Capítulo 15 - Tudo Por Você

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Com a arma repousando inerte sobre a charmosa mesa de chá, Seonghwa finalmente permitiu-se um breve interlúdio, após uma inclemente e desgastante sessão de correção. Claro, não para ele. O silêncio era quase ensurdecedor, com exceção do sutil roçar do casaco estendido que acariciava a cadeira que ele ocupava. O rapaz, de uma postura altiva, observava as lentes de contato marrons com uma intensidade quase forense, segurando-as cuidadosamente na palma da mão. E, num gesto casual, lançou-as ao ar com um piparote, para que se perdessem por entre a sala, à conversação unilateral que mantinha, alheio aos gemidos quase inaudíveis da garota que jazia aos seus pés.

- Que invenção boba. - ele murmurou, revelando um toque de desdém. O estudante contemplava as lentes com um ar de perplexidade, indagando quando algo assim havia sido inventado. Sua voz, permeada pela aparente indiferença, ecoava na plenitude daquele momento, ignorando deliberadamente os arquejos dolorosos que escapavam da moça prostrada diante dele. - Como eles podem esconder olhos azuis tão bonitos? - questionou, com rastros de deboche.

Seu olhar, então, retornou à vítima da sua correção. Os olhos azuis, outrora radiantes, estavam agora obscurecidos pela exaustão e tontura implacável. Ela estava encolhida no chão, um corpo vulnerável, marcado pelos resquícios dos cruéis golpes do chicote. Os rasgos em sua camisa branca, tingidos de vermelho, eram testemunhas mudas dos tormentos infligidos. Com a mão direita firme sobre as costelas doloridas, uma lembrança do cruel chute que a impedira de se erguer, ela se assemelhava a uma frágil marionete em suas mãos. Momentaneamente em desuso.

O substituito era inegavelmente mais forte do que a diretora Nam Saeri, e essa superioridade se manifestava cruelmente a cada golpe desferido, sem que nenhum deixasse de criar os sulcos em carne viva. Tudo isso acontecia sem piedade, sob o pretexto da "disciplina". A escrava estava envolta em um suor frio, e embora a vertigem tivesse cedido um pouco, suas forças pareciam exauridas. Cada momento era uma luta para não sucumbir à escuridão que a ameaçava. A dor contínua a mantinha alerta, mesmo quando as pálpebras cediam aos efeitos de seja lá o que havia sido posto em seu chá. Como se seu estado não fosse suficiente, os golpes de seu algoz sempre a traziam de volta a consciência. Estava à beira do abismo, incapaz de fugir. Seu corpo era uma tapeçaria de feridas e desespero, suas unhas se partindo ao rastejar pelo chão. Nunca antes havia sentido uma vulnerabilidade tão intensa, e essa nova sensação diluía a resistência que sempre mantivera. Ela nunca havia sentido algo assim, a sensação de que padeceria em uma daquelas sessões de tortura, mas o momento havia chego. E as lágrimas silenciosas, que outrora ela não se permitia derramar em anos de abuso, correram por suas faces nos piores momentos, transformando o choro interno em um grito de angústia que ecoava na penumbra. E ainda assim, soltava apenas curtos arfares como único ruído. Ela havia mudado, irrevogavelmente, nesses minutos eternos de agonia, enquanto seu orgulho se desvanecia, e a única coisa que restava era o eco de sua esperança em desalento.

- Sabe... Se você queria encenar adequadamente, deveria ter recusado meu pedido de desculpas. - A voz voltou a soar em toda sua vileza, enquanto suas pernas se descruzavam ao se levantar. - Uma verdadeira mulher de status teria lançado suas queixas da porta, e ordenado que eu a encontrasse em sua residência para pedir desculpas de forma sincera, talvez enfrentando a ira de seus familiares.

Ele se aproximou de Minjeong com uma calma soberba, despojando-se do colete cinza acetinado e o jogando displicentemente num canto.

- Me diga, o quanto a princesinha a aprecia... a ponto de esconder sua identidade baixa e te trazer aqui? - Com as mãos nos bolsos, ele expressava genuína curiosidade. Se ela era claramente uma má atriz, as chances de ser uma golpista habilidosa eram escassas. Contudo, sua beleza... Talvez, pelos padrões modestos de Jimin, ela fosse suficiente. As perguntas eram inúmeras. - Ela não queria ficar longe de você em nenhum momento? Ou você seduziu a garota inocente e pediu a ela para fingir ser uma nobre?

Getting To Know Yu | WinRinaOnde histórias criam vida. Descubra agora