Aquela que reage

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Tudo que Eliza menos queria era ser a vilã agora. Desde que soube da existência de Jimmy e de como ele agora era sua responsabilidade, ela havia se esforçado bastante para criar um ambiente mais leve e tranquilo para ele. Por ser um recém-nascido vampiro, era normal que suas emoções e sentimentos estivessem a flor da pele, isso poderia justificar o tanto de palavrões que ele falava, mas também explicava sua grande vontade de fugir de tudo aquilo. 

Ser um vampiro bebê em um clã nunca era fácil, principalmente se a transformação veio depois da chegada de sua fase adulta como humanos, retornar ao inicio, aceitar ordens, o descontrole com seu próprio corpo, a desvalorização de seu passado como humano e a relativização de pudores era um combo perfeito para um verdadeiro desastre. Eliza conseguia entender isso, ela foi uma vampira bebê, sua mãe não poderia ser considerada a mãe do século e seu pai, bom, essa era outra historia. 

Os vampiros do sexo masculino não tinham tanta importância assim no mundo como as obras fictícias faziam parecer, sempre eles a frente de tudo, a comunidade dos vampiros era resumida em matriarcados o que deixava os vampiros homens um pouco mais de canto, sendo bastante uteis para seus clãs quando o assunto era formar alianças por meio dos casamentos. 

As mães eram o centro de tudo, o poder dos clãs. Eliza não entendia isso mais profundamente até que viu uma de suas irmãs virando mãe, mas agora, ela estava conseguindo enxergar melhor como era difícil ter esse status de mãe de alguém. Mesmo que fosse apenas no papel. 

E agora ela era uma mãe prestes a castigar sua criança a primeira vez e o pavor pulsava em seu peito. Apesar as instruções de Mary anteriormente, ela ainda não conseguia se ver totalmente pronta para isso mas não deixaria que Jimmy percebesse, pensava em como sua mãe não demonstrava sentir nem um pingo de culpa ou hesitação quando ia puni-las quando crianças, sendo que Eliza não queria nada mais do que deixar esse assunto para lá e se enfiar na cama novamente. 

Ela tinha tomado um banho breve em seu quarto e trocado de roupa para um vestido que ia até seus joelhos de cor off white com uma faixa azul abaixo de seu busto, seus cabelos foram presos em um rabo de cavalo bem baixo e em uma pequena fração se segundos, Eliza quis desistir. Era ela sozinha para lidar com um furação de sentimentos que era aquele menino.

A vampira grisalha se viu totalmente em um impasse. Ela poderia deixar isso para lá e apenas deixar Jimmy com um aviso de que da próxima vez não iria ter tanta sorte. Ou ela poderia fazer isso logo e encerrarem esse assunto de uma só vez, porque se com duas fugas o garoto quase conseguiu a proeza de se matar indiretamente, imagina o que poderia acontecer em uma terceira tentativa. Não, ela engoliu totalmente a primeira opção. 

Isso não poderia acontecer novamente. 

Eliza tentou conter seu peito se apertando e seu coração pulsando rapidamente antes de sair do próprio quarto e caminhar em direção ao quarto de Jimmy, rezando para que ele não tivesse fugido pela janela novamente pois se isso tivesse acontecido eles teriam que providenciar grades nas janelas do garoto logo mais. Antes que ela perdesse aquela misera gota de coragem que estava sentindo, virou a maçaneta da porta e adentrou o quarto lentamente. 

Felizmente para todos, Jimmy estava lá. Já sem sua jaqueta, descalço e deitado sobre a cama com os braços para trás apoiando sua cabeça. Ela soltou um suspiro aliviado antes de se aproximar da cama dele. 

- Jimmy...

- Vá embora. - ele respondeu bruscamente e ela quase pode sentir uma pontada de aborrecimento, ele estava sendo teimosos mesmo naquela posição! 

- Sinto muito, mas não irei. - ela determinou, estreitando seu olhar em direção ao menino deitado que olhava para o teto como se fosse a coisa mais interessante do mundo. - Precisamos conversar e eu apreciaria muito que você se sentasse para isso. - Eliza cruzou os braços sobre o busto vendo Jimmy soltar uma risada irônica.  

Avenida dos Sonhos QuebradosOnde histórias criam vida. Descubra agora