Capítulo 1 - Mudança

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Eu sentia uma imensa vontade de gritar, pois eu estava me tornando um pouco independente no momento. Mas me contive ao máximo por mais que o grito estivesse entalado na garganta. Empacotei o restante das minhas coisas na caixa. Daqui a duas horas, o carro da mudança estaria aqui para pegar minhas coisas. Vocês devem estar se perguntando por qual motivo um filho ficaria tão feliz ao sair da casa de seus pais.

Meus pais viviam jogando na minha cara que enquanto eu estivesse embaixo do teto deles, não sairia a hora que eu quisesse e muito menos voltaria. 

Não podia arrumar namorado, pois eles davam piti e isso acabava que me incomodando, fazendo com que meus relacionamentos durassem pouco.

Deveria dar explicações a eles de tudo o que eu fosse fazer, fora ou dentro de casa. 

E, também contar o que se passava comigo para termos uma relação saudável e sem desentendimentos, o que maioria deve saber que da minha boca não saía nada.  

Meus pais sempre iriam fazer o que pudessem por mim e para mim, não importasse o quão crescida eu estivesse. Chegava a ser incômodo pensar que eles não me deixariam crescer e enxergar o mundo da minha maneira.

Foram esses e outros motivos que me levaram a sair de casa. Não chegava a reclamar do mimo que eles sempre sempre me deram, jamais. Mas, acho que já estava na hora de respirar só. 

Iludida fui eu que ao fazer 18 anos achei que iria cair fora o mais depressa possível, mas a mensagem nessa idade era outra. Que você não se torna independente na maioridade.

Orei meses para que eu fizesse logo meus 18 anos para sair desse lugar que, normalmente, chamava de hospício. Minha mãe era uma religiosa que vivia sobre contos da igreja. Não julgava ninguém pela religião, mas desde que resolvi seguir o caminho da rebeldia, assim como minha mãe dizia, ela enlouqueceu com a hipótese de me prostituir às escondidas sem que a mesma soubesse. Como se eu fosse louca de desperdiçar minha vida deste modo.

Propôs regras que, claro, eu nunca cumpria, o que me faziam ficar de castigo por alguns dias. E hoje, com meus 18 anos consegui ter minha tão sonhada liberdade. Na verdade, tentei fazer com que eles concordassem que seria o melhor para mim e acabei conseguindo. Uma pena o Victor ainda não poder sair ainda. Ah, claro, ele ainda tem seus 15 anos e que, com certeza, quando for maior de idade vai sair voado. 

Meus pais não implicavam muito com Victor por ele ser menino e por acharem que o mesmo não dava tanto trabalho. Engano deles. Aquele garoto era mais impossível que eu.

Enfim...

Consegui um apartamento perto de onde meus pais moravam, localizado próximo ao centro de Manchester, que ficava na cidade de Reino Unido. Desci as escadas com duas caixas de papelão nas mãos, sempre olhando os degraus para não pisar em falso.

— Minha filha, não vai. — Minha mãe disse descendo logo atrás de mim. 

— Mãe, por favor, para de drama. — Rolei os olhos. Minha mãe encheu minha cabeça durante a semana para que eu não fosse embora. Querendo ou não, eu sempre fui muito apegada a mesma.

— Por favor. — Implorou, enquanto seus olhos começavam a encher-se d'àgua. Abracei-a tão forte que parecia que íamos nos fundir. 

— Eu voltarei sempre que puder visitar a senhora. — Sussurrei no seu ouvido afastando-me. Victor descia pelas escadas com cara de poucos amigos.

— Pelo visto alguém não acordou bem hoje.— Minha mãe brincou, enxugando os cantos de seus olhos.

— Não vá, Ally. — Veio ao me encontro e abraçou-me. Fiquei um pouco surpresa com o ato. Victor tendo a idade que tinha não costumava se expressar através de sentimentos. Sempre foi muito na dele, nem mesmo a mamãe conseguia tirar os segredos dele, mesmo que eles não fossem tão obscuros quanto eu imaginava. 

A Aposta - Volume 1 (revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora