Prólogo

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O amor procura o amor como o estudante que para a escola corre: num instante. Mas, ao se afastar dele, o amor parece que se transforma em colegial refece.

Romeu e Julieta - William Shakespeare

Vivemos em um mundo onde as pessoas perguntam primeiro onde você estudou e depois o seu nome. Os tipos de pessoas que se acham tão orgulhosas para medir o que você irá se tornar no futuro, sequer percebendo a qualidade que talvez exista em seu interior, e depois, após analisarem sua futura profissão, esquecem de perguntar seu nome. Sempre me certifiquei de manter a distância destes certos indivíduos, isso resultava em minha paz interior. Desde cedo fui instruído — forçado, na verdade — a ter uma boa educação e estudar até que meus olhos caíssem por completo, pude reconhecer que isso fez bem para mim, aliás, sempre observei os inquietos em minha sala de aula se remoendo com medo de sua reprovação. Por outro lado, nunca tive de me preocupar com minhas notas.

Ao menos, eu tinha sorte em ter minha pequena roda de amigos, bom, pequena até demais. Robbie e Makena, somos amigos desde a infância, e eram generosos demais ao ponto de vagarem comigo pelos corredores lotados do Ensino médio. Sempre fomos reconhecidos como os nerds, tínhamos as notas mais altas da sala, e isso sempre nos tornava alvos de provocações. Makena era como minha segurança simpática: a pele negra semelhante a chocolate e os cabelos cheios e crespos, visualmente estonteante e encantador. E Robbie, era como eu, um adolescente gay e assumido andando pela escola, e também, um ótimo amigo que sempre me dava ótimos conselhos. Ambos eram meu milagre pessoal.

Sou uma pessoa que gosta de preservar coisas. Não como a natureza, e sim, coisas do tipo que me traziam para a realidade mais próxima de mim. Como as cartas de amor. Eu sempre decorei elas com carinho, embora nunca fosse as entregar a seus pretendentes, e nelas, eu destacava todos os meus sentimentos mais profundos. E ao final, as escondia numa caixa vermelha felpuda embaixo de minha cama.

A primeira que escrevi foi para Lucas Clark. Ainda hoje um dos melhores atletas em nossa escola. Estudávamos juntos desde o quinto ano, e eu praticamente o vi crescer. Embora sua aparência seja extraordinária, eu nunca o presenciei agarrado com uma garota. Minha afeição com ele foi um tanto breve desde que nos vimos na fase da adolescência, mas quando o vejo no campo ainda me sinto ansioso.

 Minha afeição com ele foi um tanto breve desde que nos vimos na fase da adolescência, mas quando o vejo no campo ainda me sinto ansioso

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A segunda carta foi para Christopher Park. Seu rosto como porcelana, uma das características mais chamativas em um idol de K-pop. Ter um namorado com traços asiáticos sempre foi meu sonho, quase que uma preferência, mas a possibilidades de tê-lo era impossível. Sua namorada era Mia, uma das integrantes do grupo mais popular da escola, irritante e aborrecida como o restante de seu grupo. Ainda que mantiveram seu relacionamento a alguns anos eles viviam entrando em conflito. Parecia que não fosse mais durar. Ele era tão popular quanto ela, o suficiente para que não fosse me notar em meio a multidão.

 Ele era tão popular quanto ela, o suficiente para que não fosse me notar em meio a multidão

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A terceira foi para Elliot Salvatore. Nerd e solitário como eu, sua única diferença seria não ter pelo menos uns dois colegas andando enlaçados por toda a escola. Sempre o vi como minha imagem especular, sem dúvidas era o que mais combinava comigo em todos os aspectos. Ele era exageradamente adorável, o bastante para que meu rosto corasse sem parar quando ele se aproximava. Um dos únicos que posso intitular como meu colega, já que sempre certificou-se de me encontrar já sentado na cadeira e me desejar um bom dia.

 Um dos únicos que posso intitular como meu colega, já que sempre certificou-se de me encontrar já sentado na cadeira e me desejar um bom dia

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E a última carta foi para Blake Williams. Ah, Blake. A carta mais ornamentada e cheirosa entre as outras, as extremidades completamente preenchidas por um lápis de cor azul bebê. Ele era o amigo mais próximo de Christopher, sempre andavam juntos. Também já fomos amigos de infância, onde nos separamos por conta de um pequeno conflito. Quando eu batia de cara com ambos desfilando pelo corredor não sabia em quem me fitava mais, mas sempre optei por abaixar a cabeça e ofegar silenciosamente. Blake jogava futebol como ninguém, chutava a bola graciosamente até o meio do gol sem que existisse alguma dificuldade; seu sorriso sempre abria-se como um leque cor de neve encantador e nocauteador, que para minha tristeza, não se aplicava só para mim. Se o que eu sentia fosse amor ou simpatia, não soube dizer. Ele já namorou tanto que perdi minha contas.

 Ele já namorou tanto que perdi minha contas

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As Cartas de BenjaminOnde histórias criam vida. Descubra agora