Parte 11

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O quarto de decoração quase inteiramente branca, tinha uma enorme cama bem no centro e nela repousavam as duas mulheres, que vestindo roupas leves, trocavam carícias sutis enquanto encaravam o teto, ou algum ponto qualquer.

O tom claro da pele e dos cabelos da mais jovem contrastava com o dourado e os fios negros de Diana, mas a aparente calma de ambas, guardava uma mistura de sentimentos e sensações, uma dança voraz de pensamentos e lembranças.

Tudo naquele lugar inspirava calma na garota de aço, a decoração com obras de arte impressionantes, estátuas e colunas que lembravam a Grécia antiga, o piso de mármore branco, detalhes discretos em dourado em alguns móveis, que ao mesmo tempo a lembravam de Themyscira, tudo extremamente luxuoso e de ótimo gosto.

Kara se virou para a morena, mas foi Diana quem tomou a palavra.

– Como consegue levar o peso da Terra nas mãos? Como é ver e ouvir o mundo em sua forma mais completa e nua? Nada se compara a sua força e velocidade, juntas – confessou a amazona.

– Não acho que seja assim, você é tão mais forte do que eu – respondeu Kara em meio a um riso tímido.

– Sabe que não sou! Você poderia ter partido aquele meteóro em milhões de pedaços, se tivesse voado na órbita da Terra para pegar impulso, faria isso antes que ele caísse em poucos segundos. Não faz ideia do que é capaz de fazer!

A loira abriu a boca para dizer algo, mas nenhum som saiu de sua garganta e só o que conseguiu fazer foi engolir em seco. Kal-El tinha razão, ela era inexperiente e não sabia o que fazer com o poder que a havia sido dado. Tal pensamento a incomodou profundamente e Kara soltou o ar em um suspiro baixo.

– De que adianta, se não sou capaz de fazer bom uso do presente que a Terra me deu?

– Isso requer tempo – respondeu Diana em tom manso, notando a inquietação da garota e pousou a mão sobre seu rosto – Um tempo que você não teve, pois passou a maior parte da sua vida na Terra escondendo quem era de verdade e controlando sua força para não machucar as pessoas. Não se cobre tanto.

– E como é ter controle do tempo? Algo que todo ser do Universo deseja. Ver todas as guerras, todos os atos de paz, conhecer todos os idiomas, todos os livros, aprender sobre as pessoas, animais e desvendar todos os segredos do mundo – perguntou a kryptoniana, sentando na cama e encarando a outra mulher com mais atenção e notável curiosidade.

A dona do par de olhos castanhos abriu um sorriso breve e se sentou também, encarando a loira bem de perto, deixando seu olhar firme sobre o dela.

– É doloroso – respondeu baixo – Dói saber o quanto eles ainda têm a aprender, o quanto desperdiçam o pouco tempo que têm com coisas vazias, com a propagação do mal, do ódio e da violência, o quanto perdem por não saberem. Vê-los se esvaírem na existência, sem que nada faça sentido. E ainda que eu tenha o tempo, de muito pouco adianta.

O mar azul do olhar de Kara se perdeu completamente por um momento, enquanto as palavras de Diana a tocavam profundamente. Ela sequer imaginava o que a princesa havia visto e sentido em todos esses anos, mas sabia o quão as pessoas podiam ser cruéis com os demais e consigo mesmas.

– Eu gostaria de pedir duas coisas – os olhos de Kara estavam levemente marejados, mesmo que sua voz continuasse firme e no mesmo tom calmo – Que me ensine sobre tudo o que sabe, que divida comigo tudo o que conhece e que puder me mostrar, mas que divida também a sua dor, cada pedaço dela. Não poderia ser uma experiência completa, se eu não sentisse a sua dor da forma que é. Não quero que se feche em uma postura séria e indestrutível, agora que sei que sente tanto, ou mais do que eu.

Lições de uma guerreira - Mulher Maravilha e SupergirlOnde histórias criam vida. Descubra agora