Ellen Graves, Enigma do Mar

Lar, Doce Lar

Após uma longa viagem, quando cruzamos o portal do acampamento, a sensação de alívio misturada com a expectativa tomou conta de mim. Já dava para ouvir a agitação de longe. Assim que entramos, uma multidão de campistas correu em nossa direção, os rostos iluminados pela surpresa e curiosidade.

– Vocês voltaram! – Exclamou um filho de Afrodite da multidão.

– Estão bem? Algum ferimento? – Outra filho de Afrodite perguntou, a preocupação evidente.

– Vocês conseguiram! – Gritou alguém mais atrás.

– Demoraram pra... – Umm campista de Deméter começou a dizer, mas foi rapidamente interrompido quando Travis, com os braços estendidos, atravessou a multidão, abrindo caminho com autoridade.

– Saiam da frente! – Ele gritou, mas assim que me viu, um sorriso suave iluminou seu rosto. – Elinha, você voltou!

Eu ri, ainda me acostumando com a energia calorosa que só Travis conseguia transmitir. No instante seguinte, Connor apareceu ao lado dele, dando-lhe um tapa leve na cabeça.

– Óbvio que ela voltou, cabeção – Disse Connor, me lançando um sorriso travesso.

Percebi, então, que os gêmeos não estavam sozinhos. Ao lado deles, havia uma garota que parecia um pouco deslocada. Ela era baixa, de pele pálida, com olhos castanhos profundos que observavam tudo com intensidade. Os cabelos negros, cortados em um estilo wolf cut, lhe davam um ar misterioso. Ela ficou parada, um pouco atrás dos gêmeos, observando a multidão sem dizer uma palavra.

Antes que eu pudesse fazer mais perguntas, Travis pegou minha mão com entusiasmo.

– Vamos, temos que levar você para a Casa Grande e fazer um tour pelo acampamento! – Disse ele, quase cantando.

– Mas eu moro aqui há mais tempo que vocês. Duvido que tenha mudado muita coisa desde que saí... – Retruquei, mas Connor já segurava minha outra mão, ignorando meus protestos.

Luke riu da situação enquanto éramos arrastados pela dupla de irmãos. Ao mesmo tempo, Lyra se despediu, dizendo que precisava ir ao Conselho do Casco Fendido. Correu em direção à floresta antes que tivéssemos tempo de nos despedir adequadamente. No entanto, algo me chamou a atenção: a garota misteriosa ainda estava nos seguindo, sempre um pouco atrás, com uma expressão séria.

Quando chegamos à Casa Grande, Quíron já nos aguardava, o rosto calmo, mas com uma expressão pensativa. Ao nos ver, seu semblante se iluminou ligeiramente, embora uma sombra de preocupação permanecesse em seus olhos.

– Fico feliz que estejam bem – Ele disse, a voz carregada de alívio. – Mas precisamos conversar sobre tudo o que aconteceu na missão. Entrem, vamos discutir os detalhes.

Entramos e nos acomodamos para a conversa. Ao olhar para trás, percebi que a garota pálida ainda estava na entrada, observando de longe. Travis notou e, com um brilho travesso no olhar, fez um sinal para ela.

– Anda, Zoe, chega mais. A Elinha não morde – Brincou, piscando para mim.

Então o nome dela era Zoe. Ela deu alguns passos hesitantes, enfiando as mãos nos bolsos e lançando-me um olhar afiado. Algo me dizia que ela estava tentando medir minha confiança.

A reunião com Quíron foi longa, cheia de perguntas sobre a missão e sobre tudo que enfrentamos. Quando finalmente terminamos, Quíron nos dispensou, com um tapinha amigável no meu ombro e no de Luke.

– Aproveitem a noite, vocês merecem um descanso. Amanhã, retomaremos as atividades – Ele disse, com um sorriso gentil.

Mal tínhamos saído, e Connor já estava me puxando pelo pulso em direção ao campo.

– Olha só, ali é o chalé de Ares. Foi reconstruído depois que ele. Ops... Digamos que ele explodiu – Connor comentou casualmente, como se fosse algo completamente normal.

Eu ri, imaginando a bagunça que os irmãos provavelmente haviam causado.

– Vocês não têm jeito mesmo, não é? – provoquei.

– E ali fica o chalé de Hécate – Travis apontou. – Agora ele brilha no escuro.

– Brilha no escuro? – Perguntei, confusa.

– Longa história – Connor cortou, com um sorriso misterioso. – Mais adiante fica o lago.

– Ali é meu irmão imbecil – Connor acrescentou, fazendo um gesto com a cabeça na direção de Travis, como se ele fosse um objeto qualquer que estivesse largado por ali.

Travis respondeu empurrando o irmão, e os dois começaram uma troca de provocações que só eles entendiam. Eu os observei, sorrindo, me lembrando do quanto sentia falta dessa confusão amistosa.

Enquanto isso, Zoe continuava nos seguindo de longe, e Connor finalmente apontou para ela.

– Aquela é a Zoe – Connor disse casualmente.

Zoe parou, parecendo um pouco desconfortável ao ser notada. Logo depois, Travis continuou a apresentação, exibindo um cinto novo com orgulho exagerado.

– Esse é meu novo cinto supermaravilhoso e chique – Ele disse, girando o cinto como se fosse algum troféu.

Finalmente, nos guiou até o chalé de Hermes, um dos meus lugares favoritos no acampamento. Era ali que as coisas mais engraçadas e inesperadas costumavam acontecer.

Q.D.T ~

Após sairmos do chalé de Hermes, começamos a caminhar em direção ao lago, onde tudo parecia mais calmo. A noite já estava caindo, cobrindo o acampamento com uma tranquilidade acolhedora. Luke e eu nos sentamos na beira do lago, observando as estrelas que brilhavam no reflexo da água.

Um silêncio confortável se instalou entre nós, mas logo Luke quebrou o silêncio, pensativo.

– Você acha que nossas aventuras acabaram? – Ele perguntou, com um tom de incerteza.

Eu sorri e deixei minha cabeça repousar em seu ombro.

– Você sabe que não... – Murmurei, fechando os olhos por um instante. – Mas estou feliz que vou estar nelas com você.

O som suave da água batendo nas margens do lago nos envolvia, e por um momento, todo o cansaço e tensão desapareceram. Sabíamos que logo as responsabilidades e desafios voltariam a nos chamar, mas naquele instante, a paz era tudo de que precisávamos.

Ficamos ali, deixando o tempo passar, apreciando o silêncio e a presença um do outro, como se pudéssemos guardar aquele momento para sempre. Mesmo com as futuras missões nos aguardando, aquele breve instante era nosso, e isso bastava.

Fim, por enquanto

soecel

971 palavras