Capítulo 16

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Pv. Anastácia

Christian está sentado ao lado da minha cama, não faço ideia do porque ele está aqui, tenho medo de questionar, se bem me lembro nem mesmo sua família costuma contrariá-lo.

— Sei o que está pensando Ana. — Olho para ele sem entender.

— E o que estou pensando?

— Está tentando entender porque estou aqui se te tratei tão mal na casa dos meus avós, e esse pequeno v em sua testa me diz que está com medo de perguntar.

— Já que sabe, porque não responde?

— Nem sempre fui assim, fui endurecendo com o tempo, infelizmente as pessoas fazem de tudo por dinheiro. — Solta um longo suspiro. — Meus avós se apegam facilmente às pessoas, e isso eleva nossa preocupação, eles são muito carinhosos principalmente meu avô, e as pessoas tendem a confundir carinho e educação com interesse, há poucos meses atrás contratamos uma pessoa para fazer o que você fazia, nada mais do que isso. — Dou um aceno para que continue. — Certo dia, minha mãe levou minha vó para uma consulta de rotina, ao retornarem, encontraram meu avô dormindo e ela completamente nua ao seu lado na cama deles. — Abaixa a cabeça e nega, parece ser algo doloroso para ele contar.

— Não precisa falar.

— Sim, eu preciso, quero que me entenda sei que não justifica, mas que pelo menos tente entender a proteção que tenho com eles, você tem ideia do quão doloroso é ver as pessoas que você mais ama na vida sofrendo? — Nego, pois quem sofria sempre era eu. — Eu sabia que tinha algo muito errado nesta história, e imagino que pelo pouco que conviveu com os dois, percebeu como meu avô é. — Confirmo mais uma vez, porque realmente é impossível imaginar que ele seria capaz de trair Dona Iara. — Pois bem, minha vó passou semanas chorando, mesmo meu avô negando que havia acontecido algo, ele não se lembrava de nada daquele dia, aquilo estava estranho, no mesmo dia ela saiu da casa deles, mas antes disso Taylor revirou o quarto dela e encontrou um frasco, pegou e mandamos para análise, assim que saiu o resultado fui atrás dela para confrontá-la e ela confessou, que o havia dopado.

— Meu Deus! — Digo em choque.

— E isso não é tudo, parecia ser uma prática bem comum para ela, pois não era a primeira vez que fazia isso, descobrimos depois que a dona da agencia de empregos que ela trabalhava, estava com ela nesse esquema, ou seja, elas tentavam seduzir, quando não dava certo como foi o caso do vovô Teddy, elas dopavam tiram fotos fazia a pessoa acreditar que era verdade, e usava as fotos para extorquir a pessoa.

— Como podem existir pessoas assim?

— Por isso minha implicância e a insistência em um relatório sobre você. — Diz segurando minha mão. — Eu não podia mais ver meus avós sofrendo como vi a poucos meses, foi difícil acompanhar o sofrimento deles, meu avô se culpava por ter sido enganado e minha vó por ter se deixado levar pelo que viu, até que consegui provar para os dois foram semanas de sofrimento.

— Eu te entendo, em pouco tempo me apaixonei pelos dois, e como disse para sua mãe, não acredito que seu avô seria capaz de trair Dona Iara, o amor dos dois é lindo, foi a primeira vez que presenciei algo tão lindo. — Digo sincera.

Christian me olha por um tempo, sei que quer perguntar, mas não sabe se deve.

— Pergunta.

— Não se casou por amor? — Seus olhos para mim são intensos.

Nego com a cabeça.

— Porque se casou?

— Eu não sabia que me casaria. — Sua boca despenca. 

— Como uma pessoa não sabe que vai se casar Ana? — Questiona ainda perdido.

Não quero voltar no passado, mas imagino que seja preciso, quero que ele entenda a minha história e entenda de uma vez que eu seria incapaz de prejudicar qualquer pessoa.

— Eu nunca conheci carinho e amor. — Me olha por um tempo e permanece em silêncio me encorajando a continuar. — O que Alex faz não é algo incomum para mim, minha mãe me tratava da mesma forma.

— Ela te batia? — Pergunta em choque e confirmo.

— Ela já me deixou semanas sem me alimentar direito, o que tinha autorização para comer era somente para que me mantivesse viva, eu sempre era a última a comer, eu tinha que fazer tudo em casa, várias vezes faltei a escola por não ter condições de ir devido a surra que me deu no dia anterior.

Ele levanta e começa a andar de uma lado para o outro passando as mãos nos cabelos, percebo que é uma mania que tem quando está nervoso.

— Um mês antes do meu aniversário, ela me comunicou que eu me casaria.

— Te comunicou? Como assim?

— Meu pai pela primeira vez a confrontou e ela descontou em mim novamente, até que o líder da nossa Igreja esteve em casa e viu minha situação, estava há tantos dias sem me alimentar que mal tinha forças para ir ao banheiro sozinha, naquele dia eu não sei o que ele conversou com eles, minha mãe mudou completamente, apareceu com vitaminas e até comida na cama levava para mim, ela estava empolgada preparando meu aniversário. — Limpo uma lágrima. — Eu jurava que ela havia mudado e tinha medo de que voltasse a ser como antes, fiz tudo como ela queria, ela comprou roupa, sapato e até roupas íntimas, parecia que eu começaria a ter uma relação saudável com minha mãe, o dia do meu aniversário chegou e ela estava tão empolgada e feliz, me levou para o salão e passamos o dia lá, foi a primeira vez que fui em um salão, imaginei que em casa teria apenas um jantar de comemoração, mas minha surpresa veio quando cheguei, na festa tinha várias pessoas, o pastor nos chamou e fez meu casamento ali bem no jardim dos meus pais, não teve vestido de noiva uma cerimonia tradicional nada do que se espera de um casamento de verdade, apenas ele dizendo palavras de como eu deveria ser submissa e fazer tudo para agradar o meu marido e que a partir daquele momento eu deveria fazer tudo para que ele fosse feliz.

— Meu Deus! — Christian diz completamente em choque.

— Eu morri naquele dia, e de lá para cá, eu apenas sobrevivo aguardando o dia que Deus vai me levar.

Me olha agora assustado parece até um pouco irritado.

— Se eu pensava que minha vida era ruim na casa dos meus pais, eu não sabia o que me esperava, Alex é o próprio demônio em pessoa, ele não se importa com nada e nem ninguém,  apenas com ele e suas vontades. — Não consigo mais segurar minhas lágrimas e choro a dor de todo esse tempo que estive casada com ele, de como ele pôde ser capaz de fazer o que fez, comigo.

Sinto braços fortes me abraçando e um cheiro que me traz paz, é algo totalmente novo para mim.

— Chora Ana, coloque para fora toda sua dor. — Segura meu rosto com as mãos. —  Eu te prometo que ele nunca mais vai tocar em um único fio de cabelo seu, eu não vou deixar.

— Não posso trazer para sua família o inferno que vivo, eu disse para Kate e Elliot que não era certo eu agradeço mas não posso aceitar.

— Por mais que eu concorde e agradeço de verdade a sua preocupação com a minha família, mesmo que você queira não conseguirá mais fugir de nós, meus avós mal comeram desde que você sumiu Ana, Kate e Elliot não descansaram, minha cunhada até dias que não estava trabalhando veio para o hospital, para ver se você daria entrada aqui, e eu não consegui parar enquanto não te encontramos, peço desculpas por ter te julgado, mas agora quem não vai deixar você ir sou eu.

SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora