Aquele que queria sumir

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Uma das poucas vezes que ele se encontrava sozinho naquele lugar desde que havia acordado lá mesmo, a pouco menos de um mês atrás, e desde então, ele vivia seus dias sem poder sair daquela ala em que foi colocado. Haviam outros como ele, disso ele tinha certeza, e que estavam ali a mais tempo que ele, pois ele estava começando a desenvolver uma ótima audição além de uma visão mais precisa. 

Antigamente, até para olhar a placa de um ônibus ele precisava de óculos por míope. Mas agora seus olhos pareciam esta melhores a cada dia o que o deixava bastante confuso e curioso. 

Tinha também a questão de que ele agora dormia durante o dia e acordava durante a noite, não muito diferente de como fazia antes mas ali era mais essencial que ele fizesse isso se não passava o dia inteiramente irritadiço, cansado, e com fome... muita fome, e não era fome de comidas industrializadas ou fast foods, era fome de sangue.  

Sim, pelo o que aqueles que cuidavam do local e daqueles que estavam ali haviam o contado, ele agora era uma criatura que jurava que só existiam em filmes para adolescentes na puberdade ver homens sem camisa e cenas de sexo completamente romantizadas... ele tinha se tornado um vampiro. Pois é, daquele que bebem sangue e não podem, em hipótese alguma, sair no sol. 

Quando ele acordou em uma sala branca bem esterilizada, cheia de bichinhos de pelúcia, coisas de borracha que mais pareciam aqueles mordedores que crianças pequenas usavam quando os dentes estavam começando a nascer, camas extremamente fofas e confortáveis, parecia como se fosse uma daquelas clinicas de reabilitação que ele já tinha sido colocado uma vez. Não havia internet lá e muito menos sinal de celular, o único telefone que ele havia visto era um telefone de fio que ficava na recepção e só. 

E, nossa, ele tentou muitas vezes sair daquele lugar, tantas vezes! Mas sempre acabava pego novamente por todos aqueles homens que eram muito mais fortes e velozes que ele. Ou seja, absolutamente igual a uma clinica de reabilitação. Mas ele tentava fugir não era apenas por causa do local desconhecido em que ele estava, mais sim como aqueles babacas estavam o tratando desde que ele havia despertado a primeira vez lá. Como se ele fosse a porra de um bebê de colo. 

Ele tinha hora para dormir, hora para acordar, hora para tomar banho e - se ler, ser banhado - sim, um terror que ele não imaginaria passar em sua vida com menos de 50 anos, hora para comer e - também ler, ser alimentado -, pois eles não tinham acesso ao sangue se não fosse pelas mãos dos cuidadores e cuidadoras que aparentemente trabalhavam naquele local, para alguns eram copos com canudinho, para outros, mamadeiras, como era o caso dele. Nos primeiros dias, ele havia se recusado a comer, afinal de contas não estamos falando de uma lasanha bem preparada e sim de uma mamadeira de silicone cheia de sangue humano, não era algo para abrir apetite em um ser normal. 

Bem, pelo menos era o que ele imaginava, as vezes, quando deixado sozinho com a mamadeira, ele desenroscava o bico e tomava o sangue rapidamente como se fosse um copo normal. A sua primeira cuidadora teve muitos problemas com ele, pois quando sua superiora notou que o bico de silicone não estava sujo com o liquido escarlate, a culpou por não ser mais atenta com ele como devia. 

Os banhos eram um pesadelo a parte, muito grito, muito soco que parecia não doer nada, e doía, nas mãos dele, porque aqueles brutamontes pareciam não sentir dor alguma! 

E então chegava o horário do inicio da noite logo após ele acordar e já ser banhado e alimentado pela primeira vez, em que ele era deixado junto com todos aqueles bichinhos de pelúcia estupidos, blocos, quebra-cabeças de mil peças, o que fosse, para a troca de cuidadores. 

- Olá, James, temos uma ótima noticia para você! - disse a cuidadora mais antiga daquele lugar, ele sabia porque havia escutado alguém dizer isso mas na aparência dela não tinha nada de velha. Ela entrou a ala em que ele se encontrava deitado de barriga para cima com os braços para trás de sua cabeça, a apoiando. 

Avenida dos Sonhos QuebradosOnde histórias criam vida. Descubra agora