Capítulo 32° - "Visitas e Decepções" Parte I

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Acordei, enxergando apenas a claridade, me cegando. Poderiam ter me acordado, assim eu não teria que dormir tanto. Devo ter dormido mais de 24 horas. Não que eu não estivesse satisfeita, porque eu parecia cheia de energia, ou talvez só parecesse mesmo, só que não tinha motivos cabíveis. Cabíveis? Essa palavra deve existir, mas eu nunca ouvi ou falei. De onde tirei isso?

Ao invés de tiro no braço, levei um na cabeça.

- Bom dia. - Uma das enfermeiras, cujo nome era Samara, pelo crachá na roupa branca, entrou no quarto branco, com uma bandeja verde escura na mão. Um pouco de café, um pão, um pote de frutas e um iogurte. - Está com fome? - Perguntou, pondo a bandeja no meu colo. Eu assenti, mesmo não tendo tanta fome.

- Argh! Esse café está amargo. - Resmunguei, quase cuspindo o café de volta para o copo.

- Desculpe, mas eu sigo regras para não balancear a glicose do paciente. O café é amargo assim mesmo, então toma. - Parecia minha mãe, só que um pouco mais nova, como se tivesse me obrigando a comer a sopa de ervilha que ela fazia, e eu não gostava.

- Okay. - Respondi, a contragosto. Não toquei mais no café, afinal, parecia muito mais amargo do que da primeira vez. Comi o pão, que só tinha manteiga, porque o miolo também não tinha.

A enfermeira se despediu, quando acabei com tudo, levando a bandeja consigo. Antes de sair ela disse que tinha gente querendo me ver.

- Minha filha. - Minha cabeça bateu nos seus seios, o que me assustou muito, pois ela me apertava tanto com seus braços, que eu me lembrei do braço.

- Mãe, também fico muito feliz em rever a senhora, mas meu braço ainda dói. - Comentei, e ela logo se afastou de mim, pedindo desculpas, e fazendo várias perguntas, entre seu choro. Podia-se perceber que ela ainda tinha uns hematomas, como se tivesse sofrido uma série de espancamento.

Depois que assegurei minha mãe que estava ótima, ela deixou outras duas pessoas entrarem. Uma de cabelos negros e a outra de cabelos ruivos. Lola e Bette.

Sorri, em eterna gratidão de elas não serem aquelas garotas que tem amigas, mas não a esquecem.

- Fiquei desesperada quando soube que você tinha sido sequestrada. - Bette se aproximou, com as mãos tremendos e os olhos marejados.

Estranhei ela ter dito "sequestrada", o que, na verdade não fui, pois tinha ido até o Mathias a favor da minha vontade. Mas, decidi não dizer nada.

- Que susto você deu na gente, garota. - Lola, a menos sensível e sentimentalista, mostrava o de pouco, disse, segurando uma das minhas desocupadas, já que a outra estava ocupada, pelo mesmo ato que Bette fez.

- Meninas, estou bem. Tirando o cansaço e a ardência no braço. - Parecia que não, porém eu estava cansada. Cansada até demais. Mesmo tendo dormido por quase dois dias, eu ainda tinha que recuperar as noites mal dormidas.

- Ainda bem, não é? Porque senão tivesse, Dylan trataria de te deixar para cima. - Minhas bochechas ruborizaram.

- Bette! - Lola a repreendeu, pelo seu comentário obsceno, e sem dúvida, desnecessário.

- Estou falando a verdade. - Respondeu, como se fosse óbvio o que foi dito.

- Em falar no Dylan, ele está aí. - Meu coração acelerou, igual bateria de samba no carnaval.

- Está? - Óbvio que estaria, completei mentalmente.

- Está! - Afirmou Bette, com uma pitada de "você sabe que ele está".

- Nós vamos sair e deixar ele entrar. - Sem mais delongas, Lola puxou Bette que, resmungou querendo me fazer companhia mais um pouco.

Respirei fundo, vendo os rapazes entrarem, perguntas e respostas vieram e se foram. Eles perceberam que eu não tinha a menor intimidade com eles para ter mais assunto além de um "oi", e logo foram embora, me desejando melhoras. Alguns parentes que haviam sumido, desde a última reunião em família, tinham aparecido a dizer que estavam preocupados comigo e que eu saíria dessa. Estava cansada de tantos beijos e abraços, de perguntas de como eu estava. Após mais algumas pessoas, a última com quem eu realmente tinha interesse de receber um abraço e palavras reconfortantes, apareceu.

A Aposta - Volume 1 (revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora