Estrelas e Aventura

11 4 5
                                    

O sol já tinha se escondido atrás das montanhas quando cheguei ao Conselho do Casco. Era uma parte do acampamento onde os sátiros mais fortes se reuniam, exibindo seus talentos e habilidades. A cada passo, eu ouvia o som de cascos batendo contra o chão de pedra e gritos animados ecoando pelas árvores. Meu coração acelerava, ansioso pelo que estava por vir. Sabia que precisava escolher um sátiro para me acompanhar na missão, mas, sinceramente, estava perdida. Todos eles pareciam tão... brutos. Todos, menos uma.

Enquanto os outros sátiros se exibiam com suas lanças, arcos e espadas, notei uma figura isolada, sentada em uma pedra, completamente desligada de todo o alvoroço ao seu redor. Seus olhos estavam fixos no céu, como se as estrelas guardassem um segredo que apenas ela pudesse entender. Diferente dos outros, que pareciam ansiosos para serem escolhidos, essa sátiro parecia estar em paz consigo mesma, alheia ao barulho e à confusão. Senti algo diferente naquele momento. Algo que me puxou na direção dela.

Com passos rápidos, me aproximei. Meu coração batia forte, mas tentei não demonstrar nervosismo.

- Oi - falei, tentando soar confiante, embora eu não estivesse. - O que você está olhando?

A sátiro piscou algumas vezes, como se estivesse voltando de um mundo distante, e virou a cabeça lentamente para mim. Seus olhos refletiam o brilho das estrelas, e havia uma calma neles que imediatamente me fez sentir... em casa, de certa forma.

- As estrelas - ela disse, num tom tão suave que parecia que as próprias estrelas estavam sussurrando. - Elas sempre me lembram de como somos pequenos, mas também de como fazemos parte de algo tão vasto.

Eu não esperava ouvir algo tão profundo. Era como se ela estivesse lendo meus pensamentos. Olhei para o céu, tentando entender o que tanto a fascinava, mas as estrelas para mim eram apenas... pontos brilhantes. Ainda assim, algo na maneira como ela falava me fez querer saber mais.

- Alguma constelação em especial? - perguntei, querendo parecer interessada, mas na verdade eu só estava fascinada por ela.

- Sim - ela respondeu, com um sorriso leve. - Já ouviu falar da constelação de Lyra?

Franzi o cenho, tentando lembrar se já tinha lido sobre isso em algum livro de mitologia, mas não consegui me lembrar. Admiti minha ignorância.

- Acho que não... Me mostra?

Ela apontou para um grupo específico de estrelas, e segui seu dedo, tentando enxergar o que ela via.

- Ali. Aquela formação pequena. Lyra é a lira de Orfeu, o instrumento que ele usava para encantar os deuses e os mortais. É uma constelação cheia de história, tragédia e música. - Sua voz estava cheia de admiração, e eu percebi que não estava apenas apontando para as estrelas; ela estava compartilhando uma parte de si.

Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dela. Algo na simplicidade e profundidade daquele momento me fez sentir uma conexão imediata com ela.

- Lyra... - sussurrei, testando o nome. - É lindo... Mas quem é você?

Ela sorriu orgulhosa, de uma maneira modesta.

- Meu nome é inspirado nessa constelação. - Ela fez uma pausa, como se estivesse esperando uma reação minha. - Me chamo Lyra.

Sorri, sentindo que tinha encontrado algo especial.

- Eu sou Ellen - apresentei-me, estendendo a mão. - Estou prestes a partir em uma missão e... acho que acabei de escolher quem quero que vá comigo.

Lyra piscou algumas vezes, claramente surpresa. Ela olhou ao redor, como se para confirmar que eu estava falando sério.

- Eu? - Ela parecia confusa. - Mas... os outros sátiros são muito mais fortes, mais rápidos. Eu não sou como eles.

Balançando a cabeça, fiz questão de deixar claro que não era isso o que eu procurava.

- Não estou procurando força ou velocidade, Lyra. Estou procurando algo mais. E você tem. Eu sinto isso. Além de que na profecia fala sobre estrelas e você parece saber muito sobre elas.

Ela sorri e parece lisonjeada. Equipe feita.

Q.D.T

Ouço a risada de Luke atrás de mim. Quando me virei, ele estava olhando para a minha mala gigante, balançando a cabeça com um sorriso de deboche.

- Ellen, sua mala está maior que você! Como é que você espera carregar isso em uma missão?

Suspirei, já acostumada com os comentários sarcásticos dele.

- Eu estou preparada para tudo, Luke. Você vai me agradecer quando precisar de algo que está aqui dentro.

Ele continuou rindo, claramente duvidando das minhas habilidades de organização.

- Ou talvez você tenha se preparado para uma mudança de casa, não para uma missão.

Dei de ombros, rindo também, e virei-me para Lyra novamente.

- Então, você está pronta?

Ela hesitou por um segundo, mas depois deu um sorriso que, de alguma forma, me tranquilizou.

- Se você está, então eu também estou.

E assim, começamos a caminhar juntos em direção ao porto. O acampamento estava movimentado com os preparativos, mas eu sabia que estava prestes a me despedir de tudo isso por um tempo. O vento trazia o cheiro do mar, e o som das ondas batendo nas rochas próximas me dava uma sensação estranha de excitação e calmaria ao mesmo tempo.

Quando chegamos ao porto, lá estavam Annabeth e Thalia, junto com outros campistas, prontos para nos ver partir. Annabeth foi a primeira a se aproximar, com seu jeito prático, mas sempre afetuoso.

- Lembre-se do que eu disse, Ellen. Intuição. Nem sempre o caminho mais fácil é o certo.

- Pode deixar - Respondi, tentando manter a voz firme, mas sentindo um aperto no peito. Essas despedidas sempre me faziam perceber o quão real tudo era.

Thalia, sendo Thalia, me deu um tapinha no ombro.

- Volte inteira. Não vá se meter em problemas que não possa resolver, ok?

Assenti, com um sorriso, e me virei para o barco. As despedidas feitas, era hora de partir.

O barco balançava suavemente nas águas escuras, esperando por nós. Subimos a bordo, e senti o vento ficar mais forte à medida que as velas eram levantadas. Subi até a proa, querendo sentir o ar no rosto, o cheiro do mar, a sensação de liberdade. Meus pés formigavam de excitação, como se houvesse uma eletricidade no ar.

Fechei os olhos por um momento, deixando o vento bagunçar meu cabelo. Meu coração batia forte no peito, não de medo, mas de pura expectativa. Quando abri os olhos novamente, o horizonte se estendia vasto e desconhecido à minha frente, e, pela primeira vez, eu me senti pronta.

A aventura estava apenas começando.

1060 palavras

Ellen Graves, Enigma do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora