Capítulo 7

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PV. Anastácia

Seguro o veneno em minhas mãos, eu não aguento mais sofrer, não aguento mais esta tortura, não entendo por que Deus permite que eu sofra tanto.

Sete meses vivendo neste inferno que minha vida se tornou, na verdade, ela nunca deixou de ser um, mas se pudesse comparar Dona Marta com Alex, ele é muito pior. Ele não só me agride como também me estuprar, sim, é um estupro ele não tem meu consentimento mesmo sendo casada com ele, não lhe dá o direito de usar meu corpo sem minha permissão.

- Deus que o Senhor me perdoe, eu sou fraca e não suporto mais sofrer.

Encaro mais uma vez o veneno, coloco em minha boca, lágrimas correm livremente pelo meu rosto, não queria carregar este peso de tirar minha própria vida, mas não vejo mais saída.

Meu estômago revira uma ânsia estranha, corro para o banheiro e coloco todo o café para fora.

Alex aparece na porta do banheiro me analisando sério, pelo olhar sei que vem mais agressão, viro todo o vidro de veneno, e o vejo me encarar incrédulo.

- Sua filha da puta, desgraçada, por que fez isso? - Grita com raiva, tentando a todo custo enfiar o dedo na minha boca, travo meus dentes e não deixo. - Abre a porra da boca Anastácia.

Mantenho-me firme, ele e minha mãe não tiveram coragem de me matar, mas agora é tarde, só preciso esperar um pouco para que o veneno entre na minha corrente sanguínea.

Por um momento penso que Alex se importa comigo, tamanho o seu desespero em me impedir, mas essa ideia passa rapidamente quando ele se levanta e sai do banheiro me deixando sozinha.

Meu corpo vai ficando mole, já não consigo mais focar os olhos, tudo está embaçado, ouço uma movimentação, e o silêncio, tudo está em um completo silêncio, é isso? Assim é morrer? Acabou? Eu morri?

Sinto um cheiro estranho, minha cabeça dói parece que vai explodir, abro os olhos lentamente, a claridade quase me cega.

Quando consigo focar, vejo uma moça loira sentada na cadeira ao meu lado, está toda de branco, ela é linda, parece concentrada em alguns papéis, será um anjo? Eu morri e fui para o céu? Mesmo tirando minha própria vida? Não é isso que nos ensinam.

Tento me mexer e resmungo, ela desvia os olhos dos papeis me olha sorrindo, levanta e vem para perto, consigo ler em seu jaleco, Dra. Katherine Kavanagh.

- Bom dia, dorminhoca, como se sente? - Pergunta depois de me dar um pouco de água.

- Confusa.

- Imagino, bom você está aqui no hospital a quatro dias. - Me espanto com o que diz.

- Eu não morri? - Ela nega com a cabeça, começo a chorar desesperadamente, não acredito que vou voltar para o inferno que eu vivia, não quero nem pensar no que Alex será capaz de fazer comigo, o meu Deus por que não me levou?

- Não fica assim, tente se acalmar, se continuar nervosa, vou receitar um calmante para você. - Diz me ajudando a sentar e me entregando um copo com água.

- Obrigada.

- Eu sei o que aconteceu com você. - Penso que meus olhos vão saltar do rosto com o que acaba de dizer. - Quero que me escute, tudo bem? - Confirmo com a cabeça. - Não é preciso ser o gênio da lâmpada para saber o que você sofre, pelo seu corpo, pude perceber e entender o seu desespero, seu marido contou que você tem depressão e tentou se matar, que muitas vezes você mesma se machuca. - Ela me conta, e tudo que consigo fazer é chorar e negar com a cabeça, olho em volta percebo que só tem nós, duas aqui.

- Ele mentiu.

- Eu sei. - Diz segurando minha mão. - E é por isso que você está em isolamento, como se tivesse algo contagioso. - Me assusto. - Calma você não tem nada, achei seu marido estranho, antes de te transferir, entrei no seu quarto para te avaliar e ele estava tentando te enforcar, ele tentou disfarçar, mas eu percebi, por isso agora ele está proibido de entrar aqui, bom é uma longa história para um único dia.

- Obrigada.

- Não me agradeça por fazer meu trabalho, me agradeça se eu conseguir te ajudar.

- Você quer me ajudar? Por quê?

- Porque agora, não é só você Anastácia, agora você tem um bebê aqui dentro. - Diz colocando a mão na minha barriga, me fazendo travar. - Que depende da mãe dele ser forte e lutar para sair deste inferno.

- Não, não, não, eu não posso ter um bebê, eu não posso trazer uma criança para o inferno que vivo meus pais não me amam, minha mãe era igual meu marido, ele. - Solto um soluço. - Ele me agride, imagina o que vai fazer com um bebê, das milhares de vezes que me espanca até perder a consciência quem vai cuidar do meu filho? Não, não Deus, por favor, não. - A médica me abraça, choro todo meu desespero e medo por este inocente, eu só queria morrer, mas pelo jeito nem Deus e muito menos o coisa ruim me querem, eu devo ser o pior ser humano que já pisou nesta terra.

- Olha para mim. - Ela pede, limpando minhas lágrimas. - Eu quero te ajudar e posso fazer isso, mas eu preciso saber se você quer ser ajudada.

- Eu só não quero voltar para casa com ele.

- Então você não vai voltar Anastácia.

- Me chama de Ana, por favor, e obrigada.

- Tudo bem Ana, me chame de Kate, eu já volto.

Ela sai do quarto me deixando sozinha, eu vou ter um bebê daquele homem, eu não acredito nisso, se eu sozinha já era difícil imagina com um bebê, o que vou fazer da minha vida? Só resta me apegar à ajuda que a Dra. Kate vai me dar, se ela realmente for me ajudar, logo ela passa pela porta sorrindo.

- Ana, como eu disse, coloquei que você está com suspeita de doença altamente contagiosa, e por causa disso não pode ter visitas, você é formada em algo? O que sabe fazer?

- Não, só sei cuidar da casa e fazer comida. - Ela abre um largo sorriso, como se tivesse uma ideia brilhante.

- Ótimo você realmente está disposta a mudar de vida? Não quero perder meu tempo, ajudando quem não quer ser ajudado.

- Dra. Kate, eu fui ao extremo de tentar contra minha própria vida, você acredita que realmente não quero sair desta vida?

- Muito bem! Ana, agora se alimenta bem, que vou ver o que posso fazer, por você, mas anota este dia, a partir de hoje você vai descobrir o que é ser feliz na vida, eu prometo, ajudar vocês.

- Obrigada Dra. Kate.

- Só Kate, por favor.

- Tudo bem, obrigada Kate.

SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora