Eu acordei lentamente, sentindo o calor do sol em meu rosto e o suave balançar da brisa marinha. O cheiro salgado do mar invadiu minhas narinas, e, ao abrir os olhos, percebi que estava deitado em uma rede branca de ceda a, cercada por palmeiras que balançavam suavemente ao vento. Lembrei-me vagamente de uma batalha contra monstros marinhos e da sensação angustiante de estar sendo puxado para baixo, mas agora tudo estava calmo e sereno.
— Ellen? — Chamei, mas a única resposta foi o som das ondas quebrando suavemente na praia. Sentei-me e olhei ao redor, meu coração acelerando à medida que a preocupação se instalava. Onde estavam elas? Como eu havia chegado aqui?
— Bom dia, dorminhoco! — Uma voz melodiosa cortou o ar.
Eu me virei, e uma jovem de cabelos ruivos longos e encaracolados apareceu diante de mim. Seus olhos eram de um verde profundo e brilhante, e ela usava um vestido leve que dançava ao vento, como se estivesse viva.
— Ellen? — Perguntei, minha esperança subindo enquanto o reconhecimento tomava conta de mim.
— Não, querido. Calypso. (Calixo) — Ela respondeu, e um sorriso encantador se formou em seus lábios. — Você está em Ogygia, um lugar de descanso e cura. Eu cuidei de você enquanto estava inconsciente.
— Me curou? — Confusão aumentava. —Mas… — Minhas emoções se embaralharam.
— Aliás você fala enquanto dorme... Quem é Ellen? — Calypso perguntou com um tom de... ciúmes?
— Ellen... Ela é minha melhor amiga. — Digo um pouco hesitante.
— Então ela não é sua Penélope ou sua Antíope? Pelo menos não ainda. — Ela diz com uma certa inveja.
Calypso abre um sorriso doce e fala com um tom melodioso.
— Você pode ficar aqui comigo, Luke. Esqueça suas amigas. Este lugar é um paraíso, e eu posso te dar tudo o que deseja. — Calypso inclinou a cabeça, a expressão dela mudando para esperança.
Um aperto surgiu em meu peito. Calypso era linda e sua oferta era tentadora, mas a imagem de Ellen não saía da minha mente. Eu não podia ficar aqui.
— Não, eu preciso voltar. Eu tenho que encontrá-las. A aventura ainda não acabou.
— Por favor, fique. — A voz de Calypso se tornava mais insistente, e eu percebi uma mistura de preocupação e desejo em seu olhar. — Você não precisa se preocupar com nada aqui. Este lugar é seguro. Podemos ser felizes aqui.
— Calypso, — Eu disse, tentando ser gentil. — Eu agradeço, mas não posso. Tenho que voltar para Ellen e -
— Então ela será mesmo sua futura Penélope... — Calypso me interrompe.
— Penélope? — Pergunto, sem reconhecer o nome.
— Enquanto se prepara para sua talvez partida pode desfrutar dos prazeres dessa ilha silvestre.
Dias se passaram, e eu me dediquei a reunir materiais para construir meu barco. Cada tronco que eu cortava, cada nó que eu amarrava, lembrava-me de Ellen. Calypso me observava de longe, e eu podia sentir seu olhar constante nas minhas costas enquanto trabalhava. Havia algo reconfortante em sua presença, mas a culpa de estar lá, deixando minhas amigas sozinhas.
— Você não está cansado? — Calypso perguntou em um tom suave, se aproximando em um momento em que eu estava fazendo uma pausa. — Você poderia descansar um pouco e se divertir. Não precisa fazer isso tudo.
— Eu não posso parar agora. Minhas amigas precisam de mim. Não sei onde elas estão, e não posso ficar aqui esperando. — Eu não olhei para ela, focando no que eu tinha pela frente.
— Você não sabe o que está perdendo, — Ela insistiu, seu tom agora mais insistente. — Aqui, você não tem que lutar. Não tem que se preocupar. Você pode ter tudo o que sempre sonhou.
Suspiro e volto a trabalhar.
Eu continuei a trabalhar, martelando os pedaços de madeira, mas Calypso não desistia facilmente.
— Luke, a vida pode ser mais do que batalhas e perigos. — Ela falou, sentando-se em uma rocha próxima, os olhos brilhando sob a luz dourada do pôr do sol. — Aqui, você pode ter paz.
Eu soltei um suspiro, largando o martelo por um momento e finalmente a encarei. Ela era linda, com um ar sereno e uma oferta que parecia irresistível. Qualquer um poderia ceder a isso, mas algo em mim não conseguia aceitar.
— Calypso, — Comecei, escolhendo cuidadosamente as palavras. — Eu entendo o que está tentando fazer. E eu aprecio tudo que fez por mim, realmente. Mas... — Parei, buscando as palavras certas. — Eu não pertenço aqui. Tenho amigos que dependem de mim. Ellen depende de mim. E... bem, ela com certeza me mataria se eu ficasse aqui relaxando enquanto ela enfrenta os monstros sozinha.
Ela riu suavemente, mas havia um toque de amargura.
— Ellen, Ellen, Ellen... — Calypso repetiu, quase como se o nome fosse um espinho em sua boca. — Ela parece ser muito importante para você.
Eu me senti desconfortável, não gostava de ver Calypso assim, mas precisava ser honesto.
— Ela é minha amiga, e... — Hesitei um pouco, não querendo dar falsas esperanças. — E isso é o que importa agora.
Calypso se levantou, caminhando lentamente até mim. Quando chegou perto, tocou levemente meu braço. O toque era suave, quase imperceptível, mas tinha uma intensidade que fez meu coração acelerar por um segundo.
— Sabe, Luke, você merece mais do que uma vida de batalhas e perdas. — A voz dela era um sussurro sedutor. — Você merece ser feliz, e eu poderia te dar isso.
Eu a olhei nos olhos, sentindo o peso da decisão que tinha que tomar. A oferta dela era tentadora. Seria tão fácil simplesmente ficar, esquecer tudo e viver uma vida tranquila. Mas algo dentro de mim, aquela pequena chama de determinação, não me deixava ceder.
— Calypso, você merece alguém que queira ficar de verdade. — Eu disse gentilmente, afastando-me dela com cuidado. — Mas eu não sou essa pessoa. Não posso fingir que posso ser feliz enquanto as pessoas que eu amo estão lá fora, precisando de mim.
Ela deu um passo para trás, o sorriso doce desaparecendo lentamente, substituído por uma expressão que era quase... triste.
— Eu já deveria ter esperado isso, não é? — Ela disse com um leve toque de amargura. — Vocês heróis são todos iguais... sempre escolhendo a luta em vez de algo mais simples.
Eu respirei fundo, tentando não me sentir culpado. Não era uma escolha fácil, mas era a certa para mim. Eu sabia disso. E, apesar de tudo, algo me dizia que Calypso sabia também.
1049 palavras
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Ellen Graves, Enigma do Mar
Aventura1° história da coleção "Ellen Graves" Verão ☀️ Profecia: Quando a lua cheia ascender no céu, Três destinos nas ondas irão se encontrar. A filha do mar, destemida e sábia, Parte em busca da deusa aprisionada. Nas sombras de um amor antigo e traiçoeir...