Melhores Amigos, Mas Até Quando?

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Hoje pela manhã, o Senhor D - ou Dionísio, como ele gosta de ser chamado quando está de bom humor - me chamou para uma conversa. Ele estava, como de costume, com aquela expressão de tédio, sentado em sua cadeira preguiçosa cercada por latas de refrigerante de uva. Apesar de seu jeito desleixado, eu sabia que quando ele me chamava era porque algo importante estava acontecendo, ou pior: algo chato, que eu teria que resolver. Mas hoje, a notícia que ele trouxe realmente me pegou de surpresa.

- Elena, Annabeth e Thalia vão demorar mais do que o esperado para voltar - Ele disse casualmente, sem nem me olhar.

Como sempre errando meu nome mas dessa vez não me importei. Eu pisquei, tentando processar o que aquilo significava. Luke, que já estava agitado com a ausência delas, não iria gostar nem um pouco dessa notícia.

- E quem vai contar isso a Luke? - Perguntei, esperando que ele, como diretor do acampamento, fosse fazer isso.

- Você, é claro - Respondeu Dionísio, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. - Afinal, você parece gostar de cuidar de tudo por aqui. Muito proativa.

Ótimo. Eu, Ellen, ia ter que dar a má notícia. Porque, aparentemente, sou a garota para tudo no Acampamento Meio-Sangue. Sorri para mim mesma de forma amarga. Fazer o quê, né? Rsrsrs.

Deixei a Casa Grande com um suspiro, preparando-me mentalmente para a tarefa que me aguardava. Segui em direção ao chalé de Hermes, onde Luke tinha passado a maior parte do tempo desde que Annabeth e Thalia saíram em missão. O chalé de Hermes, conhecido por ser sempre o mais movimentado, estava ainda mais barulhento que o normal. Quando me aproximei, pude ouvir a música alta ecoando do lado de dentro.

Bati na porta com um pouco de hesitação. Não estava no clima para uma discussão, mas sabia que o humor de Luke não seria dos melhores. Celes, um dos filhos de Hermes, com um sorriso travesso e um boné torto, abriu apenas uma frestinha da porta, me encarando como se estivesse me avaliando.

- Quem é você? Por que está aqui? - Ele perguntou, meio desconfiado, bloqueando a entrada com o corpo.

- Sou só eu. Ellen - Respondi, confusa com o interrogatório. - O que está acontecendo aí?

Ele olhou por cima do ombro, como se estivesse checando algo antes de abrir a porta completamente.

- Só não conta pro Senhor D... - Disse ele, com um sorriso cúmplice.

Entrei no chalé, que estava fervilhando de risadas, música e brincadeiras. As camas estavam uma bagunça e havia travesseiros voando de um lado para o outro. Olhei ao redor, sentindo-me um pouco deslocada no meio do caos, mas continuei andando, procurando por Luke.

Demorou alguns minutos até que eu finalmente o encontrei. Ele estava em um canto do chalé, rindo e conversando animado com uma filha de Afrodite, que o olhava como se ele fosse o centro do universo. Respirei fundo, reunindo a coragem que me restava, e caminhei até eles.

- Luke, precisamos conversar... - falei, tentando manter a voz firme.

Ele me olhou de relance, mas logo voltou sua atenção para a garota ao seu lado.

- Agora não, Ellie... - Respondeu ele, como se o que eu tivesse a dizer não fosse importante.

Frustrada, me aproximei mais, parando ao lado deles. Minha paciência estava se esgotando.

- Precisamos conversar. Agora!

A filha de Afrodite, percebendo a tensão no ar, se levantou lentamente e saiu, lançando um último olhar para Luke antes de desaparecer no meio da multidão. Luke me olhou com irritação clara nos olhos, cruzando os braços.

- O que foi agora, estraga-prazeres? - Ele disse, com aquele sorriso provocativo que só me irritava mais.

Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo.

- Do que você me chamou?! - Perguntei, a incredulidade evidente na minha voz.

Luke, sem perder a provocação, respondeu:

- Estraga-prazeres. É o que você é, Ellen!

Senti a raiva borbulhar dentro de mim. Como ele podia falar assim comigo? Nós éramos amigos, desde sempre! E agora, ele agia como se eu fosse uma intrusa, só porque estava passando mais tempo com os filhos de Hermes.

- Desde que você começou a andar com os filhos de Hermes, você mudou! - eu disse, a voz tremendo de frustração. - Você não fala mais comigo, está agindo como um babaca, e nem sequer pensa no que diz!

Luke revirou os olhos, claramente exasperado.

- Talvez eu só esteja sendo eu mesmo, Ellen!

Eu podia sentir o olhar de todos ao nosso redor. A música havia diminuído, e as conversas cessaram. Agora, todos os olhos estavam voltados para nós.

- Não, você não é assim! Eu te conheço! Você não é babaca nem idiota como está sendo agora! - continuei, minha voz ficando mais alta com cada palavra.

Luke me encarou com raiva. Suas palavras vieram afiadas como lâminas.

- Você não me conhece! Você só está com ciúmes porque eu fiz novos amigos!

Suas palavras foram como uma punhalada. Eu tentei responder, mas tudo o que saiu foi a dor que eu estava tentando segurar.

- Eu te conheço, mas não te reconheço! Eu queria que tudo voltasse como antes... Antes de você ser esse babaca! - gritei, a frustração e a tristeza transbordando.

Luke deu um passo para trás, balançando a cabeça em negação.

- Para de ser chata. Você está até parecendo uma idiota! - ele disse, com desprezo.

Foi a gota d'água. Senti as lágrimas se acumularem nos meus olhos, mas não deixei que caíssem. Não na frente dele.

- EU TE ODEIO! - gritei, virando-me e correndo para fora do chalé.

Os olhares de todos me seguiram, mas eu não me importei. As palavras dele ainda ecoavam na minha cabeça, repetindo-se sem parar. Eu nunca imaginei que as coisas entre nós chegariam a esse ponto.

Corri para o bosque, tentando controlar a respiração ofegante. Sentei-me em um banco de pedra, o vento fresco acariciando meu rosto. Tudo o que eu queria era que as coisas voltassem ao normal. Que Luke voltasse a ser o garoto com quem eu podia contar para qualquer coisa, meu amigo.

Mas agora... tudo estava diferente.

1007 palavras

Ellen Graves, Enigma do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora