Em tal gélido chão minhas costas pendiam em assoalho de madeira escura, cor de carvalho, que emanava o frio, que em meu corpo causava arrepios, a eriçar-se em toda sua extensão, sentindo a amargura do tempo, em tal conjuntura a tamanha tempestade que do lado de fora se derribava em adverso a laje, que sustinha nossos corpos, que abrigava de tamanho desastre. Podia se ver pela janela a cair pela calha, deslizando, litros daquela temível, que inundava, a deixar qualquer um em preces, a fazer com que qualquer descrente se pusesse de joelhos, aquele que a coragem de se pôr para fora, teria seu corpo sobreposto até ultrapassar a panturrilha. Sentia o oscilar do vento, que portava cada uma de suas milhares gotas para distintas orientações, se dissipavam contra a terra. O Céu parecia estar em guerra. Todos os anjos com suas espadas de serafim em uma batalha sangrenta, culminando nos barulhos apavorantes. Era temível. Jamais tão cruel temporal por mim havia sido contemplado. O céu em total negritude, intenso como um mar ressacado, pronto para consumir qualquer coisa que a ele se opusesse, as nuvens selvagens, praticamente correndo pelo tempo. E não havia indícios de quando aquela tormenta iria entregar-se ao epílogo. Ela por ventura duraria. Sem a previsão de partida, ela continuava, cruel e desesperadora. Sem a vontade da partida. Tudo prosseguia.
Nenhuma sequer palavra foi dita até então, não contando é claro com o dialeto por aquela de fora, que em berros estava, mas som tão belo era, que eu ao certo não o sabia se com maestria uma opera cantava, ou se então um poema declarava, mas romantismo não era seu forte, ela rugia, irrompendo do céu aquele que o cortava ao meio. Eram como uma mensagem divina, com tamanha claridade. Quando criança, achava aquilo serem faíscas do Céu. Em meio a tal orquestra, era possível ouvir um ressoar de um tambor, batidas afoitas, a bombardear sem sequer um aviso, interrompendo o majestoso. Uma respiração pesada e olhos parcialmente vidrados. Era ela. Que tentava buscar em seu próprio corpo proteção, as mãos envolta de suas panturrilhas, o rosto convertido em uma careta de falsa superioridade, os olhos de vez em quando, encarando com temor a janela, que trepidava com tamanha força do vendaval. Em busca de refúgio, tudo o que mais ganhava era medo e estremecimento. Se era possível com mãos segurar o vento? Talvez não com essas, mas com o corpo inteiro. Por toda sua extensão percorria cruel furacão, avassalador, com este ela estava habituada, mas não significava que não a deixava intimidada a ideia de algo com mais poder sobre ela do que si mesma. Os céus rugiam, e para ela, aquilo parecia o prelúdio de desgraça. O que de trás da janela rugia, era o que poderia com seu fugaz furacão lutar, e o derrotar.
— Então você a teme? — voz trêmula, minha mente culpando minha insensatez, quebrar o canto da chuva, romper o silêncio de nossas vozes. Era amargo a boca rompê-lo. Mas não me deixei arrepender. Pude notar, dizer e ouvir, a porta para revelar a alma. Mesmo se verdades não eram a ser ditas. Eu o sabia.
— Medo de chuva? Eu? Não. Só não estou conseguindo descansar! Sua cama me faz doer as costas.— assim que fora dita a sentença, seu desespero em minhas mãos tornou palpável. Eu poderia o molestar, de tão firme, que em mim pesava. Minha coluna se pos a subir, apoiando nos lençóis jogados ao chão, pude inclinar-me para cima, onde a vi. Pois diante dos meus olhos era chegada a cena de desespero, assombrosa. A ação do causador de seu medo, era visível nela. As mãos sobre os ouvidos, como se, caso não escutasse, não saberia da existência. E então seu silêncio absoluto e velado. Uma espécime de medo de que a tempestade se materializasse em forma humana diante dela para questioná-la sobre seu medo. Apenas sua garganta movia-se, enquanto ela engolia em seco, nervosa e com receio de tudo. Dualidade, a quietude apavorante, e o grito que viera dos céus. Era a resposta que eu precisava. Mesmo a mentira. Pois dela, me era revelado sobre si. Cada vez mais alcançando a fluência. Ouvi-lá era o caminho. Algo não a permitia para mim mentir, palavras proferidas falsamente eram postas em nudez assim que saíam de sua boca, a pondo prostrada.
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A meretriz - Hilda Furacão
FanfictionAlgo sombrio, mortífero, algo atroz pairava sobre sobre aquela mulher, foi o que me contaram... Algo desconhecido por todos, uma nova força maligna, ávida pelo sangue dos homens errantes, fracos, cuja almas da salvação divina necessitavam. Pois por...