Espinhos e a Solidão

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Faz algum tempo que descobriram que Thalia é filha de Zeus, a vida dela virou de cabeça para baixo. A paz que ela costumava ter desapareceu completamente. Não importa o que aconteça, todos estão sempre pedindo algo para ela. Não é só que Thalia é poderosa - ela se tornou a "Líder do Acampamento", e com isso vieram grandes responsabilidades. Não que eu tenha algo contra, na verdade já estou acostumada, mas a verdade é que ela nunca mais teve tempo para mim ou para o resto da nossa pequena família.

Antes de tudo isso, nós tínhamos nossos momentos. Momentos de risadas, brincadeiras e cumplicidade. Mas agora, Thalia está sempre ocupada, sempre lidando com algo urgente ou importante. E eu fiquei para trás. Eu não culpo ela, não mesmo, mas dói. Luke, por outro lado, parece ter se adaptado melhor. Ele passa a maior parte do tempo com os filhos de Hermes, liderando seus próprios treinos e brincadeiras. Pelo menos aos sábados ele sempre faz questão de passar o dia comigo. Esses dias ainda são especiais, e eu realmente aprecio, mas não é a mesma coisa. Não é o suficiente.

Sinto falta de como éramos antes. Luke, Thalia, Annabeth e eu... uma pequena família unida. Agora, está tudo tão... fragmentado. Annabeth, por exemplo, está sempre com a cara enfiada em algum livro. Ela é incrível, inteligente, corajosa, mas parece que ela está em um mundo à parte, longe de mim. E eu? Eu estou sempre sozinha. Não aguento essa solidão, é como uma sombra que me segue aonde quer que eu vá. Odeio, odeio ficar sozinha! Mas o que posso fazer? Às vezes, me pego pensando se isso tudo seria diferente se meu pai me reclamasse. Se eu tivesse um deus como pai, talvez fosse finalmente reconhecida, talvez eu também tivesse um papel importante como Thalia.

Mas como sou "sortuda", é claro que isso nunca aconteceu. Todos os dias eu olho para o céu, esperando, implorando, por algum sinal. Mas nada. Meu pai nunca me reclamou. E essa falta de identidade, de pertencimento, me corrói por dentro.

Hoje, eu decidi que vou sair. Vou escapar do acampamento, nem que seja por algumas horas. Sei que é errado, sei que é perigoso, mas não aguento mais ficar presa aqui. Eu preciso disso, preciso de um momento de liberdade, só para mim.

Esperei a noite chegar, contando os minutos enquanto os outros no chalé de Hermes começavam a adormecer. Quando a noite finalmente ficou silenciosa, me levantei devagar e vesti uma manta preta para me misturar à escuridão. Meu coração estava acelerado, mas eu estava determinada. Saí do chalé de Hermes com o máximo de silêncio possível, me esgueirando pelas sombras.

Mas claro, como sempre, algo deu errado. Enquanto atravessava o chalé, esbarrei na quina de uma mesa. O impacto foi leve, mas o suficiente para soltar um gemido baixo de dor. Com os dentes cerrados, sussurrei para mim mesma, frustrada:

- Por que? Por que logo hoje?

Continuei minha fuga silenciosa, me movendo pelas sombras com cuidado. Estava quase fora do alcance do acampamento, o vento fresco da noite me envolvendo, quando de repente senti uma mão pousar no meu ombro. Meu corpo congelou, e por um segundo, meu coração disparou de susto. Quase gritei, mas ao me virar rapidamente, vi que era Luke.

- Pelos deuses, Luke! Que susto! - sussurrei, tentando acalmar meu coração que ainda batia rápido demais.

Luke arqueou uma sobrancelha, claramente curioso, mas com aquele sorriso despreocupado de sempre.

- O que você está fazendo aqui? Não deveria estar dormindo, pequena? - Perguntou ele, em um tom levemente provocador.

Eu revirei os olhos, irritada. Não estava com paciência para explicações. Esse era meu momento, e eu não queria ninguém interferindo.

- Não é da sua conta! - Respondi de forma ríspida, me virando para ir embora.

Luke recuou um pouco, surpreso com meu tom, e sua expressão se fechou um pouco, como se estivesse ofendido.

- Nossa, precisa ser grossa? - Ele retrucou, cruzando os braços.

Suspirei, sentindo a culpa imediatamente se instalar no meu peito. Luke não merecia minha raiva. Ele sempre esteve lá para mim, mesmo nos piores momentos.

- Desculpa... - Murmurei, baixando a cabeça. - Eu só... preciso dar uma saída rápida. Juro que volto antes do amanhecer!

Luke piscou algumas vezes, claramente confuso.

- O quê? Sair? Você está maluca? - Ele parecia não acreditar no que estava ouvindo.

Eu ergui a cabeça, encarando-o com determinação. Isso não era um capricho. Eu precisava dessa escapada, mais do que qualquer outra coisa.

- Confia em mim, só uma vez na vida! - Implorei, minha voz cheia de emoção. - Eu só quero sair... só por uma vez. Por favor.

Luke suspirou, claramente preocupado, mas os olhos dele suavizaram. Ele conhecia esse olhar em mim, sabia que não havia como me fazer mudar de ideia quando eu estava decidida.

- E você vai ficar bem? - Perguntou, com um tom mais suave.

Eu forcei um sorriso, tentando esconder a mistura de nervosismo e excitação que sentia por dentro.

- Vou... eu vou ficar bem - Respondi, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.

Ele hesitou por um momento, depois sorriu levemente.

- Promete de dedinho?

Eu não pude evitar soltar uma risada suave. Esse era nosso pequeno ritual, algo que fazíamos desde que éramos crianças. Estendi meu mindinho, e ele fez o mesmo. Entrelaçamos nossos dedos e eu respondi, com uma pontada de humor:

- Eu prometo de dedinho que vou ficar bem.

Luke sorriu, mais aliviado, e antes de nos afastarmos, ele se inclinou e beijou minha testa. Meu coração se apertou. Eu sabia que essa escapada poderia ser perigosa, mas eu precisava fazer isso. Precisava provar para mim mesma que podia.

Então, me virei e caminhei em direção à floresta. A sensação de liberdade era inebriante. O vento frio batia no meu rosto, e por um breve momento, tudo parecia possível. Mas essa euforia logo foi interrompida. Enquanto andava distraída, acabei esbarrando em um arbusto espinhoso. Um dos espinhos arranhou meu braço, mas antes que eu pudesse reagir, uma sensação estranha tomou conta de mim.

De repente, um sono profundo começou a me dominar. Era como se cada passo me levasse mais fundo no torpor. Não fazia sentido... o cansaço me invadiu de uma forma que eu nunca havia sentido antes. E, antes que pudesse lutar contra, tudo ficou escuro.

 E, antes que pudesse lutar contra, tudo ficou escuro

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☝️Última visão de Ellen antes dela desmaiar.


1057 palavras

Ellen Graves, Enigma do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora