Tempestade nas Sombras

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Continuação

A névoa espessa cobria o chão da caverna, agarrando meus pés, e eu me sentia presa num pesadelo. Cada passo fazia meus músculos tremerem, mas as adagas em minhas mãos me lembravam de que eu estava ali para lutar. Luke, ao meu lado, girava sua espada com precisão, mas até ele, sempre tão destemido, parecia hesitante diante da ameaça que nos encarava.

No meio da escuridão, Eurínome, a antiga deusa dos mares, permanecia imponente, uma tempestade em forma de mulher. Seus olhos brilhavam com uma luz fria e ameaçadora, e sua presença tornava o ar pesado, difícil de respirar. A cada movimento que ela fazia, o chão tremia, e as tochas nas paredes piscavam, como se temessem sua presença. Era como se o próprio mundo reconhecesse seu poder.

Luke foi o primeiro a se mover, lançando-se para um golpe rápido. Contudo, Eurínome desviou com uma leveza assustadora, como se já conhecesse cada movimento dele antes mesmo de ser executado. Um sorriso cruel se espalhou em seus lábios, e sua voz ecoou pela caverna, carregada de desdém.

— Vocês realmente acham que podem me derrotar? — Ela perguntou, com um toque de escárnio em cada palavra.

Luke avançou novamente, sua determinação implacável, mas foi repelido com facilidade. Ele caiu, mas se levantou com firmeza, os olhos fixos na deusa. Ela não mostrava sinais de cansaço; pelo contrário, parecia mais poderosa a cada segundo. Aquele combate não seria fácil, e eu sabia que hesitar significava perder.

— Lyra! — Gritei, minha voz soando mais desesperada do que eu gostaria. — Ache alguma fraqueza ou algo que possa nos ajudar! Qualquer coisa!

Minha amiga, escondida nas sombras, assentiu antes de desaparecer na escuridão, buscando algo que pudesse virar o jogo a nosso favor. Enquanto isso, tentei me concentrar, mas o riso de Eurínome ecoou pela caverna, cortante e gélido.

— Criança tola... brincando de heroína — Zombou ela, seus olhos fixos nos meus, cintilando com uma maldade quase palpável.

Engoli o medo que ameaçava me paralisar e apertei as adagas com mais força. Cada palavra dela despertava um fogo em mim, uma raiva que me impulsionava a continuar.

— Não importa o que você pense! — Respondi, minha voz um pouco trêmula, mas cheia de determinação. — Não vou deixar você vencer!

Luke, percebendo uma abertura, tentou atacar de novo, mas Eurínome desviou com um simples gesto de mão, lançando-o contra a parede com uma explosão de energia. Ele caiu com um baque, e meu coração apertou. A visão de Luke ferido me encheu de pânico, mas eu sabia que não podia me distrair.

— Aguente firme, Luke! — Gritei, minha voz ecoando pela caverna.

Eurínome me olhou então, com desprezo. Seu rosto era uma máscara de frieza, e seu tom carregava um desprezo profundo.

— Vocês, mortais, são tão frágeis — Ela disse, fingindo pena. — Você é igual ao seu pai, Poseidon. Tolo e arrogante.

Aquelas palavras foram como uma faca, atingindo um ponto fraco que eu tentava esconder. Minhas mãos tremeram por um instante. A raiva por Poseidon, por sua ausência e desinteresse, ardia em mim, mas eu sabia que ceder a isso seria o fim. Não podia me distrair com velhas mágoas. A batalha ainda estava longe de terminar.

Foi então que ouvi a voz de Lyra, um fio de esperança no meio da escuridão.

— Ellen! — ela gritou. — Em cinco minutos, quando a lua cheia aparecer, Eurínome vai perder o poder sobre a água! É a nossa chance!

Cinco minutos. Uma eternidade diante de uma deusa furiosa, mas era tudo que tínhamos. Olhei para Luke, que mesmo machucado, conseguiu se levantar e assentiu, os olhos brilhando com a mesma determinação de sempre.

— Vou distraí-la! — ele gritou, lançando-se contra Eurínome mais uma vez.

A deusa riu, mas desta vez percebi algo diferente em seu olhar. Um cansaço sutil, quase imperceptível. Talvez a luta estivesse desgastando-a também, mesmo que ela tentasse disfarçar. Sua confiança parecia começar a ceder.

— Vocês acham que podem vencer uma deusa? — Zombou ela, mas sua voz carregava uma leve nota de hesitação.

Luke continuou a avançar, suportando cada golpe, cada queda. Sua persistência era um lembrete de que, mesmo diante de forças além de nossa compreensão, não desistiríamos. Cada segundo era um passo mais perto da lua cheia, da nossa única chance.

Finalmente, um raio prateado entrou na caverna, banhando as paredes com uma luz suave e etérea. A expressão de Eurínome mudou imediatamente. Seus movimentos ficaram mais lentos, e ela pareceu hesitar, surpresa ao sentir seu próprio poder começar a se esvair.

— Agora, Luke! — Gritei, avançando ao lado dele para o ataque final.

Mas antes que eu pudesse alcançar Eurínome, senti uma pressão fria ao redor do meu pescoço. Ela me agarrou com uma força sobre-humana, erguendo-me do chão como se eu fosse um brinquedo, sufocando o ar dos meus pulmões. Luke tentou se aproximar, desesperado, mas foi repelido com um simples movimento de mão da deusa.

— Garota insolente! — Vociferou ela, com ódio. — Você é tão tola quanto Poseidon. Não entende o poder que enfrenta!

A dor se espalhou pelo meu corpo, mas mesmo naquela situação, eu não conseguia desviar os olhos dos dela. Havia uma chama de determinação que crescia em mim, uma vontade inquebrável. Eu sabia que aquele era o momento. Com o pouco de força que me restava, reuni minha energia e pressionei uma das adagas contra a mão dela.

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Continua...

Ellen Graves, Enigma do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora