kate.

— Não.

— Não o que?

— Não questiona o pagamento, eu quero e posso fazer por você, na próxima você paga, mas eu quero a Ana que estava rindo a poucos minutos no salão novamente, a Ana preocupada e medrosa, quero que guarde ela aí dentro outra vez. — Diz erguendo a sobrancelha me fazendo rir. — Isso eu quero essa Ana.

— Tudo bem, mas eu quero devolver tudo assim que possível. — Faz que sim com a cabeça, mas sei que não ouviu nada do que eu disse.

Chegamos ao shopping e devo dizer que minha nova e única amiga está muito empolgada em passar por todas as lojas, em todas que entramos ela encontra algo para comprar, ela não olha etiqueta nem os valores, depois de horas e trocas de roupas intermináveis, ela decide que o dia de meninas como ela chamou, já está na hora de acabar, o que agradeço mentalmente, já que ainda sinto meu corpo muito dolorido.

Ao chegar no prédio de Christian, Kate me ajuda a subir com todas as sacolas de roupas, coloco as coisas sobre a cama ainda um pouco atordoada com tudo que aconteceu hoje, ela se despede de mim, prometendo me ligar para marcamos de sair, apenas concordo, pois, sei que se recusar ela me leva do mesmo jeito, sorrio com esse pensamento.

Decido tomar um banho rápido, coloco um dos vestidos que compramos, ele é um pouco mais curto do que tenho costume, dois ou três dedos acima do joelho, mesmo ainda sendo comportado, imagino a cara de reprovação da minha mãe por ver que estou me entregando às regalias do mundo.

"Não vá por este caminho Ana" ouço a voz de Kate e é o que faço.

Imagino que Christian já tenha chegado e deve estar com fome, vou descer e preparar algo para ele comer, deixo algumas coisas no fogo, enquanto cozinha vou até a sala, gosto de ver a cidade aqui de cima, principalmente na calmaria da noite, as luzes dão um toque e um charme a mais, sinto que estou sendo observada, quando olho para trás dou de cara com Christian me olhando de boca aberta.

SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora