Capítulo 8° - "Lágrimas";

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Se pelo menos eu tivesse cabeça para pensar direito antes de fazer alguma coisa que me arrependesse depois, eu pensaria mil vezes antes. Sério. A vergonha foi vergonhosa. Querem saber o que aconteceu?

Bem... Depois da conversa que Lola teve comigo, fomos para o pé da Bette. Ela estava tão saltitante, que parecia que iria contagiar-me há qualquer momento. Por mais que fosse inevitável embarca nessa com ela, era impossível não se animar também.

Mas antes de qualquer ação minha, mexi em uns instrumentos como, o violão, piano, bateria... No momento fiquei apreciando a bateria, era bom o som que ela emitia, não que barulhos fossem meu forte, odeio barulhos. Explica aquele dia na casa do meu "vizinho" que, por um acaso, era Dylan.

Merda!

Todos meus pensamentos levam à ele. Sempre ele.

- Pensando em quê? - Tombei sem querer na bateria, fazendo um estrago horrível na mesma, com o impacto do susto que o garoto idiota me deu. Só queria um buraco no meio do chão, para esconder meu rosto corado. As pessoas estavam olhando para mim, como sinal de reprovação. Não foi minha culpa se o ser a minha frente, Dylan, teve a capacitada de me dar um susto. Ele ainda teve a audâcia de estender sua mão, se contendo para esconder o riso, para mim.

De primeira rejeitei, pois se foi ele que me fez cair aqui, não tinha o direito de me ajudar. Mas como não consegui levantar, estava presa com o pé na bateria e o cabelo preso em um dos ferros. Ele me ajudou sempre se segurando para não rir. E sério, eu estava era me segurando para não dar na cara dele. Por mais que eu conhecesse ele há pouco tempo, a raiva era enorme nas minhas véias.

- Amiga, está bem? - Bette e Lola chegaram juntas ao meu pé. Deveria dizer que sim, claro que sim. Ou elas gostariam de ser jogar na bateria com o baque do susto da voz do ser humano desgraçado?

- Claro. - Sorri cínica depois de soltar a mão de Dylan, bruscalmente.

- Bom, vamos ensaiar? - Bette disse não conseguindo conter o sorriso na face brilhava toda vez que dizia "ensaiar". Ela realmente estava entusiasmada com o grande dia. Já eu não estava tanto, pois vou refrescar a mente de vocês, fui quase obrigada a participar. Assenti, pensando se eu queria mesmo isso. Não que fosse algo ruim cantar, mas para mim que não soltava a voz, fazia tempo, era trágico.

- Vocês vão participar? - Dylan se pronunciou pela primeira vez, se intrometendo na conversa.

- Não está vendo? - Tentei parecer óbvia, mas na verdade foi um pergunta retórica.

- Na verdade, não. - Rebateu. Essa cara me deixa de cabelos em pé. Por mais que seja um gato, filho da diretora, merecia uma morte lenta e bastante dolorosa, não que eu fosse uma maníaca cumpulsiva, mas ele merecia tudo e muito mais. Garoto convencido.

- Sim. - Lola respondeu, interrompendo a troca de olhares entre mim e ele.

- Vocês vão ou não? - Bette estava impaciente com nossa demora.

- Vamos. - Dylan tomou a frente. Eles já estavam se dirigindo para a sala de teatro, onde tinha microfones e outros objetos para treinar acordes.

- Espera. - Tombei na frente deles. - Você vai comigo e com elas? - Perguntei apontando para elas.

- Não está vendo? - Arqueou a sobrancelha, tentando me desafiar, e ainda repetindo minhas palavras anteriores. Antes que pudesse responder, Lola tomou à minha frente, segurando em meu braço e no de Dylan, arrastando ambos para sala de teatro.

- Você não vai me obrigar a ficar na presença dele não, né? - Cochichei no ouvido da Lola.

- Ele vai estar na nossa presença, então sim, você vai ter que suportar ele. - Revidou, se calando, como se estivesse dizendo que a conversa terminava ali. Fiquei amuada. Não era obrigada a viver na presença dele, sempre que desse.

Odiava como as pessoas conseguiam me manipular de uma forma inexplicável. Odiava a forma de como tinha que ficar perto das pessoas que odeio. Entenderam, né?

