Capítulo 2° - Vizinho

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Acordei com um leve sorriso no rosto parecendo que eu estava com vontade de estudar hoje. Deu vontade de sair explorando o prédio e dar bom dia para os novos vizinhos. Levantei e fui direto para o banheiro, cantarolando alguma música aleatória que eu busquei na mente. Vesti um short jeans lavanda, uma blusa tomara que caia no ombro e rasteirinhas nos pés e, por fim, fiz uma trança embutida no cabelo. Ao menos me esforcei para me maquiar. Dei uma olhada no espelho do banheiro e confessava que para quem ia para o mercado comprar besteiras, até que não estava tão ruim. Suspirei ao ver a sala ainda desarrumada com algumas caixas espalhadas. Voltei para a realidade, pegando minhas chaves, trancando a porta e indo até o elevador. Ouvi barulhos no apartamento ao lado do meu, 203... Talvez eu fizesse amizade com algumas pessoas do andar ou ao menos tentaria. Enquanto esperava o elevador parar no meu andar, chegou um cara ao meu lado.

— Vizinha nova. — Murmurou baixo, mas de uma forma ou de outra eu tinha o escutado.

— O que disse?— Perguntei esboçando um sorriso fraco, olhando-o. Cabelos escuros, barba por fazer, nariz arrebitado e olhos claros. 

— Nada. — Sorriu sem graça e seu sorriso não era daqueles tipo do comercial da Colgate, mas dava para dizer que era uma graça. Devolvi o sorriso.

O elevador chegou e entramos juntos. Olhei de soslaio para ele e o mesmo me olhava. Senti-me um pouco incomodada. 

— Tem como parar de me olhar? — Virei-me para ele.

— Uma coisa linda como você é para ser observada. — O sorriso sem graça deu lugar a um astuto. Revirando os olhos, eu me contive para não ser grossa logo de primeira. No começo parecia que eu estava gostando dele mesmo com as meias palavras ditas, depois dessa deu até vontade de me jogar do último andar.

— Você é assim com todas ou é a primeira vez? — Cruzei os braços e ergui uma das sobrancelhas.

— Depende — Cruzou os braços da mesma forma que eu. Ele até olhou-me nos olhando e ficamos nessa de carregar o olhar um do outro até o elevador abrir as portas no térreo. — Com você pode ser exceção, se quiser. — Eu podia ouvir a risada assanhada querer sair de sua garganta e meu rosto queimar com a vergonha que eu sentia no momento.

— É bom conhecer pessoas como você, assim eu sei que é preciso me manter longe. — Exclamei, correndo de dentro do cubículo que aos poucos fazia eu sentir-me pequena. Era incrível a facilidade que as pessoas tinham de mudar nosso humor de uma hora para outra. Eu esperava não ter que cruzar com aquele homem novamente; a raiva e o constrangimento seriam tanto que eu teria que me conter para não esganá-lo ou me esconder rapidamente. 

Segui para o mercado a pé mesmo já que não era longe e eu não precisava de carro, pois vi a pequena distância ontem ao vim para o apartamento. Comprei apenas o necessário como pães, iogurte líquido, misturas para sustentar-me como o arroz e feijão e outros mantimentos.

Parei no caixa e um menino esguio atendeu-me.

— Oi. — Ele disse.

— Oi. — Encarei esperando que ele passasse minhas compras para colocar nas sacolas, enquanto pegava minha carteira para pegar o único cartão que eu tinha para pagá-lo.

— Vai pagar em dinheiro ou cartão? — Perguntou, encarando-me.

— Cartão.— Respondi-o, indo até as sacolas, depois de entregar a ele o meu cartão de débito. 

— Você é nova por aqui? — Perguntou, enquanto digitava algo rápido no pequeno teclado de números. 

— Não. — Estranhei um pouco a pergunta, esperando o cartão ser devolvido depois de ter digitado a senha na máquina.

A Aposta - Volume 1 (revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora