Capitulo 7

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Levantei-me e me vi de baixo do sol, o despertar do amanhecer, a iluminar a cidade de Belo Horizonte. O odor do acordar, o vento entrando pela janela aberta, o cheiro de eucalipto por ela entrava, misturado a isso, o mais açucarado doce de jabuticaba, feito pela mão de minha mãe, misturado a livros velhos que vinham de minha prateleira cercada por poeira, chegado às minhas narinas, tal cheiro era capaz de trazer alívio a minha tribulação, ao mesmo tempo que me causava espirros.

Certamente suave era a claridade penetrava o ambiente, que viera junto com a leve ventania que aliviava o calor que de meu corpo emanava, os raios solares eram agradáveis, quase consolador olhar diretamente a ele, aquele mesmo que minhas retinas queimavam quando o desafiava a olhar diretamente a ele.

O dia estava quente, sem sequer uma nuvem no céu para indicar chuva, mas ele pelo contrário, não parecia sequer pouco contente em nada ter para ofuscá-lo, pelo contrário. Tinha um que solitário em si, não era um dia repleto de ventura. Havia certa melancolia naquele que no topo brilhava em dourado para clarear e esquentar aqueles que dela necessitavam.

Hoje era chegado o dia que tanto me causava assombro, que agora vinha tirando minhas noites de sono, e o sossego de meus dias.

Era como se eu já não fosse capaz de contar as horas, os minutos, como se não fosse capaz de distinguir dia de noite, trevas e luz.

Poderia estar ensolarado, reluzindo fortemente pelo quarto.

Mas minha alma, em névoa branca pairava.

Eu andava de um lado para o outro em meu quarto, frequentemente, minhas pernas estavam a doer, mas eu já não era hábil a parar de me mover, eu necessitava andar, estava a beira de um precipício, como se por um momento Deus estivesse de costas para mim, e se eu deixasse de andar, ele nunca tornaria seu corpo para a frente, parar não me era permitido.

Prostrado a solidão, entreguei-me a angústia.

Suplicar a Deus por misericórdia já não adiantava de nada, a dias eu não tinha a conclusão que eu buscava, eu estava por ele desamparado, e por ela abandonado.

O relógio de pêndulo fazia "tic-tac", e a cada segundo que passava, minha aflição me dominava cada vez mais.

-Deus pai, eu me sinto perdido, me sinto só. Eu não sei mais o que fazer pai. Me responda Deus, eu preciso de ti! O que eu tenho feito de errado meu senhor?-

Nada era capaz de cessar o sentimento atroz que sobre mim parava, que me consumia, me engolia, devorava cada parte de meu corpo sem exitar, sobre mim deliciava-se, a alimentar-se de meu tormento.

Os tendões de meus dedos estavam doloridos, a causa disso era apertar um único sapato, negro, com brilhantes, salto fino, que aumentaria a altura dela em pelo menos sete centímetros, imaginei.

Tudo pelo que eu suplicava com todo meu âmago era de um sinal do paraíso, do reino eterno, ele me diria o que deveria ser feito! Pelas veredas do pecado ele me guiaria, meu pé não deixaria vacilar, ele me daria um caminho, e sobre seu fim, lá estaria o que eu tanto rogava.

Fui interrompido de meus pensamentos abruptamente por batidas na porta, meu coração saltou em meu peito, levei a mão sobre ele no desígnio de atenuar os batimentos descompassados, logo apressei-me em abrir a porta, era meu superior.

-Santo, bom dia. Tudo bem irmão?-

Em sua voz existia um tom gentil, apesar de sua postura indicar que ele era alguém a ser tratado com toda consagração, ele impunha respeito.

-Claro, irmão. O que vem buscar?-

-Dona Loló ligou desesperada perguntando por você. Ela queria te lembrar que é hoje a votação do projeto, e te ofereceu carona-

A meretriz - Hilda Furacão Onde histórias criam vida. Descubra agora