Olhei de relance para a peste, que sempre me lançava um sorriso sacana como resposta.

Revirei os olhos sempre que podia. Me dava nervoso ter que suportar ele. Já não bastava ter que ver ele no prédio, ao meu lado, e ainda tinha que ver o mesmo na faculdade. Outras meninas fariam diferente, dariam em cima, trepariam com ele, cantariam ele até o mesmo cair no golpe da transa. Eu não, pois diferente dessas e outras, não curtia ficar pegando ou transando com universitários na porta da universidade. Muito menos de curtir festas, pode parecer ridículo ser filha de uma Testemunha de Jeová e ser uma rebelde em um dia e no outro uma santa. Mas é que, não sou desse tipo, atiradiça. Posso pegar uns rapazes ali, outras cás, só que depois do ocorrido que quase passei, nunca mais tentei confiar em um garoto ou homem. Me arrependo desde hoje em não ter escutado minha mãe; "Nunca entre dentro de carro de quem você não conhece", ela estava certa desde o começo. Respirei fundo tentando despachar as lágrimas que estavam por vim.

- Está tudo bem? - Dylan se aproximasou um pouco hesitante se devia ou não chegar mesmo até mim.

- Por quê não estaria? - Cruzei os braços, depositando meu peso na cintura.

- Porque seu rosto está úmido. - Apontou para minha face. Arregalei os olhos por impulso, depositando minha mão na mesma, sentindo minhas bochechas molhadas. Sai correndo dali. Eu prometi à mim mesma que não iria derramar nenhuma lágrima por esse assunto. Não é atoa que dizem que sou fraca, tentando bancar uma garota com características fortes. Ingênua? Só por ter dezoito anos não posso ser adulta? A razão de ter saído de casa foi por centenas de brigas com meus pais, a pressão deles em cima de mim, as perguntas aleatórias. Aquilo estava me transtornando, não conseguiria aguentar mais dias. Esperei dois meses depois de fazer minha tão esperada idade, logo fiz uma promessa à mim, de que não iria aguentar mais cobranças de meus pais, indo embora sem hesitar em voltar atrás. Mas hoje, me arrependia tanto.

Eu pensei que pelo menos fosse mudar minha vida ou meu caminho da mesma, pensei errado, agi por puro impulso. Era apenas uma menina de dezoito anos ainda, não amadureci, só acordei um bocado para vida. Para quando receber farpadas nela, iria revidar na mesma moeda. No momento nada é como parece ser, o apartamento vazio, o tédio, o escuro no meu coração, o buraco que está nele. As vezes é possível tampá-los com esparadrapo, mas aquele machucado iria continuar ali, ferido e aberto. Parecia uma garota de quatorze anos sofrendo por amor, sendo que estou a sofrer por minha vida ser uma completa desgraçada.

Mas ainda bem que você tem uma. Consciência idiota.

Me pus a ir deitando de costas para porta. O banheiro é público, mas é o único lugar em que posso liberar a mágoa.

- Abre a porta, Ally. Sabemos que você está aí. - Conseguia ouvir a voz de Bette e Lola me suplicando para sair do banheiro e me render à elas. Apenas não conseguia, cada vez mais meus soluços e fungadas se tornaram altos. Já não conseguia controlar o rio de lágrimas que insistiam em cair. Também não sei o porque de estar chorando num banheiro. Olhei meu estado, me derramando em lágrimas, sendo que não tinha justificativas para o fazê-lo.

- Vamos lá, Allyssa. - Reforçou Lola. Não quero. Não quero. Não quero.

- Me deixem em paz. - Minha voz sai embargada e cortada, mas alta o suficiente para que as mesmas ouvissem que estava tudo bem. - Estou bem, podem ir embora.

- Você não está. Abre logo à porta. - A falta de ar já me faltava. Não conseguia responder, meus olhos ardiam querendo derramar mais lágrimas, meu rosto queimava tanto que poderia se dizer que pegava fogo. Minha vista foi ficando cada vez mais turva e falhada.

- Ally? - Lola e Bette chamaram-me ao mesmo tempo. Minha voz não saiu.

Logo estava deitada no chão. Inconsciente.

Capítulo revisado (06/09/16)

A Aposta - Volume 1 (revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora