Capítulo 9

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PV. Anastácia

O Sr. Trevelyan é muito engraçado, parecia uma criança birrenta, quando deu a hora do jantar.

- Eu sou velho, mas tenho todos os dentes, alguém avisa, para a moça da cozinha, que preciso mastigar alguma coisa.

- Ela só está preocupada com a saúde do Senhor, e no jantar não é bom comer nada muito pesado. - Digo, para que ele aceite a sopa.

- Deixa de ser reclamão homem.

- Eu não vou tomar água de colher, isso não pode nem ser chamado de sopa. - Ergue a colher com a sopa, realmente não está nada apetitosa.

- Pai, o Senhor já está reclamando? - Uma mulher muito bonita entra na casa sorrindo.

- Tenho certeza que isso é coisa sua, quem foi que deixou ela ser médica?

- Ela queria ser arquiteta e você não deixou, agora tome a sopa sem reclamar. - Sra. Trevelyan o repreende.

- Eu queria um sanduíche. - Ele continua reclamando, me fazendo rir da cara fofa que faz.

- Queria, mas não terá.

- Amanhã, prometo que faço no café da manhã um sanduíche natural delicioso para o Senhor. - Digo ele me olha e sorri.

- Grace, essa é a Ana, amiga de Kate, ela nos fará companhia. - A Sra. Trevelyan me apresenta.

- É um prazer Senhora.

- Me chame de Grace, querida, de onde conhece Kate? - Pergunta me analisando.

- Do hospital, fui sua paciente.

- E você não tem família?

- Mãe, a Senhora está pior que o Christian quando começa com o interrogatório. - Elliot chega acompanhado de Kate, que sorri para mim.

- Boa noite. - Kate diz dando um beijo nos dois idosos à minha frente e cumprimentando a mulher que agora sei que é a mãe do seu noivo.

- Respondendo a sua pergunta Senhora, sim eu tenho família. - É tudo que ela precisa saber.

- Ana, pode me acompanhar por favor? - Kate me chama e a sigo. - Trouxe roupas para você e algumas coisas que acho que vai precisar, depois se precisar de mais alguma coisa, me avisa.

- Obrigada Kate, não precisava.

- Precisava sim, e por favor, não fique chateada com a minha sogra, já apareceram várias mulheres para trabalhar aqui, e todas elas tentaram seduzir o vovô Trevelyan, por causa do dinheiro.

- Meu Deus. - Digo em choque. - Eu não sou assim, Kate.

- Eu sei Ana, mas eles não, então não fique chateada, ela só está protegendo os pais.

- Tudo bem.

Volto para a sala de jantar acompanhada por Kate, ao entrar escuto uma pequena discussão entre Dona Grace e Elliot.

- A Senhora quer parar de julgar todas as pessoas iguais? Até parece que o vovô, chegou em berço de ouro neste mundo, o fato da pessoa ser humilde, não faz dela uma golpista.

- Elliot, você sabe tudo que já passamos aqui, todas que passaram, chegaram desta mesma forma.

- Me desculpa, mas a Senhora não me conhece, não me julgue pelas outras, estou aqui porquê preciso realmente trabalhar e de um lugar para ficar, só este primeiro mês, no próximo dou um jeito e saio da casa dos seus pais. - Todos me olham assustados. - Sou pobre, mas tenho caráter Senhora, pelo que sei, isso é algo que o dinheiro de vocês não pode comprar.

- Grace. - Sr. Trevelyan a repreende.

- Está tudo bem. - Digo para ele sorrindo.

- Posso conversar com você? - A tal Grace pede.

- Sim, Senhora.

- Mãe. - Elliot a chama.

- Não vou fazer nada com a menina, só conversar.

- Ana, se não quiser, não precisa, não é a minha mãe quem a contratou.

- Tudo bem Elliot, não tenho nada a esconder.

Sigo atrás da sogra de Kate, ela abre a porta de uma sala e eu entro, ela fecha a porta em seguida.

- Primeiro, gostaria que entendesse que não estou julgando seu caráter, sei que Elliot e Kate jamais colocariam qualquer pessoa aqui dentro, mas espero que entenda que os meus pais fazem parte das pessoas mais importantes na minha vida, por isso me preocupo com eles.

- Tudo bem.

- Me desculpa, não queria causar uma má impressão.

- Posso fazer uma pergunta Senhora?

- Me chame de Grace, por favor, e sim pode fazer.

- O medo de vocês é que alguém dê o golpe no seu pai, tentando seduzi-lo?

- Infelizmente, foi o que todas as outras tentaram. - Ela responde, visivelmente chateada com a situação.

- Olha Grace, eu passei o dia com os seus pais, e pela primeira vez em toda minha vida presenciei o verdadeiro amor, aquele que se fala tanto e que tanto já tive a oportunidade de ler, os dois se amam de verdade, mas no meu ponto de vista, apesar das poucas horas de convivência que tive, a Senhora está fazendo uma análise errada de tudo  isso.

- Não estou entendendo.

- Ao pensar que eu ou qualquer outra pessoa possa dar o golpe no seu pai, você não está questionando o meu caráter, mas sim o do seu pai e a fidelidade dele com a sua mãe, afinal cabe a ele cair ou não na sedução, então vocês tiram do caminho as pessoas, não por medo do que eu possa fazer, mas sim se ele cai ou não. - Sua boca abre e fecha a várias vezes.

- Dona Grace, em pouco tempo aprendi, que as pessoas são responsáveis por suas escolhas, se você é agressivo, não é porquê te bateram, mas sim porquê escolheu ser, ser fiel ou não, é a mesma coisa, a culpa nunca é de quem é traído mas sim de quem trai, pois a escolha é dele, a Senhora entende o que quero dizer?

- Sim.

- E quanto ao seu pai, não se preocupe eu o vejo como o avô que nunca tive, e o olhar dele para mim ou para qualquer pessoa que trabalhe nesta casa é o mesmo que ele tem para Elliot, é como se fossemos seus netos.

- Obrigada Anastácia, e me desculpe.

- Tudo bem, você os ama e por isso se preocupa, eu também me preocuparia. - Ela sorri para mim, e voltamos para a sala de jantar.

Elliot nos olha, parece que tentando entender o que aconteceu, sorrio para que ele fique tranquilo, eu entendo a mãe dele, afinal são os pais dela, me colocando em seu lugar também estaria preocupada.

O ambiente fica pesado e não consigo entender o motivo, até que me viro e vejo um homem, alto imponente me olhando, seu olhar é questionador, ergue a sobrancelha e cruza os braços, não gosto de como me olha, atrás dele aparece uma mulher, toda arrumada, muito maquiada para os meus padrões, mas essas pessoas com dinheiro usam cada coisa que é melhor não questionar.

- Christian. - Dona Grace o chama, mas seu olhar não sai de min.

- Quem é você?


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