Capítulo 1

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Pondo minha bíblia de lado, com suas gravuras a ecoar em minha mente, o contraste de tua capa preta sobre meu branco lençol, deitei-me para tentar ter um pequeno descanso. Meus olhos ardiam, causa das noites mal dormidas, por Satã minha alma vinha sido atribulada, tentada, mas em Cristo eu me segurava.

Até que então, ouviu-se uma voz serena soar pelo rádio, que entrava pelos meus ouvidos tal qual uma doce melodia de um cânticos da igreja, que o coral que eu costumava participar cantava, em minha saudosa Santana dos Ferros.

Uma voz angelical, trazia calmaria, entregava paixão, súplica, fé em Deus.

Meus batimentos cardíacos tornaram-se afobados quando por fim me dei conta de quem pertencia a voz.

Culpei-me por ter sido tão distraído.

Era ela.

Hilda Furacão.

Que pela última semana, habitará minha mente. A causa de minhas noites mal dormidas.

Eu era apenas capaz de pensar no meu milagre. E naquele sapato, que eu mantia sob meu travesseiro todas as noites, todas as manhãs.

E ela pedia encarecidamente para ter ele consigo novamente, com súplica em seu tom de voz.

"Uma recompensa será dada para quem o trazer de volta para mim! Com muito carinho. É meu sapato de estimação, meu favorito, peço por favor que quem o encontrar o traga para mim."

Recompensa.

A palavra ecoava em minha cabeça. Junto com a voz.

Naquela noite soara tão diferente.
Na voz que agora havia mansidão, ao se direcionar a mim falava com todo ódio preso em seu peito. A voz era rouca. Lembro do exato tom da sua voz quando ela gritara comigo.

Lembrava de suas palavras.

Como me desafiara.

A recordação era vivida em minha mente.

Mas independentemente das palavras horríveis que foram direcionadas a mim, eu sabia que algo nela havia mudado, no momento em que nossos olhares se cruzaram, foi notável, quase palpável.

Mas então, a ouvir no rádio diminuiu minhas expectativas.

A recompensa.

Eu sabia o que significava.

Fornicação.

Um arrepio percorreu por cada centímetro de meu corpo.

Meu olhar se direcionou para meu travesseiro, o local onde o sapato estava escondido.

Seria mesmo um milagre? Ou apenas o diabo me tentando?

Meu corpo tremia em resposta aos meus pensamentos.

Eu não tinha total noção do que acontecia entre um homem e uma mulher.
Lembro-me de que quando Roberto perdeu sua virgindade, em plenos quatorze anos, ele veio correndo até mim e Aramel para nos contar.
Ele dizia que se sentia no céu. Como se o mundo todo em volta tivesse parado, e ele estivesse a ser transportado para outra dimensão, algo sublime.
Que seu corpo inteiro formigara, que ele sentiu o momento exato em que deixou de ser um menino para se tornar um homem.
Eu o repreendi, me lembro, por ele ter dito se sentir no céu.
E ele, por respeito à mim, nada mais me contou sobre os atos libidinosos que cometera.
Mesma coisa com Aramel, ambos tinham sequer um resquício de escrúpulo e respeito.

Eu tinha curiosidade, sobre como era. O toque dos lábios de uma mulher sobre os meus. O que entre quatro paredes poderia vir a acontecer. O calor do corpo. O veneno que habitava no seu ser. Mas eu nunca cairia em tentação, era como uma doença, me tornava febril, mas era passageiro, a aspirina por mim era engolida, suprindo as necessidades de minha imaginação.

A meretriz - Hilda Furacão Onde histórias criam vida. Descubra agora