POV: Ellen
Acordei com uma dor latejante na cabeça, como se algo estivesse martelando dentro de mim. Pisquei várias vezes, sentindo a mente confusa e pesada. A luz da manhã já atravessava as copas das árvores, me cegando momentaneamente. O que tinha acontecido?
Minha memória estava embaçada, mas logo começou a voltar. O som das folhas farfalhando ao vento, os cheiros úmidos da floresta... e a lembrança vívida de uma planta com espinhos perigosamente próximos. Olhei ao redor, e lá estava ela, a culpada pelo meu sono forçado: Thysticum-Hipnos. Seus espinhos finos e brilhantes brilhavam sob o sol, e eu imediatamente reconheci seu nome, uma mistura apropriada do poder de Hipnos, o deus do sono. Quem fosse ferido por ela adormecia por horas, talvez até dias, dependendo da dose.
Suspirei e esfreguei as têmporas.
— Maldito seja Hipnos. — Pensei.
Era exatamente o tipo de problema que eu não precisava agora. Thalia e principalmente Luke vão me matar. Já podia imaginar as reações deles — a preocupação se transformando em fúria.
Levantei-me rapidamente, ignorando a leve tontura que sentia, e comecei a correr em direção ao Acampamento Meio-Sangue. Felizmente, eu não tinha ido tão longe. O caminho de volta foi relativamente rápido, mas minha mente não parava de pensar em todas as broncas que eu levaria. Será que eles notaram meu sumiço? Ou melhor, quanto tempo eu estive fora?
Assim que cheguei perto do chalé de Hermes, tentei ser discreta. Talvez eu conseguisse entrar sem chamar muita atenção, tomar um banho e fingir que nada aconteceu. Mas esse plano foi por água abaixo no momento em que senti um par de braços fortes me abraçando por trás.
Dei um salto, o coração acelerado, mas logo relaxei ao perceber que era Luke. O aperto dos braços dele era inconfundível. Virei o rosto para olhá-lo com um sorriso sem graça, já sabendo que estava encrencada.
— Bom dia, Lu...
Ele, no entanto, não estava com humor para formalidades. Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele me apertou ainda mais forte, como se temesse que eu fosse desaparecer de novo. Sua voz saiu apressada e cheia de preocupação.
— "Bom dia"?! Você sumiu! Eu fiquei preocupado! Sabe o quanto eu me preocupei? Você podia ter sido raptada, morta ou se ferido gravemente!
Eu tentei me afastar um pouco, mas ele não deixou. Luke me mantinha firmemente contra o peito dele, como se precisasse sentir que eu realmente estava ali, viva e inteira. Não pude deixar de sorrir com o carinho exagerado, embora soubesse que, por trás disso, ele estava furioso.
— Está tudo bem, Luke. — Falei, tentando acalmá-lo enquanto dava um beijo suave em sua testa. — Eu estou bem, só acabei sofrendo o "poder" da Thysticum-Hipnos.
Ele se afastou o suficiente para me olhar nos olhos, a expressão de preocupação sendo lentamente substituída por uma mistura de surpresa e descrença.
— Thysticum-Hipnos? — Ele repetiu, como se tentasse entender. — A planta do sono?
Por um momento, Luke me olhou com os olhos arregalados, como se estivesse tentando processar o que eu acabara de dizer. Então, de repente, ele começou a rir. Não uma risada forçada, mas uma genuína, cheia de alívio.
— Então, enquanto eu estava aqui, quase enlouquecendo de preocupação, você estava... dormindo?!
Ele continuou rindo, e eu não pude evitar o riso que escapou dos meus lábios. A tensão e o medo que ele estava sentindo começaram a se dissipar, e, por um breve momento, o humor aliviou o peso da situação. Luke ainda ria enquanto eu tentava me justificar.
— Eu não fiz de propósito! — Protestei, mas minha própria risada traiu a tentativa de parecer séria. — A planta me pegou de surpresa!
— Claro que pegou! — Ele respondeu, zombando. — Você é como um ímã para confusão, sabia?
Ainda rindo, ele colocou o braço em volta dos meus ombros, e seguimos juntos para o chalé de Apolo. Assim que encontramos Thalia e Annabeth, ambas vieram correndo na minha direção. Thalia parecia à beira de uma explosão de raiva, mas, ao me ver inteira, seu rosto suavizou.
— Ellen! O que aconteceu? — Perguntou Annabeth, claramente aliviada.
Expliquei tudo o que aconteceu, desde a caminhada até o encontro com a planta maldita, e assim como Luke, elas começaram a rir. Especialmente Thalia, que balançava a cabeça, incrédula.
— Dormindo no meio da floresta... — Ela murmurou, rindo. — Isso só podia acontecer com você.
Depois de checarem se eu estava realmente bem, fomos ao chalé de Apolo, onde os curandeiros confirmaram que os efeitos da Thysticum-Hipnos haviam passado. A partir de então, tudo o que eu precisava era de descanso, embora o verdadeiro problema estivesse apenas começando: a bronca de Luke.
De volta ao chalé de Hermes, tomei um banho longo, tentando deixar a tensão ir embora junto com a água quente. Quando terminei, me vesti com algo confortável, já que hoje não tínhamos treinamento, e fui procurar Luke, Thalia e Annabeth.
Encontrei Annabeth ao longe, sentada em um banco, completamente imersa em um livro. Luke e Thalia, no entanto, vieram diretamente até mim, seus rostos sérios, como se estivessem prontos para uma conversa importante.
Thalia começou, sua voz firme.
— Ellie... o que aconteceu hoje nos deixou muito preocupados. Então, depois de conversarmos...
Luke a interrompeu, mais animado do que eu esperava.
— Decidimos que, a partir de agora, eu serei tipo o seu "guarda-costas". Estarei sempre ao seu lado, e tudo o que você for fazer, tem que me avisar antes.
Levantei as sobrancelhas, surpresa. Guarda-costas? Aquilo era sério?
— Espera aí, — levantei a mão, interrompendo. — Eu não me importo que você seja meu "guarda-costas", Luke, mas ter que te avisar de tudo o que eu vou fazer? Isso já é demais!
— É para sua segurança! — Luke insistiu, com um sorriso convencido.
— Eu não preciso de uma babá! — Respondi, já irritada.
Ficamos discutindo por mais alguns minutos, até chegarmos a um acordo. Eu prometi avisar Luke sobre qualquer aventura perigosa ou plano arriscado que eu tivesse. Ele, por sua vez, aceitou que não precisava ser informado de cada passo que eu desse.
No final das contas, achei o compromisso razoável. E, apesar de tudo, era bom saber que Luke estaria sempre por perto, me protegendo — mesmo que às vezes ele levasse isso um pouco longe demais.
1042 palavras
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Ellen Graves, Enigma do Mar
Aventura1° história da coleção "Ellen Graves" Verão ☀️ Profecia: Quando a lua cheia ascender no céu, Três destinos nas ondas irão se encontrar. A filha do mar, destemida e sábia, Parte em busca da deusa aprisionada. Nas sombras de um amor antigo e traiçoeir...