Capítulo 22° - "E?"

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Eu estava com o coração acelerado e nada saía de minha boca. Eu via tudo em câmera lenta. Dylan separando meu pai de minha mãe. Meu pai saindo transtornado de casa. Victor descendo as escadas com o rosto vermelho.

Minha mente estava um turbilhão. Minha garganta tinha secado, enquanto eu tentava de algum modo dizer algo.

- Allyssa, você está bem? - Conseguia sentir compaixão nas palavras de Dylan.

- E-estou. - Gaguejei. Aproximei-me de minha mãe, vendo ela com o canto dos lábios sangrando e com nódoas roxas pela parte de seus braços e face. - Mãe, foi o papai que fez isso? - Ela negou, mas Victor pronunciou pela primeira vez que ali chegou.

- Foi. Ela não quer dizer porque aquele monstro ameaçou ela, dizendo que se ela contasse para alguém iria matá-la. Eu tentei bater nele, porém ele deu-me um soco. E foi nessa hora que subi e te telefonei. - Explicou dando suspiros. Vi um hematoma embaixo do seu olho esquerdo.

- Por quê ele fez isso? - Dylan perguntou, não entendendo o porque da raiva de meu pai descontada neles.

- Eu... Eu briguei com ele por ter chegado bêbado esses dias em casa, até então ele tinha paciência, mas... Hoje ele foi bruto, frio e mais forte do que o normal.

- Ele fazia isso mais vezes? - Perguntei um pouco chocada.

Minha mãe assentiu.

Eu puxei meus cabelos, quase arrancando meu couro cabeludo.

- E, você? Por quê não avisou-me que mamãe estava sofrendo nas mãos do papai? - Direcionei meu olhar ao Victor.

- Eu não sabia, tá? Eu chegava em casa e via tudo destruído. Eu tentava perguntar e tinha medo da resposta. Foi a segunda vez que presenciei isso e não é minha culpa. Enquanto você vivia sua vida de contos de viver sozinha, ser adulta e ter liberdade, eu tentava de todas as formas ajudar a minha mãe, coisa que você não fazia desde que se mudou. Vê se veio visitar? Telefonou para saber notícias? Não. Você não fez nada. Então não venha cobrar-me nada. - Jogou toda sua frustração em cima de mim junto á suas palavras. Subiu correndo para seu quarto, chegando a dar para ouvir a porta dele bater.

- Vou falar com ele. - Dylan subiu as escadas.

Virei para minha mãe.

- Ah, mãe, não fica assim. Você sabe que se o papai é assim, é por algum motivo. Se ele voltar a fazer isso novamente, avise-me, pois ele bateu na senhora e isso é contra a lei. - Expliquei.

- Eu o amo, Allyssa. Você não sabe a dor que é vê alguém que você ama te machucar. - Respirei fundo, abraçando-a.

- Vamos esquecer tudo isso. Vou te levar para cima. Tome um banho e quando a senhora acabar, vou tratar desses machucados. - Levantei junto com ela, indo para seu quarto.

- Você deveria ter avisado-me, mãe. - Soltei um suspiro longo, preparando a água quente.

- Desculpa, filha. - Entrou dentro da banheira. Assenti, lentamente, aceitando seus pedidos de lamentação.

Quando minha mãe saiu da cama e vestiu suas roupas, eu peguei a caixa de primeiro socorros e pus acima da cama ao seu lado.

Peguei um pedaço de algodão e um... Como se chamava aquilo? Okay, eu não sabia o nome do líquido, só sei que era para limpar machucados.

Derramei um pouco do líquido sobre o algodão e fui de encontro ao rosto de minha mãe. Ela suspirava, pesadamente. Eu não culpava-a por não ter me contado, só fiquei chateada por ela não ter tomado cuidado. E, por diversas vezes, eu sabia que ela não tinha culpa de nada.

Depois de seus machucados limpados e protegidos com curativos, eu dei um beijo na bochecha dela e fui em direcção a porta, porém assim que pus a mão na marçaneta, ela chamou-me.

- Allyssa? - Virei, e fiquei quieta, esperando que ela continuasse. - Obrigada. Por tudo. - Dei um sorriso sem mostrar os dentes, desejando um boa noite, antes de sair pela porta.

Soltei um longo suspiro, quando fechei a porta atrás de mim.

Fui em direcção ao meu quarto. Ao abrir a porta, deparei com Dylan sentado na minha cama, ou seria ex-cama?

- Eu irei dormir aqui hoje por precaução, e você? Vai ficar também? - Arqueei a sobrancelha, indo ao seu encontro.

- Sim. - Sorriu fechado.

- Você pode dormir comigo. - Sorriu malicioso. - Porém... - Revirou os olhos.

- Porém o quê? - Perguntou, esperando que eu continuasse.

- Sem malícia. - Expliquei, sentando-me ao seu lado da cama.

- Prometo. - Pôs as mãos no alto, em sinal de rendimento.

- Então, você conversou com Victor?

- Sim. - Esperava ouvir algo mais, mas Dylan não disse nada.

- E? - Exclamei, querendo ter mais comentários sobre a conversa.

- E, agora, eu digo-te que é para dar um tempo para ele. - Abri a boca para dizer algo, porém ele levantou a mão para que eu nem dissesse nada. - Você vai dar um tempo para ele. - Afirmou.

- O que? Ele é meu irmão. Por mais que eu tenha sido um pouco grossa, ele tinha que ter tido consciência de que não era para ter escondido-me nada. - No final sou eu quem levo a fama de vilã.

- Eu sei, só que ele precisa de ar. Você pega muito no pé dele. - Esbugalhei os olhos, com a frase de Dylan.

- Comi assim EU pego no pé dele? - Perguntei, retoricamente, para os ares. - Só pode ter sido aquele pirralho que disse uma coisa dessa. - Resmunguei para mim mesma.

- Allyssa.

- Eu faço de tudo para não tornar-me a vilã, mas fazem de tudo para fazerem o contrário.

- Allyssa.

- E, sabe o quanto isso é frustrante? - Reclamei um pouco mais alto.

- ALLYSSA. - Assustei-me, quando ele pegou os meus pulsos e pôs para cima. - Você vai respirar e se acalmar. E, quando se acalmar, vai deitar naquela cama junto á mim e dormir. Entendido? - Assenti, sem piscar os olhos.

Minha respiração estava ofegante e eu tremia.

Quando acalmei-me, eu olhei para cima e vi os olhos de Dylan cansados e meio caídos. Como sou ingrata. Ele ajudou-me a noite toda e eu ao menos agradeci pela ajuda que deu-me.

- Vamos dormir. - Antes de ir para cama, Dylan deu-me um beijo molhado na testa e abraçou-me forte, reconfortando-me.

A Aposta - Volume 1 (revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora